Ana Luísa Silva, Educadora de Infância natural de Coruche lançou, em finais de 2020, o livro “Onde está o abraço?”, que retrata a história da pequena Maria que, de um dia para o outro, se depara “com o nada e com o silêncio e é obrigada a ficar em casa para se proteger”. “Em tempo de pandemia, empurrada para dentro de casa, esta história surge como resultado disso mesmo, da falta dos “meus” abraços, do estar longe das minhas pessoas”, descreve a autora nesta entrevista que confessa que a escrita de histórias infantis permite-lhe conservar a sua criança interior, “ter os pés e cabeça nas nuvens, viajar pelo mundo maravilhoso e mágico da Imaginação!”.
Lançou em 2020 o livro “Onde está o abraço?” O que a inspirou e o que é que retrata o livro?
Em tempo de pandemia, empurrada para dentro de casa, esta história surge como resultado disso mesmo, da falta dos “meus” abraços, do estar longe das minhas pessoas … o meu avô de 90 anos que não vejo há tantos meses, o abraço dos meus pais que apenas passado um mês consegui dar… dos abracinhos dos pequenotes da minha sala…
A primeira vez que saí de casa foi para ir ao supermercado, após estar duas semanas em casa, a minha vontade era abraçar todas as pessoas com que me cruzei nesse dia, muitas delas eram desconhecidas… e assim nasce ‘Onde está o Abraço?’ É uma história simples para crianças e não só, é uma história que incide na importância de algo tão simples como um ABRAÇO, mas que afinal faz tanta falta na nossa vida…
O que representa para si a escrita e, em particular, a escrita para crianças?
Como profissional de educação defendo que a formação de leitor começa muitos antes de se começar a ler ou escrever, e por isso mesmo o contacto das crianças com o Livro deve começar o mais cedo possível… e todas as experiências que possam ter relacionadas com os livros e as histórias são muito importantes para o seu percurso de aprendizagem… antes de se ler ou escrever é importante estimular o gosto pelo livro, o respeito, estimular gosto pelas histórias.
Em que altura da sua vida descobriu essa vocação?
Desde criança que sempre me relacionei melhor com as letras do que com os números, desde cedo que gostava de escrever composições. Em adulta, o meu caminho profissional veio estimular esse gosto pois para mim as histórias são recursos muito importantes para os projectos que desenvolvo com as crianças. Como educadora comecei a escrever histórias sobre temas que estava a desenvolver com os grupos, adaptando-as à nossa realidade. Por exemplo, aquando da Feira Internacional da Cortiça em Coruche escrevi uma história sobre a cortiça por ser um elemento que faz parte do nosso Meio.
Como é o seu processo criativo?
Nas histórias que escrevo como educadora para utilizar com o meu grupo de crianças tenho como ponto de partida o tema que vamos desenvolver.
No caso da história ‘Onde está o Abraço?’ A base foi a própria vivência que todos estávamos a viver devido ao confinamento, mas foi uma história que consegui passar para o papel muito rapidamente e por isso mesmo a personagem principal, a Maria, tem muito de mim, da criança que fui e da vivência que eu própria estava a ter naquele momento.
Tem algum tema predominante nos seus livros?
Eu prefiro temas que envolvam as emoções, o Estar, o Sentir; gosto de temas que me permitam “brincar” com as palavras; gosto muito de sair do mundo real e ir para o mundo da Imaginação onde o céu pode ser verde, ou as nuvens terem o sabor do algodão doce…
Que livros é que a influenciaram como escritora?
O Nabo Gigante de Aleksei Tolstoi é dos meus preferidos porque a nível profissional permite-me desenvolver várias áreas de conteúdo com as crianças, mas de um modo lúdico.
Também gosto muito de uma história tradicional que a minha avó me contava “Corre, corre cabacinha” por ser uma história que me leva à minha infância.
Tem outros projectos em carteira que gostaria de dar à estampa?
Eu sou uma privilegiada pois profissionalmente desenvolvo um projecto, um grande Amor da minha vida, que me permite percorrer o caminho que acredito para a Educação de Infância, um caminho em que as crianças são as protagonistas do seu percurso de Aprendizagem que se desenvolve no meio de que fazemos parte, a nossa linda vila de Coruche, e em que temos como principais parceiros, as famílias que são parte integrante de um projecto em que o lema é ‘Todos Juntos Crescemos Mais Felizes!’ Mas há sempre novos desafios, e estamos perante um mundo tão diferente que exige que nós profissionais de educação não façamos mais do mesmo, mas que tenhamos a capacidade de nos adaptar de forma a proporcionar vivências enriquecedoras para as nossas crianças, porque as crianças têm Direito à sua infância… têm direito a serem Crianças.
Um título para o livro da sua vida?
A que sabem os Sonhos?
Viagem?
Nova Iorque.
Música?
Recantiga de Miguel Araújo.
Quais os seus hobbies preferidos?
Eu gosto de correr, sou aquela pessoa nunca fez desporto e encontrei na corrida o “escape”; correr é sair da minha zona de conforto, mas é onde encontro o meu equilíbrio … o marco: a minha primeira (e única) Meia Maratona que conclui e provei mais uma vez a mim mesma que com Trabalho; teimosia e Querer tudo é possível.
Se pudesse alterar um facto da história, qual escolheria?
Apagava da história estes dois últimos anos em que o Covid pôs o “mundo de pernas para o ar”, tirou-nos a liberdade, empurrou-nos para dentro das nossas casas, roubou parte da infância das nossas crianças…
Se um dia tivesse de entrar num filme, que género preferiria?
Romântico (sou uma lamechas).
O que mais aprecia nas pessoas?
A sinceridade, gosto de pessoas emocionais, gosto de pessoas simples e verdadeiras que valorizem mais o interior do que o exterior, gosto dos que estão sempre e que sabemos que haja o que houver podemos sempre contar com elas (as nossas pessoas colinho).
O que mais detesta nelas?
Não gosto que quando chegamos lá apareçam, mas que no caminho até Lá chegar nunca tenham sequer oferecido um abraço, ou aquele “vais conseguir”.