A Associação Cultural Vale De Santarém – Identidade e Memória é uma organização que se dedica a promover a cultura e a preservação da identidade e memória da região de Vale de Santarém.

Através de várias iniciativas culturais, sociais e educativas, a associação procura preservar a história e o património desta região, bem como promover o desenvolvimento e a integração das comunidades locais.

Como organização, afirma-se independente, sem orientações de política partidária ou confissões de qualquer outra natureza.

É da busca da identificação das raízes, da história como comunidade, do que se construiu e trouxe até ao presente (e que se pretende conhecer, compreender e preservar) que se ocupa a associação que assume a missão de resgatar do desconhecimento, do esquecimento, da potencial perda, tudo o que seja possível”, refere o presidente, Manuel João Sá.

Como surgiu a ideia de criar esta associação e quais são os seus objectivos?

Esta associação teve origem na convergência de ideias e sentimentos de diversas pessoas que, a determinada altura, confluíram no sentido de criar uma associação cultural no Vale de Santarém.

Achámos que este era um espaço que estava por preencher e o que nos propusemos foi a que esta associação se orientasse para tentar trazer do passado ao presente aquilo que era a história e a memoria colectiva desta comunidade.

O Vale tem aspectos históricos de grande importância: tanto o Vale como, obviamente, as suas proximidades.

Temos, nomeadamente, personalidades de grande relevo na zona. Almeida Garrett, por exemplo, trouxe o Vale de Santarém para a literatura portuguesa, e esta terra deve-lhe muito. Tivemos, igualmente, aqui, quintas muito importantes: O Vale de Santarém é, no fundo, uma zona de migração interna, porquanto para aqui vieram viver muitas pessoas que contribuíram para o desenvolvimento da terra.

Todo esse passado, todo esse património cultural tem que ser preservado e dado a conhecer. Era necessário trazer isso ao presente, não com uma atitude saudosista, mas, antes, com o intuito muito claro de dar oportunidade às pessoas para conhecerem mais sobre o Vale.

E isso ser factor agregador, de sentimento de pertença de toda uma comunidade.

Em resumo: o Vale é uma terra que merece ser recordada e vivida, e é esse o propósito e o fim último da Associação Cultural Vale de Santarém-Identidade e Memória (ACVS). Conforme está lavrado nos nossos Estatutos: “A pesquisa e divulgação da história e da cultura do Vale de Santarém e suas gentes, desde os tempos mais remotos até à actualidade, visando a valorização do sentimento de pertença a uma comunidade e a sua transmissão às gerações vindouras”.

De que forma é que a associação está a preservar e promover a sua cultura e tradições?

Em 2015, juntámos essas pessoas que, depois, viriam a dar corpo aos primeiros corpos sociais da associação. Escolhemos os assuntos que valiam a pena trabalhar ao nível da investigação, da pesquisa, de trazer ao presente a história, a memoria colectiva.

Em 2018, já praticamente com a fundação da Associação à vista, organizamos uma homenagem e um tributo aos combatentes da Primeira Guerra Mundial que estiveram na Flandres. Algo que nunca tinha sido feito no Vale de Santarém. E decidimos que um poeta como o que existiu no Vale de Santarém, um poeta da comunidade, que escrevia e que oferecia poemas às pessoas do Vale, mas cuja obra, de facto, não era conhecida, apesar de ter escrito para o Correio do Ribatejo e outros jornais, merecia ter, da nossa parte, o devido reconhecimento.

No fim de contas, as suas obras nunca foram de domínio público.

Esse homem, João da Silva Nogueira, João d’Aldeia, foi uma preocupação nossa no sentido em que era necessário saber quem ele era: ir ao fundo, procurar a sua obra.

Tivemos a felicidade de duas pessoas que estavam nesse grupo inicial já terem andado a fazer pesquisa sobre João da Aldeia, concretamente o Dr. Vítor Pinto da Rocha e eu próprio [Manuel João Sá]. Juntámos esforços e foi o Dr. Pinto da Rocha que ficou de fazer o levantamento principal.

Em 2018, ele apresentou à população do Vale de Santarém o que era a sua visão do que tinha conseguido sobre João d’Aldeia, e ficou combinado juntar isso tudo em Livro que foi apresentado. “João d’Aldeia, Poeta do Vale de Santarém”.

