Para o conceituado ‘chef’ Ribatejano, Rodrigo Castelo, o Natal é sinónimo de família reunida, presentes sob a árvore e ceia farta na mesa. E, claro está, os cheiros, paladares e truques que aprendeu em pequeno entranharam-se de tal forma que ficaram gravados naquilo que, ainda hoje, confecciona. Viajámos, então, pelas suas recordações e resgatámos um passado feliz que influenciou um futuro de sucesso.

O Natal é sempre uma óptima ocasião para juntar família e amigos e, assim, criar memórias futuras. Uma das preferidas do chefe Rodrigo Castelo, enquanto criança, era o momento em que a avó fazia os sonhos de abóbora, ajudada pela irmã. Iguaria essa que continua a adorar.

“A minha avó batia a massa na pedra mármore: a minha irmã ajudava também. Punham depois a mistura em alguidares, debaixo dos cobertores, para levedar. Ainda hoje sinto aquele cheiro da abóbora e das massas e dos fritos de Natal”, começa por recordar ao Correio do Ribatejo.

“O Natal tinha todo um encanto, que, confesso, continua a ter. Agora também sou pai. A quadra, além de ser muito para a família é muito mais para as crianças”, considera

À mesa da consoada em casa de Rodrigo Castelo, no dia 24, este ano, não vai faltar o “clássico” bacalhau, assim como uns “cachaços de bacalhau”, tradição da família. Tudo acompanhado pelos “bons enchidos e queijos da região”, e regado com bom vinho, claro está, também do Ribatejo.

“Digo muitas vezes que sou muito patriota, mas que sou ainda mais ribatejano. Tenho muito orgulho de que o meu nome seja associado ao Ribatejo, que se tenha começado a falar mais sobre a nossa gastronomia e que haja interesse por conhecer ainda mais. A Taberna Ó Balcão tem procurado recriar receitas regionais, com particular foco nas matérias-primas do distrito de Santarém”, declarou.

Esta é uma noite em que o ‘chef’ tem folga da cozinha e se dedica a supervisionar: “confesso que não sou eu a confeccionar a ceia. Costuma ser sempre a parte da família do meu cunhado. O Natal em minha casa é muito direccionado para as crianças e feito em família. Mas também para os amigos. No dia 25, ao almoço, temos o cabrito e, à noite, já é uma mesa maior”, revela.

Uma mesa maior porque, desde a sua adolescência, realiza aquilo a que a família designou, por brincadeira, do “Natal dos sem abrigo”: “os amigos juntavam-se a mim e, depois do jantar, íamos sair à noite para Lisboa”, conta, com um sorriso.

“Eu vivia num apartamento com os meus pais e aquilo era giro. A mesa ia desde a sala até à cozinha, passando pelo corredor. Éramos mais de 20 pessoas. Alguns já não estão entre nós, inclusive o meu pai. O meu pai deixou-nos no dia 22 de Dezembro… Mas, ainda assim, o Natal em nossa casa não deixou de se fazer. Cumprimos a tradição, celebramos a vida e os bons momentos. Acaba por ser uma época festiva porque temos crianças e temos que festejar. E o meu pai era uma pessoa bastante feliz…”, recorda ainda.

De tal forma que a tradição repete-se: no dia 25, os “sem abrigo” continuam a juntar-se, “agora com as respectivas mulheres e filhos”. “É muito giro e é ainda maior. Já não fazemos cabrito e passamos a fazer capado. Acaba por ter também bacalhau da véspera. Os amigos acabam por trazer mais coisas e mais uns vinhos”, revela, com um sorriso.

Rodrigo Castelo recorda ainda o entusiasmo que sentia em relação aos presentes: “em minha casa, sempre soubemos, desde miúdos, que havia as prendas dos amigos, dos pais, e as prendas do Pai Natal. Os meus pais deixavam as prendas do Pai Natal para o dia seguinte e as prendas dos amigos para o dia 24, por volta da meia-noite. Nós deixávamos o leite e as bolachas para o Pai Natal, e acordávamos muito animados para ir ver as prendas que quase sempre eram aquelas que mais queríamos”.

“O Natal lá em casa é uma época de receber amigos, uma época muito importante para nós, para passar em família”, reforça Rodrigo Castelo que começou, precisamente, nestas lides culinárias sob influência do pai.

