José Azoia, é um jovem agricultor natural de Casével, que em 2019 venceu o prémio Intermarché Pordução Nacional com o seu Grão de Bico “Casal do Vouga” e ainda o prémio Jovem Agricultor / Novas Empresas do BPI 2019, com a sua empresa ‘Egocultum’. Filho e neto de agricultores, José Azoia “herdou” o gosto por lavrar a terra. Foi aluno da Escola Superior Agrária de Santarém, mas em 2006, e sempre ligado à agricultura, resolveu emigrar. Angola e França foram os destinos escolhidos e a experiência valeu-lhe um conjunto de ensinamentos práticos e técnicos que se revelariam preciosos no futuro. José acredita numa agricultura de futuro eficiente, ecológica e inovadora mas que se deve renovar para elevar o seu potencial.

O que significou para si ser distinguido com o Prémio Intermarché Produção Nacional?
Receber este prémio foi muito importante para mim, tal como o de jovem agricultor do BPI, pois é sempre muito importante vermos o nosso trabalho reconhecido.

A agricultura é um sector fundamental para a economia portuguesa?
Sim e com cada vez mais relevância, prova disso é o peso crescente da agricultura quer no PIB, quer nas exportações nos últimos anos. Queria realçar também um facto por muitos esquecido, de que, durante a crise e o período da Troika a agricultura foi um dos mais importantes criadores de emprego e contribuiu para atenuar a queda do PIB.

Precisamos rejuvenescer a nossa agricultura?
Sim claramente, a média de idades dos nossos agricultores é de 65 anos em 2019 e era de 63 em 2009, temos de trazer mais jovens dinâmicos, com novas ambições e vontades para em conjunto com o conhecimento empírico adquirido pelos nossos antecessores possamos maximizar todo o potencial agrícola do nosso território.

Quais são os principais desafios que se colocam hoje ao jovem agricultor português?
A instalação! É um processo muito longo, complicado e burocrático. Com isto não quero dizer que entremos em “facilitismo” mas tem de se agilizar o processo. O acesso ao crédito é também difícil.

Que tipo de agricultura defende para o país? E em Santarém?
Temos um país muito heterogéneo em termos de clima, solos, etc. Daí que não possa responder especificamente para cada um, mas que seja uma agricultura responsável no sentido ambiental, que tenha em atenção o meio que a envolve, sobretudo os solos, que são a nossa maior riqueza enquanto agricultura de exterior. Para Santarém enquanto concelho temos dois tipos maiores de zonas agrícolas, divididas pela linha de comboio, a Lezíria do Tejo a sul e do lado norte O Bairro. Penso que quem anda no meio conhece as diferenças e dificuldades entres os tipos de agricultura praticados em ambos os lados, sendo que a do bairro é a mais pobre. São pequenas parcelas, com muito declive, pedregosas, menos férteis… Aqui sim, penso que há um grande trabalho politico agrário a fazer, o principal problema na minha opinião é o mini latifúndio, que aumenta os custos de produção e retira rentabilidade ao agricultor, assim tem de se criar condições sentido de potenciar a agregação destes terrenos, dos agricultores, dos factores produtivos.

Qual é o panorama do sector em termos de produção e de inovação?
A nossa produção é cada vez de maior qualidade, os produtos portugueses são óptimos, pois somos agricultores dedicados e que amam o que fazem. Temos produtos de excelência já reconhecidos lá fora, (alguns mais que cá dentro). As exportações não param de aumentar. Penso que o panorama é positivo, (mas com prudência). A inovação? Enorme, cada vez que abrimos uma revista agrícola, que vamos a uma feira, existem mais novidades, por vezes até fica complicado acompanhar tudo.

O papel da Escola Agrária deveria ser potenciado?
Eu fui aluno da ESAS, por isso este é um assunto que me toca muito. A ESAS tem muitos professores dedicados e grandes conhecedores do que leccionam. Tem também duas quintas que não estão a ser utilizadas para fins de ensino (uma delas até com instalações, salas de aulas, quartos, cantinas, casas de apoio,etc), e que no meu entender deveriam ser. O papel da ESAS deveria ser potenciado neste sentido, estas terras deveriam ser trabalhadas pelos alunos, para que possam fazer, errar, ensaiar APRENDER no terreno, e não apenas ler estudos\ensaios realizados, por esse mundo fora, nós também somos capazes!! Na teoria isto é bonito, mas na prática tem dificuldades logísticas e de custos muito elevados, pelo que se o país quer melhores técnicos e mais bem preparados que possam criar um agricultura mais inovadora, tem de se apoiar mais as Escolas Agrárias espalhadas pelo país. Por último e se me permite, queria enviar um abraço a todos os colegas Charruas. Ao alto! Ao Alto!

Que conselhos dá a quem queira seguir a carreira de agricultor?
Em primeiro que não vão em cantigas da carochinha, tem de dominar o que quer fazer, seja frutos vermelhos, hidroponia, uma horta biológica, etc. É tudo muito bonito nos “papeis” apresentados por projectistas e comerciais, mas a realidade é outra, prova disso são os inúmeros casos de projectos que arrancaram e agora estão parados por esse pais fora, endividando muitas vezes os agricultores e suas famílias. Em segundo, na minha opinião, esta arte só resulta de for acompanhada de paixão, para quê? Para que possamos trabalhar “faça chuva, faça sol”, não contar horas de trabalho, não ter muitos fins-de-semana, fazer a contabilidade à noite quando se chega a casa, de não ter férias programadas e sobretudo não desistir\desanimar quando as coisas correm mal.

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