A exposição comemorativa dos 75 anos de Mário Viegas foi inaugurada sexta-feira (dia 3), pelas 18h30, no Fórum Actor Mário Viegas do Centro Cultural Regional de Santarém (CCRS). De seguida, teve lugar o jantar convívio ‘Viva Mário Viegas’, na Sociedade Recreativa Operária, seguido, já no Fórum do CCRS, de uma conversa sobre o actor, com as participações de Maria do Céu Guerra, Hélia Viegas, Vicente Batalha, Jorge Custódio e Nuno Domingos, que começou a “desfiar memórias e a recordar histórias” em redor de Mário Viegas.

O vereador da Cultura da Câmara de Santarém recordou o dia em que Viegas recebeu do Município de Santarém o título de Scalabitano Ilustre: “no dia da cerimónia Mário Viegas apareceu uma hora antes e pediu para ficar para o fim porque quem o iria apresentar, um tal de António Lopes Pereira, ainda não tinha chegado. Na recta final das homenagens ficou a saber-se que se tratava de António Mário Lopes Pereira Viegas, o próprio: “sou eu que vou falar sobre mim. Ninguém me conhece melhor do que eu, por isso, falo eu…”

Mário era um homem irreverente e coube à “irmã das confidências”, Hélia Viegas, continuar a desfiar as memórias do irmão: “Desde criança que ele compunha as suas histórias e as levava para férias, como nas termas de Monte Real onde criávamos espectáculos para as pessoas da pensão onde estávamos hospedados”, lembrou.

Desde muito novo que Mário Viegas começou a ler, a “treinar a voz”. Era de opinião que “as pessoas deviam ler, todos os dias, o jornal, em voz alta, durante 15 minutos.” 

“Fazia-o desde os quatro, cinco anos, aprendeu sozinho, foi relativamente fácil para ele”, notou a irmã, para quem a sua capacidade para ler poesia está bem expressa no livro que vai agora ser reeditado. Trata-se da obra ‘Mário Viegas – Auto-Photo Biografia (não autorizada)’ com pré-venda (75 euros) na página da Tradisom até sexta-feira, 10 de Novembro, data em que Mário Viegas completaria 75 anos de idade.

Depois dessa data a pré-venda passará a ser feita nas plataformas da Fnac, Bertrand, Porto Editora, Wook, e outras livrarias, mas ao preço de 95,00 euros.

Neste livro, com 276 páginas e 4 CDS com gravações inéditas, duas delas quando tinha apenas nove anos, Mário Viegas cruza-se com grandes nomes da vida cultural portuguesa, como Adriano Correia de Oliveira, José Afonso e muitos outros, numa edição limitada a 1000 exemplares.

Jorge Custódio conviveu com Mário Viegas desde a escola primária. “O Mário na infância já era um génio, era um caso à parte”, afirmou.

Por morar paredes meias com a escola, Mário, sempre irreverente, “saltava o muro de casa para entrar na escola”, recordou o historiador. 

Tinham uma “amizade sólida”, cimentada numa associação da cidade, que foi extinta pela polícia política – o Bar 4 – uma organização cultural composta por 16 jovens (14 homens e duas mulheres, entre as quais Hélia Viegas), que se afirmava “de esquerda, em completa resistência à guerra colonial e que procurava influenciar outros jovens”, salientou Jorge Custódio.

O desfiar das memórias e o contar de histórias prosseguiu com Vicente Batalha para quem Mário Viegas “é um génio completamente fora da caixa”. Conheceu-o depois de uma Comissão na Guiné.

“Uma noite apareceu-me em Pernes, num arraial e disse: “Temos de acabar com a festa para eu ir para o palco ler poesia. E fê-lo! Foi uma lição que eu aprendi”, partilhou Vicente Batalha, para quem o actor tinha a faceta de saber brincar com ele mesmo.

“Aprendi com o Mário que está nas nossas mãos mudar as coisas”, concluiu, passando a palavra a Maria do Céu Guerra para quem Mário Viegas foi “uma grande paixão enquanto artista”. 

Conheceu o “miúdo com grandes olhos” nos degraus de acesso aos camarins do Teatro Experimental de Cascais (TEC): “Perguntei-lhe: O que estás aqui a fazer? Vim falar com o Carlos Avilez – respondeu. Avilez viu nele “um jovem com um feitio cómico muito bom”. 

“Mário Viegas tinha paixão e trabalho e tinha-as de uma forma incendiária dentro de si”, partilhou a actriz. Ele conhecia a poesia portuguesa de fio a pavio, era irreverente e “o mundo só avança com pessoas assim, que expõem ao ridículo aquilo que é ridículo e elogiam o que é de elogiar,” frisou Maria do Céu Guerra.

Foi ainda referida a sua passagem pela “tropa que odiava”, com novos episódios rocambolescos vividos pelo actor.

“Era um herói frágil que tinha medo, só que o medo não o fazia recuar, fazia-o avançar”, sublinhou Maria do Céu que elogiou a honestidade, o “ser generoso” do diseur e garantiu que ainda não encontrou um actor com quem se entendesse melhor. “Havia cumplicidade”, notou.

Mário Viegas vai ser agraciado, a título póstumo, com a distinção ‘Ilustre Amigo do CCS’, este sábado, dia 11, às 17 horas, no Círculo Cultural.

Na sexta-feira, 17 de Novembro, às 18h30, o Bar Galeria do Teatro Sá da Bandeira vai servir de palco à apresentação do Livro ‘Bernardo Santareno | 100 anos, Percursos & Documentos’. 

O mês dedicado a Mário Viegas e a Bernardo Santareno culmina com o estendal de poemas – Mário ‘O dizedor’, no dia 23 de Novembro, às 21h30, no Círculo Cultural Scalabitano, com a participação dos alunos do Curso de Artes do Espectáculo da Escola Secundária Ginestal Machado e com a peça ‘PIM!’, com encenação de Pedro Oliveira, a partir do Manifesto Anti-Dantas, de Almada Negreiros, no dia 30 de Novembro, às 21h30, na Sociedade Recreativa Operária.

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