Há cerca de um ano, José Manuel Santos assumiu a presidência da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo (ERTAR) e tem trabalhado de uma forma pró-activa e concisa para aproximar a entidade dos municípios, empresas e actores do turismo regional. Nesta entrevista ao Correio do Ribatejo, José Manuel Santos destaca a importância daquilo a que chama “escuta activa” do sector, ouvindo os problemas das empresas e compreendendo as expetativas do sector. “Creio que neste primeiro ano de mandato virámos a página, face àquilo que tinha sido a gestão dos anos anteriores. O trabalho ainda não está todo feito, longe disso, mas lançámos as bases para uma nova organização regional de turismo, mais moderna e consequente, próxima dos autarcas e dos agentes económicos”, afirma o presidente de uma entidade que, definitivamente, “aterrou com os dois pés” no Ribatejo, com a abertura de um polo na Casa do Campino. Para o futuro, José Manuel Santos pretende consolidar o trabalho realizado, modernizar a comunicação e reforçar a promoção da região, que considera ter um enorme potencial para o enoturismo e actividades ligadas à natureza, cultura e gastronomia.

Há cerca de um ano, assumiu a presidência da ERTAR. Quais foram os maiores desafios que enfrentou até agora?

O principal desafio foi, sem dúvida, recolocar a ERTAR no terreno, próxima dos municípios, das empresas e, em geral, dos actores do turismo regional. Essa proximidade tem sido muito importante para avaliar necessidades, ficar a par dos problemas das empresas e compreender as expetativas do sector. Temos praticado aquilo que eu chamo de uma escuta activa.

Também foi importante ganhar influência institucional em diversos fóruns. Por exemplo, no PR Alentejo 2030, o turismo encontrava-se praticamente hibernado, mas conseguimos, entretanto, que os avisos de concurso começassem a ser publicados. No meu discurso de tomada de posse, no dia dezanove de Julho do ano passado, chamei a atenção para o facto do turismo não ter sido considerado uma atividade prioritária nas opções de financiamento do programa regional de fundos europeus, o que é, do meu ponto de vista, grave. Estamos agora a responder a um Aviso de Concurso para a promoção turística regional que os meus colegas do Norte e do Centro responderam há meses nos respectivos programas operacionais e com montantes muito superiores. A situação melhorou, mas ainda há muito trabalho pela frente. Os fundos europeus são fundamentais para a nossa estratégia de desenvolvimento turístico que passa muito pela valorização dos recursos, pela organização da oferta e pelo reforço da promoção institucional.

Creio que neste primeiro ano de mandato virámos a página, face àquilo que tinha sido a gestão dos anos anteriores. O trabalho ainda não está todo feito, longe disso, mas lançámos as bases para uma nova organização regional de turismo, mais moderna e consequente, próxima dos autarcas e dos agentes económicos.

Quais são as suas prioridades para o segundo ano do seu mandato?

Temos de consolidar o trabalho realizado neste primeiro ano de mandato e dar seguimento ao nosso plano estratégico.

Fizemos um autêntico contrarrelógio nestes últimos doze meses, reforçando a imagem e a promoção do Alentejo e do Ribatejo. Profissionalizámos a comunicação institucional da ERTAR, organizamos o marketing digital, participamos em mais feiras e digitalizamos toda a oferta do turismo de ar livre do Alentejo e do Ribatejo num grande Hub digital acessível a milhões de potenciais visitantes.

Mas ao mesmo tempo planeamos os próximos quatro anos de intervenção.

Temos as nossas prioridades muito bem definidas. Capacitar as empresas e as pessoas; estruturar novas ofertas e dinamizar comercialmente as redes de oferta; afirmar os vários destinos turísticos da nossa área regional de turismo e desde logo o Ribatejo; aumentar a promoção e modernizar a comunicação; atrair investimento e criar condições para uma melhor monitorização da atividade, através do nosso Observatório que irá agora ser relançado no quadro de uma candidatura que já estamos a preparar ao Turismo de Portugal.

O Alentejo e o Ribatejo foram escolhidos como destinos nacionais convidados na BTL 2025. O que espera alcançar com esta participação?

Há dez anos que o Alentejo e o Ribatejo não eram o destino convidado da BTL. Creio que esse convite se deveu em larga medida ao trabalho que desenvolvemos no último ano e à forma como decorreu a nossa participação na BTL de 2024.

É mais uma oportunidade para mostrar ao país a vitalidade dos destinos Alentejo e Ribatejo.

Teremos de fazer um investimento significativo, o que aumenta a nossa responsabilidade em termos de rácio custo/resultado.

