Desde que o Reino Unido anunciou o seu “Dia da Libertação” da pandemia que nunca mais em Portugal se deixou de discutir quando chegaria a nossa vez. A ansiedade de viver sem as restrições impostas pela pandemia e a ideia de poder usufruir plenamente do verão são forças muito fortes.
O governo abandonou a sua própria matriz de risco, ignorou os imponderáveis da evolução do vírus e traçou um calendário baseado apenas no progresso da vacinação. É um calendário otimista, baseado na ideia ousada (imprudente?) que a vacinação tudo resolverá e, portanto, basta estar de olhos postos na vacinação.
Quando poderemos afinal dar como terminada a fase pandémica da COVID-19? Assim que: 1. O plano de vacinação em curso estiver completo, e 2. A incidência (isto é o número de novos casos de infeção) for muito baixa. Completar o plano de vacinação é a meta a que é humanamente possível chegar para proteção coletiva; uma incidência baixa é um sinal de poucos vírus em circulação.
Com a combinação real destes fatores teremos, por um lado, uma probabilidade mínima de entrar em contacto com o vírus e, por outro, uma proteção máxima caso esse contacto se dê. São os ingredientes para dar como terminada a fase pandémica que atravessamos.
Daí para a frente, mesmo sem pandemia, não poderemos baixar os braços, embora contexto possa ser muito diferente da atualidade: ainda precisamos de melhores medicamentos contra o SARS-CoV-2, testes de diagnóstico mais versáteis e continuar atentos ao aparecimento de novas variantes.
O foco neste momento tem de ser completar o plano de vacinação e atingir uma baixa incidência antes do outono. Não podemos arriscar que o vírus ganhe um novo fôlego e uma vantagem acrescida com a aproximação do inverno. Não cantemos vitória antes do tempo; a consciência do presente é mais importante que ansiedades para o futuro.
Miguel Castanho – Investigador em Bioquímica