O proTEJO considerou que o ministro do Ambiente e Ação Climática, João Matos Fernandes, deve exigir explicações à sua homóloga espanhola devido à poluição de cianobactérias no rio Tejo, que tem origem em Espanha.

O movimento cívico denuncia ainda a necessidade de se proceder a uma queixa à Comissão Europeia.

“O proTEJO constatou hoje que bloom de algas [cianobactérias] identificado pela APA [Agência Portuguesa do Ambiente] na albufeira de Cedillo no dia 07 de Outubro, que já provinha da barragem de Alcântara, ambas em Espanha, já chegou à barragem do Fratel e irá progredir contaminando todo o rio Tejo a montante da barragem do Fratel”, alerta em comunicado.

De acordo com a proTEJO, João Pedro Matos Fernandes deve exigir esclarecimentos à ministra espanhola da Transição Ecológica, Teresa Ribera, uma vez que a “situação constitui um agravamento adicional do estado ecológico das massas de água do rio Tejo em Portugal em incumprimento da Convenção de Albufeira”.

Para o Movimento Pelo Tejo, deve ser obrigatório garantir o bom estado ecológico das massas de água fronteiriças e transfronteiriças.

“[…] As condições de temperatura e luminosidade elevadas, que se observaram nos meses de Verão, em que estas barragens [Alcântara e Valdecañas] armazenavam pouca água em resultado do seu esvaziamento artificial, criaram as condições propícias à proliferação deste ‘bloom’ de algas”, adiciona.

A proTejo recorda que o ‘bloom’ de algas resulta também da “concentração elevada de nutrientes”, nomeadamente o fósforo, depositados nas albufeiras da Extremadura espanhola Azutan, Torrejon, Valdecañas, Alcantâra e Cedillo, “em resultado décadas de descargas de águas residuais sem adequado tratamento e das escorrências de fertilizantes agrícolas”.

Por isso, o movimento cívico considera que devem ser reforçados “os fundamentos para apresentar uma queixa à Comissão Europeia contra os governos de Portugal e Espanha assente no incumprimento da Diretiva-Quadro da Água, por permitirem uma gestão das barragens para a produção hidroeléctrica com critérios meramente economicistas de maximização do lucro que causa uma deterioração adicional do estado ecológico das massas de água do rio Tejo”.

O incumprimento, por parte dos dois países, “impede que se alcancem os objectivos ambientais do n.º 1 do Artigo 4.º da DQA [Diretiva-Quadro da Água] ao não assegurar um “regime hidrológico consistente com o alcance dos objectivos ambientais da DQA em massas de águas superficiais naturais” como decorre do documento de orientação nº 31 “Caudais ecológicos na implementação da Diretiva-Quadro da Água”, acrescenta.

No passado sábado, o proTEJO anunciou em Abrantes que iria apresentar uma queixa à Comissão Europeia contra Portugal e Espanha por “má gestão” da água da bacia do Tejo, tendo afirmado que o rio está “refém” dos interesses económicos das hidroeléctricas.

“O que está aqui em causa é que esta gestão feita pelas hidroeléctricas espanholas e portuguesas de maximização do lucro e variabilidade dos caudais, que prejudica os ecossistemas, vai contra a Diretiva Quadro da Água que diz que não pode haver uma deterioração adicional do estado das massas de água, e também que deve haver um regime hidrológico – portanto caudais ecológicos – que garantam o bom estado ecológico das águas, e isto está também num documento de orientação da Comissão Europeia”, disse à Lusa Paulo Constantino, porta-voz do proTEJO – Movimento pelo Tejo, à margem de um debate sobre caudais no rio Tejo que decorreu em Abrantes (Santarém).

Segundo o dirigente ambientalista, “a inexistência de caudais ecológicos regulares e a qualidade da água estão intimamente relacionados, situação que vai contra a Diretiva Quadro da Água e que consubstancia a queixa que vamos apresentar à Comissão Europeia por má gestão da água na bacia do Tejo”, a par da denúncia de “projectos nacionais que se virem contra a estratégia europeia para a biodiversidade, e que prevêem a construção de açudes e barragens, quando na Europa se quer a remoção de barreiras em 25 mil quilómetros de rios”.

A solução para o problema, defendeu Paulo Constantino, está em “cumprir os estabelecidos caudais ecológicos regulares no rio Tejo, contínuos e instantâneos, medidos em metros cúbicos por segundo (m3/s), e respeitando a sazonalidade das estações do ano, ou seja, maiores no Inverno e Outono e menores no Verão e Primavera, por oposição aos caudais mínimos negociados politicamente e administrativamente há 23 anos na Convenção de Albufeira sem se concretizar o processo de transição para o regime caudais ecológicos que essa mesma Convenção prevê”.

Leia também...

Alcanena cria parceria para valorização do rio Alviela

A Câmara de Alcanena vai assinar, na quarta-feira, um protocolo para a…

Águas de Santarém investe cerca de 100 mil euros na melhoria da rede de abastecimento

A empresa municipal Águas de Santarém vai investir cerca de 100 mil…

Qualidade do Ar em Santarém “cumpre todos os parâmetros”

A Câmara Municipal de Santarém apresentou na tarde do passado dia 20…
Foto de Arquivo

Remoção de barreiras fluviais obsoletas bate novos recordes em 2022

Pelo menos 325 barreiras fluviais obsoletas foram removidas na Europa em 2022,…