Penso que 2025 será um ano difícil para o Turismo, pelo que é muito importante conseguirmos uma excelente presença na BTL

Como está a ser preparada a participação na BTL 2025 para garantir a melhor promoção das regiões?

Queremos que seja a melhor presença de sempre. As últimas semanas têm sido particularmente importantes no planeamento desse objetivo, uma vez que conseguimos criar as condições orçamentais para iniciar a preparação da participação na BTL. Estou muito focado nisso. Sem candidaturas aprovadas neste novo Portugal 2030, tivemos de nos socorrer dos saldos dos projetos das candidaturas do Alentejo 2020. Mas já obtivemos a autorização necessária do Senhor Secretário de Estado da Economia. O planeamento atempado é fundamental para cumprirmos o nosso plano de ação.

Posso adiantar em primeira mão ao vosso jornal que vamos organizar um grande encontro com cerca de duzentos tour-operadores estrangeiros na BTL. Obviamente em parceria com a nossa agência regional que tem a competência da promoção internacional do Alentejo e do Ribatejo. Mas nós cumprimos o nosso papel ao criar as condições institucionais para que essa ação se pudesse realizar. Por outro lado, no âmbito do mercado nacional realizaremos em março uma grande campanha de promoção do Alentejo e do Ribatejo, em parceria com a CNN.

Será uma excelente oportunidade para promover as duas regiões.

Recentemente foi inaugurado um polo da Entidade em Santarém, na Casa do Campino. Qual é a importância deste novo espaço para o turismo regional?

É muito importante: é a nossa casa ribatejana. Vamos ganhar mais proximidade aos nossos associados e stakeholders da Região. Diria que é a ERT a “aterrar com os dois pés” no Ribatejo.

O nosso Vice-Presidente, Pedro Beato, tem já um programa de contactos e reuniões muito intenso nos próximos meses, junto dos promotores turísticos e empresários da Região, obviamente que a abertura do polo facilitará o trabalho.

Que impacto espera que o novo polo em Santarém tenha no desenvolvimento turístico da região?

Bem, a estratégia está definida há um ano, independentemente da questão do polo de Santarém. Autonomizar o marketing do Ribatejo e dar mais notoriedade à Região, aumentar o investimento em promoção, digitalizar a oferta e apoiar a qualificação dos recursos para ser mais fácil a estruturação da oferta.

Essa trajectória já foi iniciada. As instalações em Santarém são um instrumento e um suporte operativo fundamental dessa estratégia. São um meio de proximidade para reforçar a nossa ação no terreno. Infelizmente ainda não conseguimos contratar o técnico superior que ficará afecto ao polo de Santarém, mas espero que até ao final do ano esse assunto possa estar resolvido.

Santarém está a receber investimentos significativos na área hoteleira. Como vê este crescimento e o que representa para o turismo na capital de distrito?

Santarém necessita de reforçar a sua oferta de alojamento e constato com satisfação que já estão no terreno projetos de construção de novos hotéis. Temos apoiado o município nesse processo.

É verdade que a cidade tem boas unidades, mas são manifestamente insuficientes para a procura crescente de turistas.

Santarém está com uma boa dinâmica, muito à boleia dos eventos e da criatividade e dinâmica em redor da gastronomia e dos vinhos.

Mas os outros concelhos da Lezíria do Tejo também necessitam de mais camas. Caso tal não suceda, o desequilíbrio intrarregional no que toca à capacidade instaladas de camas, que já existe, agravar-se-á.

Por isso colocámos no terreno os nossos Roteiros de investimento que no primeiro ano tocam Santarém, mas também Alpiarça. A nossa expectativa é que com esta iniciativa possamos atrair mais projetos inovadores que contribuam para a densificação da oferta.

Quais são as suas expectativas em relação ao futuro do turismo no Ribatejo e como pretende promover esta região de forma mais eficaz?

Temos de ter a noção do ponto de partida. Os onze concelhos da Lezíria do Tejo têm menos camas do que a cidade de Évora, por isso é fundamental aumentar e qualificar a oferta.  

Mas há um potencial enorme no turismo de natureza, no enoturismo, que está a crescer e no desenvolvimento de conteúdos ligados à gastronomia, à cultura e à literatura.

Temos de desenvolver o destino. A região tem um grande potencial, mas é fundamental intensificar o trabalho com os operadores. Há massa critica na região e bons produtos a serem comercializados, como por exemplo em tudo o que tem a ver com os passeios no Tejo.

