A melhor aluna do Instituto Politécnico de Santarém no ano lectivo 2019/2020 foi Salomé Rosário, de 21 anos de idade e natural de Benfica do Ribatejo, concelho de Almeirim. A estudante do quarto ano do curso de licenciatura em Enfermagem na Escola Superior da Saúde de Santarém (ESSS) teve uma média de 17,63 valores que lhe valeu a distinção pelo estabelecimento de ensino superior. Salomé destaca o lado humanista da profissão e lamenta a desvalorização geral pela Enfermagem.
O que a levou a escolher o curso de enfermagem e que factores teve em conta?
Muitas pessoas afirmam desde criança que quando crescerem vão ser médicos, arquitectos ou agricultores? Nunca fui dessas. Na verdade, decidi candidatar-me ao curso de licenciatura em Enfermagem na “hora H”. Embora eu soubesse que queria algo dentro da área da saúde, o verdadeiro desafio foi encontrar um curso que traduzisse na profissão tudo o que pretendia fazer no meu dia-a-dia. No fim de me informar, a resposta foi clara.
Foi a sua primeira escolha?
Sim! No fim de decidir que me ia candidatar a Enfermagem, nem ponderei nenhum outro curso. A minha primeira opção no acto da candidatura foi Enfermagem na Escola Superior de Saúde de Santarém (ESSS).
O que é que a surpreendeu pela positiva e pela negativa no curso?
O que mais me surpreendeu pela positiva foi a complexidade que é ser estudante de Enfermagem e o quão alta é a fasquia dos que vieram antes de mim. De facto, só quem passa por esta experiência consegue compreender o que é a constante exigência do cuidar. Por outro lado, o que me surpreendeu pela negativa foi o perceber a desvalorização geral pela enfermagem.
Como tem sido a experiência de estudar neste curso?
Esta experiência tem sido, no mínimo, inesquecível. Sair do ensino secundário para entrar num curso de Enfermagem é um acto de radicalidade. Somos, desde início, confrontados com uma realidade que nos obriga a crescer. Um estudante de enfermagem que não amadurece durante a sua licenciatura está a fazer algo de errado.
O que é que a marcou mais?
O que mais me marcou (e continua a marcar) são as pessoas. Quer sejam colegas, professores, enfermeiros ou as pessoas de quem cuidamos, há sempre alguém que consegue marcar o meu percurso por onde quer que passe.
Como descreveria a sua adaptação ao ensino superior?
A minha adaptação foi quase nula. Já conhecia Santarém bem antes de iniciar o curso e visto que vivo perto, foi-me possível manter a minha residência. Além disso, sempre fui uma pessoa bastante social, pelo que não tive dificuldades em fazer novas amizades e em tornar a ESSS na minha segunda casa.
Quais foram os seus principais desafios?
O mais difícil é, sem dúvida, não “levar as pessoas para casa”. Ao longo do tempo, aprendemos a distanciar-nos das situações que passam por nós e a deixar no serviço o que se passa no serviço, mas ninguém é feito de ferro e, por vezes, torna-se difícil não sentirmos o que as pessoas de quem cuidamos sentem. Afinal, a pessoa que estava internada no serviço X em fase terminal não era nossa conhecida, mas podia bem ser a nossa vizinha ou o nosso pai.
Considera que o curso a prepara para o exercício da profissão, isto é, que adquire as principais competências que um profissional dessa área deve ter?
Sim, completamente! Grande parte disso deve-se à presença dos estágios no plano de estudos. O curso é composto por uma vertente teórica e uma vertente prática e é a consistência entre aprender e aplicar o que aprendemos que constrói os enfermeiros como os conhecemos.
Considera o curso difícil? Porquê?
Sim. Dizer que não seria proferir uma mentira daquelas que faz cair os dentes. Tal como todos os cursos no ensino superior, a exigência faz-se sentir e é difícil atingir a excelência quando a carga teórica é muito grande. Mas mais importante que o conhecimento teórico é a forma como estamos, comunicamos, e cuidamos da pessoa. O que essa pessoa leva consigo após uma interacção connosco não é o quão bem sabemos caracterizar o sistema cardíaco, por exemplo, mas sim a forma como é tratada e em como valorizamos o que expressa. Talvez para muitos a enfermagem se resuma a fazer pensos e a dar picas, mas ser enfermeiro é ser um T-tudo. Enfermagem é das profissões mais complexas que existem, desde o conhecimento, às competências técnicas, passando pelas competências sociais e isto levando sempre a ética e a deontologia no bolso. A verdade é que os enfermeiros nunca são só enfermeiros. São mãos, são ouvidos, são ombros amigos, são palavras de conforto, são acompanhamento. São os que não abandonam o campo de batalha sem garantir a vitória de quem passa por eles.
Quais são as suas expectativas no que respeita à entrada no mercado de trabalho? Que perspectivas tem?
Numa perspectiva pessoal, o que perspectivo é uma entrada relativamente fácil no mercado de trabalho, devido à pronunciada falta de enfermeiros. Embora as condições de trabalho não sejam as melhores em Portugal, a alternativa é emigrar e quando estas opções são pesadas na balança, a mesma fica muito equilibrada.
Se soubesse o que sabe hoje, candidatava-se ao mesmo curso novamente? Porquê?
Sim! Absolutamente sim! Ao avistar o fim deste percurso como finalista, não posso nem consigo ignorar todas as experiências que passei, as quais contribuíram para o meu processo de formação individual como futura enfermeira, mas também como pessoa.