Dizer que o Dr. Victor Pinto da Rocha, falecido em 2020, foi igualmente fundador da nossa organização, presidente da Mesa da Assembleia Geral, e membro activo muito importante em todas as fases da formação e consolidação da Associação, muito contribuindo com o seu saber e o seu trabalho para os nossos objectivos.

No dia em que foi feita a apresentação do trabalho, as netas do Poeta trouxeram a sua obra manuscrita e ofereceram-na ao Vale de Santarém, na pessoa do Presidente da Junta. Foi uma surpresa para todos.

Ficamos com um acervo fantástico, uma obra poética que não se sabia onde estava e esta é uma grande conquista. Temos esse trabalho e vamos continuar a lutar para contribuir para dar a conhecer a vida e a obra deste poeta que, durante décadas, foi esquecido, e o essencial da sua poesia continuou por conhecer.

Decidimos, portanto, que o trabalho sobre João d’Aldeia não iria ficar por ali e é nessa altura que surge o que mais recentemente viemos a decidir, que é fazer um trabalho de fundo sobre este autor. E isto pode ser feito de várias formas, nomeadamente com a realização duma peça de Teatro, que é o que estamos de momento, a levar à cena a 25 de Março.

Vamos apresentar esta peça com encenação do Grande Homem do teatro da região, e não só, José Ramos, um homem que dedicou a sua vida ao Teatro, contando com um vasto elenco, composto por pessoas do Vale de Santarém e de outras localidades, como Santarém e Cartaxo, envolvendo actores, cantadores, músicos e elementos da parte técnica. O texto baseia-se, precisamente, no livro “João d’Aldeia, Poeta do Vale de Santarém”

Do mesmo modo, interessam-nos personalidades que fizeram parte do património histórico e cultural do Vale. Realizamos, em 2022, o Bicentenário do nascimento de Augusto Rebelo da Silva (1822-1871) personalidade da vida política e cultural do Séc. XIX, em Portugal, com enorme ligação ao Vale de Santarém, onde viveu por largos períodos, na sua curta vida de 49 anos, na sua Quinta do Desembargador, ou das Rebelas, na designação popular e realizamos três conferências que foram apresentadas por pessoas de alto gabarito das universidades portuguesas. João Brigola, Maria de Fátima Marinho, da Universidade do Porto, José Viegas, Dr. Pedro Freitas, Eng. Rui Barreiro e a Jornalista Rosalina Melro deram igualmente preciosos contributos.

E é nesta perspectiva que vamos continuar: o Vale de Santarém é um laboratório social que interessa a muitas pessoas, não só a quem cá vive.

O Vale tem condições para ser, nomeadamente para as escolas secundárias e IPSantarém, palco para investigações, para realização de trabalhos académicos, de licenciatura, de mestrado e doutoramento.

E temos a perfeita noção que a associação promove um trabalho que contribui, de forma inequívoca, para o desenvolvimento local.

Quais são os projectos futuros da associação?

Vamos editar a obra completa de João d’Aldeia, composta por quatro volumes e vamos ter, ainda este ano, um programa integrado, que se chama “Conhecer o Vale de Santarém”.

No fundo, este programa será um roteiro cultural, com visitas guiadas. Vamos proporcionar o conhecimento sobre o desenvolvimento da paróquia – porque antes de haver junta de freguesia era a paroquia que, digamos, tinha a importância que hoje tem a junta de freguesia – e, por outro lado, vamos proporcionar às pessoas do Vale que identifiquem aspectos que cada um deles mais evidencie. Temos interesse em fazer exposições, sobre aspectos concretos relacionados com o Vale de Santarém. Vamos desenvolver um programa de identificação toponímica, ou seja: cada rua, além da sua identificação nominal terá a referência de foi aquela pessoa, e qual a importância dela para o Vale de Santarém.

Volto a frisar: interessamo-nos pelas tradições, não queremos voltar ao passado, mas queremos falar nele.

Saímos de uma altura muito difícil para o movimento associativo. Que dificuldades sentem na actualidade e como estão a lidar com estes desafios?

Temos uma responsabilidade muito grande que é a de perceber os terrenos que pisamos, para que existimos, e quais os nossos objectivos. Inserimo-nos naquela tipologia de associações sem fins lucrativos em que o voluntariado, solidariedade e o querer ser cidadão activo são valores fundamentais.

Estamos preocupados com isso: embora sejamos uma jovem associação, os elementos que a constituem têm uma grande vivência nesse domínio. Este ano queremos levar por diante algo que ainda não começámos a afirmar junto de outras associações, mas queremos promover uma discussão, uma reflexão sobre o movimento associativo.

