O jovem patinador escalabitano, Salvador Amorim, 14 anos, vai representar a selecção nacional de patinagem artística na Taça da Europa, que se realiza em Roccaraso, na Itália, entre 10 e 15 de Outubro.
O jovem, que se iniciou na modalidade com 8 anos, vai competir no escalão de cadetes, numa das mais importantes provas europeias da modalidade.
Em Agosto passado o jovem atleta participou na Taça do Mundo, que se realizou em Gottingen, Alemanha, obtendo o 8º lugar.
Como é que começaste na patinagem artística?
Comecei na patinagem aos 8 anos por acaso. Nunca tinha patinado, nem naqueles patins de rua, mas naquele dia quis experimentar. Experimentei vários desportos devo confessar, mas nenhum me cativou como a patinagem.
Porque é que escolheste a patinagem artística? O que te cativou na modalidade?
Escolhi a patinagem pela sensação de liberdade. Lembro-me de ainda mal me equilibrar nos patins e adorar ver os melhores patinadores a patinarem em vídeos do youtube. E continuo a ver vídeos. E muitos. A ver também se aprende e eu adoro ver patinagem. Então agora que tenho oportunidade de estar lado a lado com os melhores, aqueles que eu só seguia pelo youtube a emoção é mais que muita!
Se tivesses de convencer alguém a praticar, que argumentos utilizavas?
Diria para experimentar. Só experimentando algumas vezes para conseguir ter o equilíbrio necessário para se poder ter a verdadeira sensação de se estar a patinar! Patinar é quase voar, é sentir-se livre!
A patinagem ajuda-te no desenvolvimento pessoal?
Ajuda-me muito. Eu sou um bocadinho tímido e a patinagem é o meu escape para muitas coisas: para os aborrecimentos do dia a dia, para o cansaço. Pode parecer estranho, mas o meu cansaço desaparece quando começo a treinar. O meu foco muda e isso muda tudo! Acho que se muita gente descobrisse algo que os motivasse verdadeiramente, iam ver o quanto é o nosso foco nos problemas que os faz crescer e deixarmo-nos embrulhar neles.
Eu acho que tudo é uma questão da importância que lhe pomos, se damos muita importância cresce, seja bom ou mau, eu prefiro pôr foco e concentração no meu treino, nas orientações dos meus treinadores e aí já não penso em mais nada.
O que te motiva para continuar a treinar?
O interesse em conseguir fazer um novo elemento, que vai valer mais em competição. Caio muitas vezes mas não desisto e levanto-me outras tantas até conseguir. Tenho nódoas negras, mas ponho gelo e passados uns minutos já estou de novo a tentar. É nunca desistir, ter bem o foco no nosso objectivo.
Tens algum ritual ou superstição antes de entrares em prova?
Ritual não, nem superstição. Mas gosto de ter tempo para me concentrar, para aquecer com calma, isso sim podemos chamar, se quisermos, de ritual. Gosto de chegar cedo ao pavilhão para aquecer com calma e ir-me concentrando, as vezes também ouço a minha música em fones parair entrando no ritmo, na artística, na parte dos componentes em que também somos avaliados e onde só se consegue boa pontuação conforme entramos ou não na envolvência da música e tocamos o público e os juízes com o sentimento que nós próprios estamos a sentir e a transmitir.
Somos avaliados pela sensibilidade que transmitimos, pelo sentimento.
Quantas vezes treinas por semana?
Normalmente treino 3/4 vezes por semana. Quando tenho alguma prova importante, como agora a Taça da Europa, treino pelo menos 5 vezes por semana ou mais.
Como é que concilias a patinagem com a escola?
Com uma grande disciplina. Aprendi a aproveitar todos os momentos para estudar e fazer os trabalhos. Muitas vezes estudo a caminho dos treinos, pela Escola Virtual. Raramente falto a um treino, só mesmo por doença. Mas é isso, é aprender a aproveitar todos os momentos e tenho tido resultados: fiz parte do quadro de mérito da Escola Sá da Bandeira 2022, no 8º ano! o que só prova que quando queremos muito algo, se nos esforçarmos e fizermos a nossa parte vamos conseguir chegar lá.
