A União Desportiva de Santarém (UDS) nasceu da fusão dos Leões de Santarém e do Operário em 1969. Militou na 2ª Divisão, com grandes equipas, e o Estádio Chá das Padeiras enchia-se de adeptos para apoiar o “Clube da cidade”. Após um período de declínio – que motivou o afastamento de adeptos e associados – o clube reergueu-se e, hoje, está de regresso aos ‘Nacionais’. A mística, essa, nunca se perdeu e o “Clube da cidade” está hoje a atrair cada vez mais jovens para a prática do futebol. Nesta época, conta com cerca de 200 atletas nos seus escalões de formação, sendo esta uma das grandes apostas da SAD. O Correio do Ribatejo foi conhecer melhor esta realidade e falou com Mário Amoroso, responsável pela formação, que nos deu nota de uma União empenhada em facultar formação moderna e adequada aos jogadores, trazendo ao de cima o que de melhor existe nas camadas mais jovens dos clubes de futebol.
Quais são os objectivos e a filosofia do clube para a formação? Quando constituímos a SAD da UDS, o clube estava um pouco moribundo em relação à formação. Tinha três ou quatro escalões no activo e, desde logo, pensamos que tínhamos que mudar esta filosofia. Por isso, desde logo, foi feita uma aposta grande na formação. No primeiro ano, tivemos algumas dificuldades, fizemos um protocolo com um colégio de forma a tentarmos angariar jovens para formar equipas. Tivemos perto de 50 atletas na formação. Fizemos o possível, juntamos algumas idades em algumas equipas e conseguimos competir e ir a jogo. No segundo ano, já tivemos perto de 80 jovens e, este ano, temos 200 atletas. Neste momento, temos todos os escalões de formação, desde os 6 anos até aos juniores, e é uma grande alegria para todos. Foi feito um esforço muito grande, mas o objectivo foi cumprido.
Ou seja, a UDS quer afirmar-se também como um clube de referência na formação? Sim, claramente. A UDS, desde que me lembro, sempre teve um historial de formação, de ser campeão distrital em vários escalões, mas não é isso que queremos ou desejamos no imediato. Queremos, isso sim, ter todos os escalões de formação em pleno funcionamento para que, quem gosta do União poder vir aqui, trazer o seu filho, e ter um escalão para o colocar.
Hoje em dia, as condições de treino e de jogo para os atletas são as ideais? Não são as ideais, efectivamente. Existem poucos relvados e campos de jogo em Santarém. É um problema transversal a todos os clubes. Nós temos um relvado natural, que tem as condicionantes normais de um relvado com estas características. O futebol é um desporto de Inverno, e condiciona-nos muito a sua utilização. Temos o Futebol 7 a treinar no relvado do Chã das Padeiras, e a restante formação no campo da Ribeira de Santarém, que ainda é partilhado por mais duas equipas. Daqui se percebem as dificuldades. Os pais lamentam esta situação, evidentemente. Existe uma lacuna grande a nível de relvados e recintos de jogo em geral em Santarém. Vivemos com estas condições, procuramos sempre melhorar. Mas temos que ter alternativas: por vezes, o relvado não se pode pisar e temos que ir fazer treinos em conjunto a outras equipas.
O grande sonho da UDS é ter uma ampliação das instalações e ter um relvado para treinar? Sim, tal como as outras equipas da cidade, para evoluir, para crescer é necessário melhorar as infra-estruturas.
Este factor tem condicionado a captação de novos atletas para o clube? Para o ano, a UDS não tem capacidade de formar mais nenhum escalão. Não temos espaço. Atingimos este número de atletas (200) e sem mais infra-estruturas é impossível a UDS crescer.