Um dos objetivos que traçamos está a ser cumprido. Passa por autonomizar a promoção turística do Ribatejo. Veja-se a nossa presença na BTL ou na Feira da Agricultura. No próximo ano iremos realizar uma grande ação de promoção do Ribatejo em Lisboa. 

A internacionalização do turismo é um objetivo importante para o Ribatejo. Quais são as estratégias que estão a ser implementadas para atrair turistas internacionais e aumentar a visibilidade da região fora de Portugal?

Temos um desafio grande que passa por melhorar a oferta de alojamento, em quantidade e qualidade.

É difícil conceber uma estratégia de internacionalização quando não temos um hotel de cinco estrelas e os de quatro são dois ou três.

A região é ainda muito dependente do mercado nacional. Setenta e cinco das dormidas (em cada 100) são de turistas portugueses.

Temos de potenciar mais e melhor alguns atractivos que a Região possui.

O vinho na sua extensão do enoturismo começa a ser um produto premium do Ribatejo e a captar a atenção dos turistas estrangeiros e dos operadores.

Temos apelado à nossa Agência Regional de Promoção Turística para incorporar cada vez mais conteúdos do Ribatejo na promoção externa e que procure atrair mais associados da região.

Para isso é necessário promover mais atividade e eventos especiais na Região, dou sempre como exemplo a possibilidade de se realizar em Santarém um Seminário de Vendas com Operadores Brasileiros, aproveitando o facto de Pedro Alvares Cabral estar aí sepultado.

Sinto algumas melhorias nesse campo, mas ainda não chegamos ao ponto que pretendemos.

Vamos agora, por outro lado, desenvolver uma campanha de promoção no mercado transfronteiriço com Espanha e nesse âmbito espero que possamos comunicar especificamente o Ribatejo.

Quais são as grandes linhas de ação para o próximo ano e de que forma os investidores e parceiros podem contribuir para o crescimento do turismo no Ribatejo?

Diria que em primeiro lugar a capacitação das empresas e das pessoas que trabalham no Turismo do Ribatejo, em segundo a atração de investimento e a requalificação da oferta e, finalmente, o reforço da promoção.

Sentimos uma atração crescente pelo Ribatejo, da parte de investidores, mas também do público.

Por isso foi importante termos realizado no ano passado uma Conferência sobre o Turismo do Ribatejo para que os investidores e parceiros do turismo tenham percebido que há uma estratégia e um plano de ação para executar.

A mensagem que temos passado é a de que o Turismo do Ribatejo veio para ficar.

O Ribatejo está a afirmar-se cada vez mais como um destino turístico. Quais são os principais atractivos turísticos da região e que projetos futuros estão planeados para melhorar ainda mais a oferta turística?

 A identidade e a autenticidade, as pessoas. O Tejo, mesmo que não aproveitado em pleno, é um recurso fantástico e o Ribatejo tem operadores de animação que vendem excelentes produtos baseados no rio. O enoturismo ainda se vai desenvolver mais e será o grande passaporte de entrada de turistas internacionais na região. Por isso estamos a dar muita força ao Ribatejo na nossa estratégia de eficiência colectiva, o PROVERE, para o Enoturismo. 

A gastronomia é igualmente um recurso fantástico.  Santarém tem um enorme potencial para se transformar numa Cidade Criativa da UNESCO com essa temática e a proximidade a Almeirim poderá ser um trunfo de relevo.  Já transmitimos ao Município a nossa disponibilidade para trabalharmos nesse processo.

Há depois outros segmentos que podem ser melhor desenvolvidos: as experiências à volta do Montado que vamos trabalhar com a Câmara Municipal de Coruche, as dinâmicas do Turismo Literário na Golegã, Rio Maior e Santarém, o turismo equestre e o turismo industrial.

Também as manifestações culturais na região são fortíssimas e podem ser organizadas numa óptica de roteirização da oferta e de criação de produto comercial. O tirador de cortiça, os bordados da Glória, a cultura avieira, são exemplos de como o turismo pode tirar maior partido da cultura da Região. Em curso temos já o processo de certificação do Torricado, em colaboração com a Câmara Municipal da Azambuja, dossiê que o nosso Vice-Presidente está a acompanhar e coordenar.

Acredito também muito no turismo de ar livre e activo. Ainda este ano iremos realizar uma ação de activação para promover os Centros de Cycling de Coruche e de Chamusca. Na área da Turismo do Natureza vamos requalificar a rede de percursos pedestres existentes e em 2025 ou 2026, realizaremos o primeiro festival de caminhadas do Ribatejo.

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