“Influenciado pelo meu pai comecei cedo a “pôr a mão na massa” e a fazer petiscos nestas tertúlias. Daí a sonhar que algum dia iria fazer deste meu prazer uma profissão vai uma longa distancia. Mas a verdade é que a vida me proporcionou a oportunidade de, em 2013, inaugurar a Taberna Ó Balcão após ter sido despedido da indústria farmacêutica. E assim descobri que é na cozinha, na procura de sabores, produtos e produtores e na recuperação de Receitas antigas que me sinto realizado”, referiu ao Correio do Ribatejo.

Rodrigo Castelo tem somado prémios e distinções e, recentemente, o seu restaurante Taberna “Ó Balcão”, em Santarém, foi um dos seis distinguidos com a categoria ‘Bib Gourmand’ no Guia Michelin Espanha e Portugal 2020.

A categoria ‘Bib Gourmand’ tem em conta a boa relação qualidade/preço do restaurante distinguindo aqueles que oferecem refeições de elevada qualidade a um preço reduzido.

“Seria falsa modéstia da minha parte dizer que ” foi só mais um prémio”. Nós trabalhamos muito para isto. Trabalhamos para ser melhores todos os dias e é um orgulho para nós. E sei que as pessoas de Santarém também ficaram contentes com este prémio”, afirmou.

Questionado pelo Correio do Ribatejo sobre se ambiciona, um dia, receber uma Estrela Michelin, Rodrigo Castelo é peremptório: “não vivo obcecado com isso, mas seria uma falsa modéstia da minha parte dizer que não quereria um dia chegar lá. Faz parte do percurso de um cozinheiro. A estrela, para um cozinheiro, é a Liga dos Campeões. Agora, também temos que saber em que campeonato jogamos e se podemos chegar lá ou não… Será certamente muito difícil chegar lá… Mas não é impossível”.

Oficinas de cozinha como meio de integração

Este ano, Rodrigo Castelo está também a abraçar um desafio diferente: está a desenvolver “oficinas de cozinha” para utentes do serviço de Psiquiatria do Hospital de Santarém (HDS), num projecto designado “In_Cooking”.

Estas oficinas visam proporcionar “um ambiente de criatividade, partilha e crescimento pessoal, através da aquisição de competências técnicas de culinária com receitas saudáveis.

Sob a orientação do ‘chef’ Rodrigo Castelo”,o projecto vai permitir a meia centena de utentes frequentarem estas oficinas que visam autonomizar os seus utentes e de promover a inclusão e a redução do estigma associado à doença.

“Esse é o projecto que mais me enche o coração e o que a mim, desde que sou cozinheiro, que me deixa mais feliz”, declarou ao nosso jornal.

“Aqui posso fazer algo sem pedir nada em troca, mas venho de lá de coração cheio. Ver as pessoas felizes é uma grande recompensa. Quando estás a cozinhar para alguém no teu restaurante olhas para as pessoas e a reacção é imediata. Ali, estás a cozinhar com outras pessoas, a ensinar pessoas a cozinhar e a ajudar pessoas a terem novas dinâmicas. E é gratificante verificar que estão realmente felizes”, declarou.

Segundo referiu, o projecto surgiu da percepção de que a aprendizagem de culinária era uma necessidade dos utentes, alguns dos quais vivem com familiares envelhecidos e outros sozinhos, muitas vezes recorrendo às cozinhas sociais.

Com esta iniciativa, a equipa quer “contribuir para a promoção da autonomia, o aumento da auto-estima, a diminuição da ansiedade, a inclusão social, o combate ao estigma da doença mental e a aquisição de competências capazes de proporcionar oportunidades de inserção laboral”.

A exemplo do que tem acontecido nos outros projectos do departamento de psiquiatria do HDS, os grupos que vão integrar o “In_Cooking” são compostos por utentes do serviço e por membros da comunidade identificados como estando em situação de exclusão.

O projecto prevê a criação de seis grupos, cada um deles constituído por oito elementos (seis utentes e dois membros da comunidade), durando cada oficina seis semanas, seis horas por semana (em duas sessões).

Sendo promovido por uma associação criada para estes fins, a r. INSERIR – Oficinas para Todos e para Cada Um, o projecto conta com as parcerias do HDS, da Câmara Municipal de Santarém, da Casa de Pessoal do Hospital de Santarém, das Escolas Superiores de Saúde, de Gestão e Agrária, do IPS, da Escola Profissional Vale do Tejo e de várias empresas.

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