Foto: Rodrigo Cabrita

João Coimbra é o responsável pelo projecto Milho Amarelo, que nasceu há mais de uma década na Quinta da Cholda, no concelho da Golegã. O agricultor é responsável por um novo modelo de gestão da biodiversidade a baixo custo, que visa ser expandido e replicado noutras explorações intensivas de milho do Vale do Tejo. Numa altura em que tudo está em suspenso, a agricultura é um sector fundamental e não pode parar. O Correio do Ribatejo esteve à conversa com o agricultor para perceber que medidas foram tomadas nas suas produções agrícolas para mitigar o novo coronavírus.

Qual é o maior desafio que os agricultores da região enfrentam na actualidade? 
O maior desafio para os agricultores é evitar parar a actividade. Para isso acontecer, não podem falhar as cadeias logísticas de abastecimento de materiais para a maquinaria e factores de produção. Outro desafio é a capacidade de ajustar, o mais rapidamente possível a procura à oferta de produtos agrícolas.

Em termos de segurança alimentar, os consumidores podem estar descansados?
Como referi, se a logística se adaptar rapidamente aos novos circuitos do consumo, penso que a produção pode satisfazer os produtos de primeira necessidade. Há que ter em conta, igualmente, os padrões de consumo que, nesta altura, poderão sofrer alterações que não são previsíveis.

Que medidas estão a ser tomadas para minimizar os riscos nas explorações?
Estamos a tomar, sobretudo, medidas de redução de contágio pelo COVID-19 apostando, principalmente, na redução de proximidade social. Por outro lado, nas explorações, estão a ser tomados cuidados com a limpeza frequente das superfícies de contacto e maquinaria para, precisamente, garantir a segurança. É fundamental que todos cumpram escrupulosamente todas as regras das autoridades de saúde locais e nacionais para que consigamos ultrapassar esta situação. Vamos todos cumprir as regras de segurança para assim podermos continuar a produzir os nossos produtos para alimentar o País. Na minha exploração concebi um protocolo que disponibilizei a quem o quiser implementar e que pretende ajudar as empresas para que possam, também elas, introduzir, de uma forma sistemática, uma estratégia de defesa da saúde dos seus trabalhadores e das suas empresas.

Corremos o risco de ver as prateleiras dos supermercados vazias de produtos essenciais?
Mais uma vez, penso que a logística vai ser o ponto nevrálgico. Também depende se a mudança do padrão de consumo de alimentos for muito forte, poderá levar algum tempo até conseguirmos atingir a normalidade.

Os apoios anunciados para o sector estão ajustados à realidade?
Todos os apoios serão poucos se a economia não voltar rapidamente à normalidade. E isto não acontece apenas no sector agrícola. Toda a economia está ligada e todos os sectores, transversalmente, vão necessitar de apoios para se reerguerem.

Para além dos apoios já anunciados, que outros pensa serem necessários?
Devemos canalizar os apoios possíveis para aumentar a nossa auto-suficiência alimentar, sobretudo, em produtos de primeira necessidade.
Temos, claramente, que ter um mínimo de capacidade produtiva para podermos enfrentar esta crise e as seguintes que virão certamente.

E em termos de mão-de-obra? Já se começam a verificar algumas dificuldades?
A mão-de-obra é sempre escassa na agricultura, penso que irá haver pontualmente excesso de oferta (principalmente de estrangeiros que estão em Portugal), pois temos muita da economia agrícola a reduzir drasticamente a sua operação (flores, produtos agrícolas perecíveis, entre muitos outros produtos) e certamente novos projectos agrícolas irão ser, para já, adiados.

Um título para o livro da sua vida?
Em busca da Verdade.

Viagem? 
Nacional: A rota da Nacional nº2. Ao estrangeiro: A rota das Sequóias nas montanhas da Califórnia.

Música? 
Todas do compositor Hans Zimmer.

Quais os seus hobbies preferidos?
Vela, fotografia, birdwatching.

Se pudesse alterar um facto da história qual escolheria?
Não tinha havido a Revolução Francesa.

Se um dia tivesse de entrar num filme que género preferiria?
Romance histórico.

Acordo ortográfico. Sim ou não?
Não.

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