Vamos propor às associações do Vale que haja essa reflexão, quais as experiências que existem, em que ponto é que estamos.

Há menos actividade associativa, há cada vez menos associados e temos que perceber quais as razões para isso acontecer.

Que leitura podemos fazer, e o que pensamos enquanto movimento associativo. E, a partir daí, reflectirmos conjuntamente na forma como podemos enfrentar essas dificuldades muito concretas. Estamos a procurar fazer essa leitura, em conjunto com outros.

Uma sede própria poderia ser um impulso à vossa actividade?

Sim, claramente, até porque já temos espólio para tratar. Já tentámos através das instâncias Autárquicas e na Junta obter soluções. Mas não existem essas soluções, nem em quantidade, nem em qualidade.

Entretanto, a Junta tem proporcionado que nós tenhamos um espaço onde podemos reunir e no qual podemos fazer algumas sessões. A própria Junta tem acompanhado o nosso trabalho. Temos que fazer essa justa referencia.

Contudo, nós precisamos de ter essa sede, um edifício que consiga albergar diversas valências: um espaço de funcionamento, um espaço de direcção, espaço administrativo, mas queremos ir mais além. O Vale tem condições para ter o seu núcleo museológico. Há pessoas que nos querem entregar coisas e nós temos pedido para aguardar por falta de espaço para fazer essa recolha, estudo e inventariação.

O Vale tem, igualmente, razões de sobeja para ter uma biblioteca: a própria Junta de Freguesia fez um trabalho notável ao conseguir cerca de 3000 livros e não tem espaço nem condições para trabalhar essas obras, para as colocar à fruição da população.

Nós somos candidatos, naturalmente, pela nossa função na comunidade, a sermos gestores desse espaço.

Necessitamos de um espaço para as nossas realizações, no que respeita a conferencias, apresentação de peças de teatro, e a outras realizações. Actualmente, temos tido a colaboração fantástica da Sociedade Recreativa Operária do Vale de Santarém que nos tem permitido fazer nossa a sua sala principal. Mas estamos na circunstância de ter coisas para fazer, para trabalhar, para oferecer, mas não temos esse espaço.

Dirigimo-nos à Câmara de Santarém, onde apresentámos um dossier, inclusivamente com memoria descritiva das nossas necessidades e dos espaços necessários. O que nos foi dito pelo Vereador da Cultura, é que o projecto é meritório e de muito interesse, mas, por enquanto, dentro das condições que a CMS tem, foi-nos dito que não havia a possibilidade para, a breve prazo, realizarmos obras num espaço que é a antiga escola Aristides Graça, que é da autarquia, e que nos poderá ser cedida.

Queremos e ambicionamos, pois, ter um espaço próprio para as escolas virem fazer investigação, com salas com computadores e uma ou duas salas de reuniões. Um auditório para 50 pessoas, para pequenas seções de poesia, apresentação de livros, entre outros eventos.

Como está a ACVS, em termos de associados?

Somos uma jovem associação, mas já conseguimos formar um Grupo de Teatro, constituído por 40 elementos (entre actores, cantadores, do guarda-roupa, dos cenários, da luz, som, produção e direcção do espectáculo), que vai apresentar o seu trabalho em breve. Temos, hoje, mais de meia centena de associados efectivos e estamos a lançar uma campanha para incremento de sócios, cujo objectivo é chegar aos 100 associados no fim deste ano.

Isto vai depender da nossa oferta ter interesse para as pessoas. Vamos fazer no dia 18 uma sessão pública a que chamamos “Poetas e Cantadores do Vale de Santarém”. Qualquer actividade que seja promovida por nós, indo ao encontro dos desejos das pessoas, pode trazer associados.

Temos também a intenção de trazer jovens para a ACVS e perspectivamos que esse grupo trabalhe connosco na identificação da toponímia do Vale.

Que mensagem gostaria de deixar aos membros da Associação Cultural Vale de Santarém-Identidade e Memória e à comunidade em geral?

Em 2015, decidimos formar “qualquer coisa”, que começou por se chamar Grupo Vale de Santarém Identidade e memória.

A ideia era acrescentar valor à terra, não retirar ou por ninguém de parte. Queremos mais para o Vale e viemos preencher um espaço que estava vazio. Queremos parcerias, queremos ter, no fundo, uma actividade rica que envolva todo o Vale de Santarém e as suas gentes.

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