Alvaiázere – 12 de Junho de 2022 – 17 horas. Corrida à Portuguesa. Cavaleiros: Rui Salvador, Gilberto Filipe e Marcos Bastinhas; Grupo de Forcados Amadores de Santarém; Ganadaria: Herdade de Camarate; Director de Corrida: Sr. José Soares; Médico Veterinário: Dr. Carlos Santos; Tempo: Muito Calor; Entrada de Público: ½ casa forte.
Tal como Ramalho Ortigão – embora por outras razões – gosto de apreciar uma corrida de toiros em praça no interior do país, onde o público é mais autêntico e genuíno na sua manifestação taurina, sem necessidade de presumir aquilo que não é, mas demonstrando a sua paixão pelo toureio e o respeito pelos toureiros.
O dia estava muito quente, com temperaturas a rondar os 40º, mas mesmo assim o tauródromo instalado nas proximidades do Picadeiro, registou uma boa entrada de público, com a sombra totalmente preenchida e a zona do Sol com algumas clareiras.
Os toiros da Herdade de Camarate estavam bem-apresentados e cumpriram na generalidade, permitindo boas actuações aos cavaleiros e a rodagem de novos forcados do Grupo de Santarém. Sem registarmos nenhum triunfo avassalador, convirá desde logo dizer que todos se esmeraram em dignificar a tauromaquia e honrar-se a si próprios, não desmerecendo o carinho e a simpatia do público.
Rui Salvador emprega-se de igual modo em qualquer praça e perante qualquer público, pugnando sempre por um toureio sério, respeitador das regras fundamentais e valorizado pelos detalhes exibidos na brega. As arenas de reduzido diâmetro “ajudam” os toiros, que investem sempre com mais impetuosidade, posto que, a bem dizer, estão quase sempre em sorte, e o marialva do Nabão soube gerir muito bem esta circunstância, desenvolvendo uma lide agradável, moderando os andamentos das montadas e primando pela colocação de vistosa ferragem. O público apreciou o seu labor e distinguiu-o com calorosas e merecidas ovações. Gilberto Filipe é um toureiro pouco visto nas nossas praças, o que não se compreende, posto que este marialva alia excelsas qualidades de equitação a uma interessante intuição taurina, o que valoriza sobremaneira as suas actuações. Alegre e comunicativo com o público, Gilberto Filipe desenvolveu duas lides tecnicamente muito correctas, que soube engrandecer com alguns andamentos de alta escola nos remates muito aplaudidos pelo respeitável.
A ferragem foi colocada em sortes frontais, à tira, com verdade e rigor, defendendo- se do piso, que em alguns pontos se tornou escorregadio e perigoso. Gilberto Filipe agradou ao público de Alvaiázere e teve o grande mérito de lidar com arte e correcção, mas num registo alegre e bem-disposto, demonstrando que uma expressão toureira respeitadora da ortodoxia não é inconciliável com o dinamismo e a animação. Muito bem!
Marcos Bastinhas completou nesta tarde a terna de cavaleiros e foi fiel ao seu estilo de tourear, em parte influenciado por seu saudoso pai, especialmente em alguns pormenores, que aqui nem sempre se justificaram. A forma desabrida como entrou em praça e o gesto de se desmontar na arena, nem sempre se aceitam, salvo se a actuação tiver sido tão extraordinária, de tal modo que estas atitudes decorram de um natural empolgamento do próprio toureiro e de uma especial consagração por parte do público. Não foi o caso. Bem montado e senhor de boa técnica, Marcos Bastinhas desenvolveu duas lides agradáveis, diferentes entre si, porque também distintos foram os toiros que enfrentou.
Mais andarilho e distraído o primeiro e mais incómodo o que fechou a corrida. No entanto, regista-se para memória futura a colocação de vistosa ferragem, a que não faltaram os pares de bandarilhas que tanto agradam ao conclave.
O Grupo de Forcados Amadores de Santarém, capitaneado por João Grave, aproveitou esta corrida para rodar novos elementos, de que deverá ter retirado boas ilacções, posto que os jovens que aqui se fardaram deram muito boa conta do recado.
Os toiros não complicaram muito a sua função, perdoando-lhes até uma ou outra “verdura”, mas, na sua maioria, também tiveram engenho para não dificultar o que parecia ser fácil, pegando cinco toiros à primeira tentativa e apenas um à quarta.
Nesta tarde de grande êxito, em que também os “ajudas” se destacaram, foram solistas Bernardo Bento, Pedro Valério, Caetano Gallego, Miguel Fernandes, José Miguel Carrilho e Manuel Ribeiro de Almeida.
A corrida, dirigida com acerto pelo Delegado Técnico da IGAC José Soares, com assessoria técnica do veterinário Dr. Carlos Santos, decorreu com óptimo ritmo, pelo que, mau grado a elevada temperatura que se fez sentir, resultou muito agradável, justificando o carinho deste público magnífico.