A ginástica sueca foi criada pelo militar e instrutor de esgrima Pehr Henrik Ling (1776-1839). Este aprofundou os conhecimentos que aprendeu com o chinês Ming nomeadamente a prática de artes marciais e do “tui na”, desenvolvendo um método de ginástica dividido em quatro partes: pedagógico, médico, militar e estético. A ginástica sueca pretendia contribuir para uma educação integral das crianças, preparar os militares para a guerra e desenvolver o sentido estético através de um fortalecimento do corpo e correcção de defeitos físicos. Um corpo saudável obtinha-se através da ginástica e de exercícios de reflecção.

No final do século XIX, o Colégio de S. José, dirigido pelo padre Veríssimo Henriques e situado junto à rua Guilherme de Azevedo, aplicou no seu currículo escolar a ginástica sueca, a cargo do professor Benjamim Jardim. A 14 de Junho de 1908, o referido Colégio organizou na sua cerca uma parada de ginástica sueca onde, ao som da Banda de Caçadores 6, dirigida pelo maestro Antunes, participaram “32 alunos trajando o seu uniforme de ginástica: calça preta, gorro e camisola listrada de azul e branco, produzindo belo efeito. Era imponente o aspecto marcial dos alunos que evolucionam admiravelmente e sem hesitação, obedecendo às vozes do comando do incansável professor Benjamim Jardim. (…) Após alguns instantes de descanso, avançam 20 alunos que executam diferentes exercícios de conjunto, tão correctos e precisos que causou na assistência indescritível entusiasmo (…) Em seguida, 12 alunos, maiores de 16 anos, executam vários exercícios, também de conjunto (…) O aluno Alfredo Rodrigues deu com bastante correcção e elegância magníficos saltos à vara atingindo a altura de 2, 40 metros (…) foi armado o trampolim, fazendo-se saltos de uma correcção extraordinária, atingindo-se a altura de 2,10 metros, pelo que foram alvo de uma delirante ovação os alunos Alfredo Rodrigues, Martinho Mendanha e António Baptista. A luta de tracção também causou bastante interesse e entusiasmo” (CE, 20/6/1908, p. 4).

Apesar desta parada envolver cerca de 1000 assistentes, a ginástica sueca continuava arredada dos estabelecimentos de ensino da cidade e dos Asilos de Santo António e da Misericórdia.

A 31 de Janeiro de 1909, decorreu, no teatro Rosa Damasceno, uma palestra sobre Educação Física, proferida pelo médico Júlio Montez. Este referiu alguns dos problemas da sociedade portuguesa como a falta de higiene, a ignorância, a miséria, o reduzido investimento na educação e a falta de apoio aos mais pobres, especialmente às grávidas, contribuindo para o enfraquecimento e morte dos seus filhos. Segundo o médico, a grávida rica também prejudicava os filhos ao recusar-se a amamentá-los por vaidade, preferindo recorrer aos serviços de amas, muitas vezes mal alimentadas e portadoras de doenças. Também criticou o pouco investimento dos Governos na educação das crianças que, por vezes, frequentavam escolas pouco atractivas, sem condições de higiene, luz, água e cantinas, com pouco material escolar e total ausência de inspecções ou de médicos escolares. A escola do início do século XX, “cultiva o espírito e vai prejudicando o físico”. Para o palestrante, sendo o raquitismo uma doença predominante entre a população estudantil, não se compreendia que a escola não investisse na prática de ginástica sueca quer a rapazes quer a raparigas, considerando a “lei que determina o uso da ginástica nos liceus, colégios e esclas e mostra como as crianças das nossas escolas não podem utilizar-se dos seus benefícios enquanto não houver cantinas” (CE, 6/2/1909, p. 4). No final da palestra, ao som da Banda dos Bombeiros, decorreu uma sessão de ginástica sueca por parte de 15 raparigas e 19 rapazes. Também se exibiram os 30 alunos do professor Benjamim Madeira que frequentavam o Colégio de S. José.

Em Março de 1909, as aulas de ginástica sueca que funcionavam no ginásio do Colégio de S. José, continuavam a ser concorridas, especialmente por aconselhamento médico, tendo aumentado o número de alunos para 42, de ambos os sexos. Muitos desses discentes eram provenientes das famílias de elite da cidade como o comprova a inscrição de Maria Angélica Martins Pitta, Sabá Silva Caldas, Ramiro Caldas, Raul Carvalho e Francisco José de Figueiredo. As aulas destinadas às raparigas decorriam às segundas, quartas e sextas-feiras, enquanto os sábados, terças e quintas-feiras se destinavam aos rapazes. O Colégio mantinha inscrições para alunos de ambos os sexos a partir dos 7 anos.

No ano lectivo de 1909-1910, o número de alunos estava reduzido a 14 raparigas e 6 rapazes, pois “reconhecida a existência de muitas crianças raquíticas, não se pode futurar até que ponto chegará a degenerescência das nossas sucessoras gerações, se não houver o cuidado de atender ao desenvolvimento físico pelos preceitos modernos como é a ginástica sueca. Oxalá que em breve possamos registar grande concorrência de alunos de ambos os sexos, terminando assim a relutância de mandar educar as crianças, para o que existe no colégio de Santarém um amplo ginásio, cheio de ar e luz, além de um vasto recinto onde elas cultivam jogos e outros meios educativos, sob a direcção do respectivo professor” (CE, 11/12/1909, p. 2).

Nesse período, “também foi ministrada com regularidade a instrução aos 150 alunos do Liceu Nacional de Santarém, aguardando-se a inspecção sanitária para serem determinados os exercícios de ginástica sueca” (Idem).

Teresa Lopes Moreira  

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