Foi fácil captar os miúdos de Santarém para o clube? A UDS tem uma grande história. Mas partimos do zero: efectivamente o UDS passou uma crise tal como outros clubes passaram. E isso sentiu-se muito ao nível da formação. Os jovens não viam o União como solução para jogar futebol. Foi difícil dar a volta a essa situação… é um processo lento. O crescimento da formação de qualquer clube é um processo que tem uma cadência própria. Tem que se despender muito esforço individual de todos. Mas, nestes três anos, a UDS conseguiu cativar os jovens e conseguiu ter todos os escalões de formação e isso é uma alegria pessoal, mas é também uma alegria muito grande para toda a estrutura do clube e para a cidade ver os jovens aqui diariamente a treinar.
Existe, então, um grande apoio da SAD a este projecto de formação? Sem dúvida. O futebol sénior tem um peso muito grande neste projecto, não vamos fugir disso, é uma realidade. Mas o próprio projecto de futebol sénior também atraiu os jovens, que viram o UDS campeão da segunda distrital, viram o nome da UDS a reaparecer e voltou a ser campeão na primeira distrital, está num campeonato nacional, e os jovens também vêm essa imagem. E, claro, tudo isto é apelativo para eles. O projecto de formação está consolidado. Queremos fazê-lo crescer mas tem que ser de uma forma sustentada. E, neste momento, isso passa por termos novas infra-estruturas. Não podemos crescer mais se não pudermos oferecer novas condições de treino. Os atletas que temos, têm boas condições. Claro que estamos neste impasse: sem melhores condições não podemos aceitar mais atletas.
Qual a sua expectativa pessoal em termos de resultados das equipas de formação? O que eu gostava era de ver atletas e pais felizes. Claro que, neste terceiro ano, já procuramos algo mais. Já queremos ser mais competitivos. Queremos os juniores e juvenis na primeira distrital, já começamos a ter outras ambições. E, claro, conseguir formar jovens de Santarém para a equipa sénior do União.
Mário Amoroso – Director do Futebol de Formação
‘Queremos formar jogadores, mas também queremos formar homens para driblar os desafios da vida’
Apostar em formar jogadores promissores e fazer deles jogadores dedicados e competentes, com espírito de equipa e capazes de colocar o sucesso do grupo à frente do seu sucesso pessoal é certamente tarefa prioritária para qualquer clube de futebol. Um jogador que desde jovem seja ensinado dentro dos valores da sua equipa e embutido do amor às cores da camisola do seu clube vai seguramente ser um jogador responsável dentro de campo e uma mais-valia para qualquer grupo de trabalho. É essa a perspectiva do coordenador da formação da UDS e dos treinadores que põem em campo o projecto.
Como é que começou a sua ligação ao clube? A ligação ao futebol da União de Santarém já tem muito anos, como praticante e dirigente. A ligação actual surgiu há dois anos, através de um convite que me foi feito pelas pessoas que estão ligadas à administração da SAD, derivado também à minha experiência que vem de trás, no futebol de formação. Durante oito anos, estive ligado à escola de futebol Footkart, de Almeirim, e penso que foi daí que veio essa afinidade. O desafio era muito grande porque o clube estava a iniciar a formação, embora já houvessem já jogadores e equipas, mas havia que começar a organizar e é isso que estamos a fazer. Estamos na fase inicial, estamos a contruir e a criar uma base para que no futuro a União de Santarém volte a ser a referência que foi no passado.
Este ano, o União tem cerca de 200 jogadores. Foi um salto muito grande? Sim. Começamos há dois anos com cerca de 50 a 60 jogadores, o ano passado já tivemos mais e, este, demos um salto grande em termos de números de atletas e número de equipas. Temos equipas em todos os escalões, algo que não aconteceu o ano passado. Estamos a criar a base, estamos a construir, estamos a fazer o nosso caminho que vai ser difícil e nós sabemos disso, mas o importante é saber para onde queremos ir.