E aproveito para agradecer aos professores que têm sempre facilitado as minhas faltas pela patinagem e agradeço também aos meus colegas que muitas vezes concordam em ajustar horários de trabalhos de grupo se eu não puder por causa de treinos.
Foste chamado para a pré-convocatória da selecção em finais do ano passado. Saíste do estágio com a certeza de que irias ser chamado para representar Portugal?
Não. Claro que há sempre a esperança, mas havia outros atletas com maior segurança e com mais anos de patinagem. Fui á pré-convocatória, usufrui do momento e não deixei de trabalhar ou abrandei o ritmo de treinos por isso. Continuei porque se não fosse chamado agora algum dia iria ser se continuar a trabalhar com afinco.
Qual é a sensação de representar Portugal numa competição internacional?
É uma grande responsabilidade, claro. Senti isso pela primeira vez em Agosto quando fui á Alemanha e o facto de nos apresentarem em Inglês, chamarem o nosso
nome e a seguir dizerem o nosso país dá um frio na barriga. É uma verdadeira adrenalina que nos percorre o corpo e, ou nos faz parar e há casos em que acontece ou avançar, enfrentar e dar o nosso melhor.
Sei que, obviamente, vou estar nervoso quem não ficaria? mas também sei que vou enfrentar e fazer o meu melhor: mostrar o quanto trabalhei diariamente e dar a minha melhor prestação possível á equipa Portuguesa!
Como te preparaste para esta competição?
Treinei quase todos os dias, várias horas, aproveitei ao máximo o tempo que tinha. E sabia, junto com os meus treinadores, dos elementos em que mais falhava e treinei-os bastante.
Espero na prova conseguir fazê-los e ter a melhor nota possível por parte dos juízes.
O que achas mais bonito na patinagem artística?
Sentir-me livre. Mesmo. É como se fosse voar. Claro que depois todo o conjunto de aliar música a elementos que são obrigatórios, mas que dependerão da sua sequência, da forma como são executados, da sensibilidade, da nossa própria forma de o fazer e conseguir chegar aos juízes. Tudo é bonito na patinagem porque tudo tem um objectivo, nada é feito ao acaso. É trabalhoso e querer muitas horas de dedicação, mas quando gostamos muito do que fazemos isso não custa nada!
O que é preciso para ser um bom atleta e um bom patinador?
Treinar, dedicar-se prescindir de muitas coisas também porque para estar a treinar não poderemos ir a uma festa, ao cinema com os amigos, mas se temos objectivos tudo o que deixamos de fazer não custa nada, comparado com o gozo de praticar o desporto que gostamos tanto.
Quem são os teus pilares nesta caminhada desportiva?
Sem dúvida, que não posso deixar de referir os meus pais. São eles que me levam aos treinos, fazem km, gastam muito dinheiro e empenham-se comigo pelo meu objectivo. É como se fossemos uma equipa. Por outro lado, os meus treinadores que têm sido incansáveis, não temos fins de semana nem feriados e nem férias. Se eu e os meus pais não tivemos, eles também não porque eu tinha o Campeonato Nacional e passados 15 dias a Taça do Mundo na Alemanha e agora a Taça da Europa em Itália. Eu não parei de treinar no Verão porque o meu Verão foi assim. Mas ainda bem, é sinal de que mereci. E não me importei nada de estar durante o Verão a treinar, lá está, tinha e tenho objectivos.
Que objectivos tens a curto, médio e longo prazo?
A curto prazo é fazer a melhor prestação possível em Itália, com a responsabilidade de estar na selecção Nacional. Depois, claro, é continuar a treinar já nos próximos esquemas, visualizando já músicas, esquemas, roupas, tudo para a próxima época.
Sei que tenho muito que treinar para aperfeiçoar certos elementos que ainda não estão seguros, mas que, espero estarem nessa altura para poder continuar a fazer boas provas e a ser chamado para a Selecção. É o objectivo de qualquer atleta por isso estou muito feliz!