Por ironia do destino, as comemorações do centenário do nascimento de Bernardo Santareno foram gravemente prejudicadas por um grave problema de saúde pública. Na verdade, a Covid 19 obrigou a cancelar ou adiar sine die diversos eventos e elevou a que muitos eventos que ainda assim foi possível realizar não tivessem o número de participantes que teriam certamente noutras circunstâncias. E como um mal nunca vem só, Fernanda Lapa, a encenadora, atriz e amiga de Bernardo Santareno que foi a maior impulsionadora do centenário, deixou de estar entre nós.

O centenário de uma personalidade como Bernardo Santareno merece uma comemoração nacional condigna. A capacidade de iniciativa de Fernanda Lapa levou a que se tivesse constituído uma Comissão de Honra das comemorações que integrou as mais altas figuras do Estado entre muitas outras personalidades da vida cultural e cívica do nosso país, e que tive modestamente a honra de integrar. Para além disso, foi programado um vasto conjunto de iniciativa que teve o seu início com uma notável conferência realizada na Fundação Calouste Gulbenkian.

Com a pandemia a ensombrar as nossas vidas a partir de março, muito foi prejudicado. A própria Assembleia da República, que aderiu às comemorações, tinha previsto uma representação do Crime de Aldeia Velha no Palácio de São Bento pelo Teatro Experimental do Porto que teve de ser adiada. Mas houve ainda assim quem não tivesse desistido. A Companhia de Teatro Escola de Mulheres levou à cena a última obra de Santareno, O Punho, com lotações esgotadas; a RTP estreou uma série baseada no Lugre, Terra Nova, de enorme qualidade; o Teatro Nacional Dona Maria II promoveu no passado fim de semana uma leitura de textos de Santareno sob a direção de Rui Mendes e certamente outras iniciativas tiveram lugar.

E em Santarém, houve quem não desistisse. Sem querer ser injusto para muitas personalidades destacadas da vida cívica e cultural santarena que bem mereciam ser referidas pelo seu empenhamento nas comemorações, traduzido em múltiplas e diversas iniciativas, permito-me salientar, e sinceramente agradecer, a ação incansável de Vicente Batalha.

E finalmente, mas não menos importante, saliento a magnífica obra historiográfica sobre Bernardo Santareno da autoria de José Miguel Correia Noras que ficará a marcar indelevelmente as comemorações do centenário e a quem se deve a ideia de atribuir o nome de Bernardo Santareno ao Hospital de Santarém, iniciativa que pude subscrever com a apresentação pelo PCP na Assembleia da República de um projeto de resolução com esse objetivo, obtida a prévia anuência do autor da ideia.

António Martinho do Rosário, dramaturgo ímpar do Século XX Português, médico de profissão e por devoção, resistente antifascista, e santareno, merece ficar assinalado em letras maiores na cidade que lhe deu o nome literário.

António Filipe – Deputado do PCP eleito por Santarém

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