Quais são as linhas gerais que são passadas na formação? Queremos formar jogadores, mas também queremos formar homens, é esse o grande desidrato do futebol de formação: formar pessoas e homens para a vida. Estamos inseridos num clube que tem uma história muito grande, com muitos títulos. Já foi campeão da terceira divisão nacional por duas vezes, é um clube que está habituado a ganhar e estamos a tentar também incutir esse espírito competitivo. Queremos que as nossas equipas, a cada ano, sejam melhores e que ganhem mais vezes. É esse o nosso trabalho. Devimos o nosso futebol na parte do Futebol de 7, a parte da escola de futebol (iniciação) e depois temos o futebol de 11 onde, aí, a vertente competitiva é mais forte. Se possível, no médio prazo, pretendemos formar jogadores para a equipa sénior da União de Santarém.
Como é o processo de captação de atletas na União de Santarém? Neste momento, estamos numa fase de angariação. Queremos construir uma base grande para, depois, numa segunda fase, podermos passar à fase de prospecção e de recrutamento. Estamos nessa fase inicial, já começamos a ver jogadores, já temos os nossos treinadores com essa perspectiva, mas ainda numa fase muito inicial. Queremos criar uma pirâmide forte e numerosa para podermos fazer o nosso trabalho assente numa base sólida.
O clube tem algum projecto para acompanhamento do desempenho escolar dos jogadores? Sim, e também nessa parte estamos na fase inicial. O projecto onde procuramos fazer um acompanhamento de todos os nossos atletas na vertente escolar, nesse processo estamos numa fase inicial para também podermos ajudar os pais e os nossos atletas a serem melhores alunos. É para isso que também serve o futebol de formação.
Como é que é a relação com os pais e com os atletas? Tentamos promover ao máximo o relacionamento e a passagem de informação com os pais. No início da época promovemos reuniões em cada escalão onde apresentamos as nossas ideias, os objectivos da equipa, tanto colectivos como individuais. Tentamos também ouvir os pais porque muitas vezes quem está dentro tem uma percepção diferente de quem está fora, e desde que sejam opiniões e críticas construtivas estamos cá para ouvir. Tentamos promover reuniões, vamos ter algumas acções de formação com os pais, com os próprios atletas na vertente da ética, da integridade, nas leis do jogo. Estamos a arrancar com essa fase.
Acha também importante essa vertente para os pais que, por vezes, têm comportamentos menos correctos? Sim, é importante esse contacto, é importante promovermos os valores da disciplina, da solidariedade, a ética, o fairplay, e, tanto com os nossos atletas, como com os pais isso é muito importante e o trabalho também passa por aí.
Qual é o perfil de jogador que a União de Santarém procura? Estamos na fase de definir esse perfil, de definir um perfil de jogador para o nosso modelo de jogo e para o nosso modelo de formação. Estamos ainda nessa fase inicial de definir, também por posição, que jogador é que queremos e é essencialmente para a nossa vertente mais competitiva, que é o futebol de 11, onde já queremos ganhar mais vezes. Na outra parte, queremos formar e acho que com a formação, ganhar é importante, mas se não ganhar também não tem mal algum.
Qual é a expectativa pessoal para este ano a nível de resultados? A nível de resultados, creio que iremos fazer melhores resultados que o ano passado. Iremos ter um número maior de vitórias que no ano passado e isso no final da época vai ser um dos nossos objectivos, que é melhorar ano após ano e creio que vamos conseguir.
José Noel Alexandre – Coordenador Técnico Futebol 7
“A qualidade humana é fundamental para atingir o sucesso desportivo”
O que é ser treinador de formação? Antes de mais, é ser uma espécie de “pai” para estes miúdos. É acolher os atletas, ajudar na educação dos jovens. Tentar formar homens, isso é o mais importante, antes, até, de serem bons atletas ou jogadores. O futebol, para além de ser um desporto colectivo, tem essa mais-valia, na cooperação, espírito de equipa, e todos esses valores que ajudam a formar homens.
