A feliz expressão popular “amigos, amigos, negócios à parte” aplica-se a várias vertentes da vida em sociedade.
Já aqui abordei as dificuldades, inatas ou adquiridas, que alguns titulares de cargos públicos têm em perceber que quando gerimos dinheiros dos contribuintes devemos sempre, mas sempre, ter como pano de fundo os princípios da legalidade, da prossecução do interesse público, da imparcialidade, da proporcionalidade, da concorrência, da publicidade, da transparência, da igualdade de tratamento e da não-discriminação.
Isto valendo, mesmo quando a lei permite adotar procedimentos adjudicatórios fechados em função do valor em causa, como o ajuste direto ou a consulta prévia.
Ora, os amigos batem à porta do gabinete do gestor público com pretensões e interesses – naturalmente privados e egoísticos – devendo obviamente os servidores públicos – pagos para gerir
dinheiros públicos – recusar qualquer tratamento de favor e remeter o tratamento do assunto para os procedimentos apropriados.
Num País onde a chamada cunha prevaleceu durante séculos na resolução dos problemas e no qual sempre há alguém que conhece alguém, a imunidade do funcionário ou do dirigente público às pressões do amigo, do vizinho, do conhecido, da mulher do patrão, do cunhado, do primo ou do colega implica características da personalidade e formação adequadas.
Não é fácil, quando as pessoas investidas em tais postos se fascinam com as trocas de favores, o dinheiro e o poder ou hipervalorizam o protagonismo social.
Outra implicação do postulado “amigos, amigos, negócios à parte” é a normal cobrança dos honorários pelo trabalho devido, ainda que a relação da prestação de serviços se estabeleça entre pessoas unidas por algum tipo de relação pessoal ou familiar.
É óbvio que o espírito de liberalidade pode estar presente, em qualquer domínio. Todavia, não me parece curial, pura e simplesmente, esperar do amigo o esforço da sua habitual atividade profissional, não lhe perguntando, no final, “quanto devo?”
Não me parece que se devam misturar supostas provas de amizade com a atividade profissional.
Ou com os negócios em geral… muitos amigos se perdem, aliás, desta forma. Outra dimensão, totalmente diferente, consiste na altruística dádiva das qualidades laborais de cada um, num plano de voluntariedade, em associações, eventos, ações humanitárias e outras manifestações plenas de generosidade, sempre bem-vindas em qualquer comunidade.
Tantas vezes entre amigos para a vida. Um bom exemplo deste altruísmo fundado na amizade é o trabalho anualmente prestado pelas dezenas de voluntários que contribuem com o seu esforço – e qualidades profissionais – para a concretização do Festival Celestino Graça – A Festa das Artes e das Tradições Populares do Mundo, que acontece por estes dias e ao qual desejamos o maior sucesso.