Maria de Fátima Vasques, docente e coordenadora da Equipa de Imagem e Comunicação Externa da Escola Ginestal Machado, fala, nesta entrevista ao Correio do Ribatejo, sobre os desafios do arranque do novo ano lectivo, a integração das novas tecnologias nas salas de aula e o papel fundamental da inclusão dos alunos não falantes de português, destacando o envolvimento de toda a comunidade escolar no processo educativo.

Quais são, na sua opinião, os maiores desafios que os docentes enfrentam no arranque deste ano lectivo? Há alguma mudança significativa em comparação com anos anteriores?

Os desafios, que se colocam no arranque do ano lectivo 24/25, não são muito diferentes dos que se colocaram nos anos anteriores. A Escola é sempre o lugar, desde logo, onde se ensina e se aprende. Partindo desse pressuposto, são os docentes e os alunos que, no imediato, se envolvem nesse objectivo, mas sempre e cada vez mais envolvendo toda a comunidade escolar, toda a sociedade! Actualmente, temos, assim, o desafio de sermos capazes de envolver todos, numa base de colaboração e de confiança, de forma a educar e formar cidadãos hoje para o futuro. 

O governo implementou recentemente a medida de limitar o uso de telemóveis nas escolas. Como vê esta decisão do ponto de vista pedagógico? 

A questão dos telemóveis, na minha opinião, não é “uma questão”, a partir do momento em que sejam vistos como mais uma ferramenta de trabalho, nomeadamente, como suporte pedagógico. Contudo, tenho reservas relativamente aos mais novos. 

Como docente, sente que os alunos estão preparados para o ambiente cada vez mais digital das aulas? Quais são as maiores dificuldades que enfrenta na integração das novas tecnologias na sala de aula?

Os suportes digitais fazem hoje parte integrante da aquisição de competências e de capacidades. São uma mais-valia, mas têm de ser adequados às necessidades dos alunos e integrarem a sua formação. Não fará sentido que a utilização dos mesmos não seja acompanhada para fomentar um outro lado dos muitos saberes exigidos nos dias de hoje, que não se limite aos jogos, às redes sociais e à sua utilização, digamos, embora com reservas, apenas lúdica. As questões que se nos colocam são muitas e os sinais de alerta devem ser considerados, quando verificamos a incapacidade de fazerem uma tarefa de pesquisa, por exemplo, ou saberem compor um texto em word ou, ainda, escreverem um email.

A inclusão é um dos temas centrais nas escolas actualmente. De que forma os professores estão a ser preparados para lidar com alunos de diferentes perfis, necessidades e realidades sociais? Que apoio adicional acha necessário?

Um grande desafio que temos em mãos é a inclusão dos alunos não falantes de língua portuguesa e que são integrados nas turmas existentes. No ano lectivo anterior, o Agrupamento Dr. Ginestal Machado ofereceu, em regime de voluntariado, aulas de aprendizagem da língua portuguesa junto de famílias migrantes. Este ano, a candidatura do agrupamento ao PLA, Português Língua de Acolhimento, de acordo com o QECRL, foi aceite, e as turmas funcionarão em regime pós-laboral.  É de realçar que cerca de 470 alunos, oriundos de 31 países diferentes, frequentam as escolas do agrupamento.  A integração das famílias e dos seus educandos através da aprendizagem da língua portuguesa é muito importante para melhor alcançarmos os objectivos traçados.  

A oferta de escola que promova a equidade é fundamental. Os clubes, os projectos de inovação e desenvolvimento, a inclusão europeia através do Eramus+, a cooperação com os parceiros sociais, com as unidades de saúde familiar, as salas de estudo, os gabinetes de apoio para a preparação dos exames nacionais, os centros de estudo, o acompanhamento em gabinete de Psicologia, entre outros, são cruciais para o sucesso educativo.

Efectivamente, a escola “parou” nos anos 60, e mesmo captando o centro tecnológico, o espaço físico não acompanha as exigências da modernidade.

Com o aumento da pressão e das exigências sobre os docentes, sente que existe uma preocupação suficiente com o bem-estar dos professores? O que poderia ser feito para melhorar esse apoio?

A pressão existe em todas as profissões e a de professor não é diferente. Ainda que seja verdade que o trabalho docente ‘após’ aulas seja feito maioritariamente em casa, essa realidade poderia melhorar se os edifícios escolares tivessem planeado gabinetes de trabalho para esse efeito. Assim, o que existe são adaptações para ir ao encontro de um maior conforto de trabalho, até com os pares. 

O que espera deste ano lectivo em termos de desempenho dos alunos e que mensagem lhes quer transmitir?

O ano lectivo acompanha sempre um momento de esperança em fazer a diferença, em alimentar o cidadão de amanhã, em acreditar que a mudança é sempre possível. Assim, a escola será, para todos, sempre, um lugar de dedicação, empenho, resiliência e de afectos. Esta é a mensagem que deixamos para todos.

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