Quais são os maiores desafios que o futebol de formação enfrenta? Aqui, em particular, há um grade desafio no distrito, que se prende com a formação e a qualidade da mesma até aos 8/9 anos. A formação até essa idade, é decisiva para o futuro deles.
Quais as principais mensagens que transmite aos treinadores e aos seus atletas? Enquanto coordenador de Futebol 7, o que transmito aos treinadores, que depois irão transmitir aos jogadores, vai ao encontro da primeira resposta. São os valores que são necessários e humildade necessária quando se perde, e quando se ganha também. Isto é fundamental para saber encarar as derrotas e as vitórias, sempre com humildade e respeito.
O que caracteriza um bom profissional de futebol? O valor humano da pessoa: hoje em dia, assistimos a treinadores, mesmo no futebol juvenil, que são pouco companheiros, mas, felizmente, são poucos. Quer intraclube, quer interclubes, para se valorizarem tentam passar por cima de outros. A qualidade humana é fundamental para atingir o sucesso desportivo.
Qual é a metodologia de trabalho e de treino na UDS? Aqui, a metodologia passa muito pelo tempo que o atleta está com a bola. Potenciar o atleta, na organização dos exercícios, organização do treinador, para potenciar o tempo que o atleta está em contacto com a bola.
Rui Canavarro – Treinador dos Juniores
“Estamos a marcar posição na construção da identidade do clube”
O que é ser treinador de futebol de formação? Para já, é ter uma grande capacidade de sofrimento, e uma grande paixão. Na minha opinião, estamos a formar, essencialmente, cidadãos, a formar jovens, futuros adultos. E este factor tem que estar associado, não só, à parte desportiva, mas muito à estrutura deles, como pessoas, como atletas, como desportistas, no respeito das regras do jogo e na dinâmica de grupo em que estão integrados.
Quais os desafios diários da UDS? Estamos, essencialmente, a construir uma casa do primeiro tijolo até ao telhado. Porque a UDS, como é do conhecimento geral, não teve formação durante largos anos. Neste momento, temos uma equipa de juvenis, que não existia o ano passado. Temos uma equipa de juniores, com 23 jogadores inscritos, que têm plena ambição de subir de divisão. A UDS tem objectivos competitivos claros. Não se vai conseguir fazer tudo num ano mas, essencialmente, estamos a marcar posição na construção da identidade do clube que foi algo que se perdeu durante alguns anos.
Quais as principais mensagens que tenta passar aos atletas? A principal é respeitar o clube: um clube que representa a cidade de Santarém. O respeito e cultura de identidade deste clube. Associado a isto, está o cumprimento das regras desportivas, e do respeito por todos os intervenientes no jogo. Depois, ajudá-los a ser um pouco mais ambiciosos e competitivos.
Que características deve ter um atleta para ter sucesso na sua carreira? A principal é ter paixão pelo jogo. Ser ambicioso, competitivo e trabalhador. Hoje em dia, este é o principal desafio com as gerações que estamos a trabalhar. É muito difícil conseguir que os miúdos tenham compromisso durante todo o ano. Os jovens têm muitas solicitações e é fácil perder o compromisso e a concentração.
Como caracteriza a sua metodologia no treino? Procurar que os miúdos tenham dinâmica de grupo. Constituir um bom grupo, um bom balneário, e, a partir daí, aplicando os modelos de jogo que escolhemos para a época. Tentar que os atletas se adaptem ao nosso modelo e metodologia. Isto depende muito das características de cada miúdo, não posso dizer que trabalho da mesma maneira há 15 ou 20 anos, tenho que me adaptar aos novos atletas que temos todos os anos.
Que qualidades deve ter um treinador? Um treinador deve ser, acima de tudo, um exemplo. Exemplo de saber estar, exemplo de transmissão de valores, exemplo de amigo em quem se pode depositar a máxima confiança. Transmissor de conhecimento e de princípios desportivos, éticos, sociais.