Entrevista a Vladimiro Matos, Secretário da Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto.

A história do movimento associativo popular, nas áreas da Cultura, Desporto, Lazer e Social, é vasta e rica. Existem, no País, várias associações com mais de 200 anos em pleno funcionamento. Hoje, serão mais de 33.000, envolvendo 450.000 voluntários benévolos, fazendo um trabalho sem paralelo. Em vésperas das comemorações de mais um Dia Nacional das Associações e Colectividades, assinalado a 31 de Maio, o Correio do Ribatejo entrevistou Vladimiro Matos, Secretário da Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto, que nos dá nota da grave situação em que as associações se encontram e das dificuldades com que se deparam para retomar as actividades e objectivos estatutários, fruto de uma paralisação quase total de cerca de um ano devido à pandemia de Covid-19. “O impacto tem sido brutal”, assume Vladimiro Matos, estimando prejuízos acima dos 40 milhões de Euros no sector. Nesta fase, o dirigente afirma ser fundamental “desconfinar as colectividades” a exemplo de outros sectores de concentração de pessoas, “mantendo o devido cumprimento das regras sanitárias”. O responsável não tem dúvidas que é urgente reconhecer que o associativismo, não só tem um papel fundamental, como também insubstituível, na manutenção da nossa cultura e da nossa tradição.

Desde Março de 2020 que o mundo está a braços com uma pandemia, que tem provocado um impacto tremendo em todos os sectores da sociedade. O movimento associativo não tem sido excepção. Perguntamos-lhe, pois, que impacto tem tido a Covid-19 no tecido associativo nacional?
O impacto tem sido brutal com o encerramento, que desejamos temporário, de imensas colectividades, cerca de 30.000 a nível nacional. O mesmo será dizer que as actividades sociais que as mesmas desempenham; culturais, lazer e desportivas pararam deixando um rasto de enorme prejuízo estimado acima dos 40 milhões de Euros.

A pandemia paralisou, ou levou ao cancelamento, de inúmeras actividades que as associações tinham programado, ou era hábito levarem a cabo. Ou seja, de repente as colectividades viram as suas épocas afectadas. Que soluções têm encontrado para contornar este obstáculo? Como têm procurado sair desta situação?
A Confederação, desde início da Pandemia que apela ao cumprimento responsável do Movimento Associativo Popular, das indicações sanitárias da DGS, e ao mesmo tempo que fez sair o Manual de Conduta para as 33.000 colectividades que representam 3 milhões de associados. Ao mesmo tempo, que apelou às Autarquias Locais e ao Governo para as necessidades de apoio a este sector tão importante da Economia Social.

Para além do aspecto financeiro há outros exemplos concretos de consequências desta pandemia no tecido associativo local?
O encerramento das colectividades devido ao Confinamento das mesmas pela Pandemia, obrigou à paragem de todas as actividades de lazer, culturais e desportivas destinadas aos associados. Deu origem também o encerramento dos bares e que os funcionários das colectividades parassem ou que alguns entrassem em layoff.

A pandemia afastou mais as pessoas das colectividades? Quer sob o ponto de vista de associados, quer sob o ponto de vista do dirigismo, tendo em conta que este movimento vive muito do voluntariado dos seus dirigentes… Ou pelo contrário, veio dar mais união ao sector?
Esse perigo é real e a CPCCRD está consciente do mesmo, daí ter publicado o Manual da Retoma Associativa, integrado numa Campanha de divulgação da Confederação incluído neste propósito o público em geral. Quanto aos dirigentes associativos, a sua capacidade de resistência e resiliência não os deixa em paz mental enquanto não retomarem as actividades associativas.

Que outras preocupações ou problemas têm as associações locais nesta fase?
Nesta fase a sua principal preocupação será o Governo desconfinar as colectividades a exemplo de outros sectores de concentração de pessoas, mantendo o devido cumprimento das regras sanitárias.

Têm sido encontradas medidas concretas de apoio, quer da parte do Poder Local, quer da parte do Poder Central para ajudar as colectividades a contornar as consequências causadas pela pandemia?
Da parte do Poder Local sim, da parte do Poder Central o Movimento Associativo continua esquecido.

Essa é a principal reivindicação do movimento associativo hoje em dia?
O reconhecimento da importância social das colectividades e todo o Movimento Associativo Popular, tal como a Constituição portuguesa (CRP) o define.

A obrigatoriedade de ficar em casa, do confinamento geral, ainda veio agravar mais a situação, certo? Tendo em conta que é ao fim de semana que as pessoas se juntam mais no movimento associativo…
Sem dúvida. Esse aspecto foi muito prejudicial à nossa actividade.

Em suma como é que as associações se têm reinventado nestes tempos conturbados para todos nós?
Pondo à prova a sua capacidade de Resistência e Resiliência e dos seus dirigentes.

À parte da pandemia, quais são as principais dificuldades e ao mesmo tempo desafios e objectivos que o movimento associativo concelhio tem pela frente?
A sua sustentabilidade económica pós abertura, não só com a cobrança de quotização em atraso, como em tudo o resto que implique actividades contributivas.

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