Sérgio Teodósio tem uma longa carreira ligada à rádio e, desde há quatro anos, aceitou o desafio de encarnar, nesta quadra, a figura de Pai Natal. É em Almeirim que podemos encontrar este comunicador nato que, nesta época, partilha, longe do estúdio, um pouco da sua boa disposição e alegria.

Foto: Hugo Lourenço

Como é que surgiu a oportunidade de encarnar a figura de Pai Natal em Almeirim?
O desafio já surgiu à quatro anos, (no ano passado não houve devido à pandemia), a Helena Fidalgo presidente da MovAlmeirim – Associação Comercial e Empresarial do Concelho de Almeirim, entrou em contacto comigo, lançando o convite de me vestir de Pai Natal animar um pouco a pista de gelo artificial e receber crianças na casa do Pai Natal. Tudo começou com uma brincadeira e graças a uma amiga de longa data que trabalhou comigo desde o tempo das rádios pirata, a Fátima Neves sugeriu o meu nome por saber da minha facilidade e do meu à vontade para falar com todos e, claro, crianças incluídas. (Pelo menos gosto de pensar que o motivo foi esse e não de que mais ninguém aceitou fazer aquilo).

Que sacrifícios teve de fazer para encarar a personagem dessa forma tão natural?
Nesta parte não foi nada difícil encarar a personagem, aliás já não foi a primeira vez que vesti o personagem, a primeira vez foi já há uns anos quando um amigo que tinha um estabelecimento comercial na cidade, ele contratou-me para lá estar umas tardes nas semanas antes do Natal para animar a loja e os seus clientes, mas não devo e sido muito convincente porque a minha filha assim que entrou na loja e ouviu a minha voz disse logo é o pai. Quanto a sacrifícios não consigo encontrar nenhum.

O que lhe dizem as crianças quando as recebe na Casa do Pai Natal?
As crianças têm sempre uma reacção diferente, existem aquelas que nunca viram o Pai Natal ao vivo e estranham, têm medo, algumas nem se aproximam e se as obrigam começam a chorar, com o tempo já aprendi que não vale a pena insistir, já aconteceu uma criança pequena no primeiro impacto chora e não quer, um dia depois volta e já olha, tenta aproximar-se, mas recua e lá pela quarta ou quinta tentativa já não têm medo. Com outras à segunda já está tudo bem e depois temos aqueles que adoram o Pai Natal e até correm quando o vêem.

Sente que a pandemia quebrou de alguma forma o espírito natalício vivido pelas pessoas?
No início até temi que isso pudesse acontecer, uma vez que muita gente está com muito medo de toda esta situação, mas pelo que tenho visto o espírito natalício não morreu, pelo menos na totalidade, uma vez que se vê muita gente a passear com as crianças, a visitarem o Pai Natal e as barraquinhas, vão dar uma voltinha na pista de gelo artificial e regressam a casa, não sei se isso será propriamente o espírito natalício, mas é aquilo que as pessoas sempre fizeram ali naquele espaço. O que se nota muito é a tentativa de afastamento, isso sim dá para ver, andam de máscara e só mesmo os grupos que chegam já em grupo é que andam juntos, os outros nota-se que tentam manter a distância.

Sendo um profissional da área da comunicação, torna-se mais fácil fazer este papel?
Não é por ser profissional da área da comunicação que é mais fácil, pode ajudar, mas não é, tenho um colega que faz radio também há muitos anos e não tem mesmo perfil nenhum para este tipo de actividades. Eu penso que isso nasce com a pessoa, pode ser treinado, aperfeiçoado e melhorado, mas se não for uma coisa natural não é fácil ter paciência e boa disposição durante tanto tempo.

Quando e porque é que ingressou no mundo da rádio?
Temos de recuar algumas décadas para responder a isso, eu comecei ainda miúdo a ouvir a antiga rádio local de Almeirim, ainda no tempo das rádios piratas, os estúdios eram numa garagem de uma casa perto da casa dos meus pais, e eu ia ganhando uns passatempos, mais tarde a rádio mudou de sitio e já tinham participações pelo telefone, mas nessa altura eu não tinha telefone em casa e os telemóveis nem sonhados eram, e eu tinha de ir a correr ao café da esquina telefonar para concorrer, já com 15 anos entrei para a rádio como técnico, só uns dois anos mais tarde me sentei em frente ao microfone pela primeira vez.

Que momento o marcou mais enquanto radialista?
Esta pergunta é difícil de responder, não tenho memória de algo que fosse tão revelador ou surpreendente seja pela negativa ou pela positiva.

As rádios, especialmente as regionais, sofreram uma quebra de audiências há alguns anos. Considere que isso já faz parte do passado ou essas dificuldades ainda são sentidas hoje em dia?
Em Portugal temos um preconceito grande com a nossa língua e a nossa cultura. Vários outros países fazem dobragens de tudo o que passa na televisão deles, as rádios passam quase e exclusivo a música a língua deles, mas em Portugal não, eu até concordo com isso, o contacto com outras línguas permite termos mais facilidade em aprender essas línguas, na minha opinião claro. No nosso País temos uma minoria de pessoas que acha que tudo o que é feito por cá é pimba e tudo o que vem de fora é bom, muitas vezes basta ouvir com atenção alguns sucessos internacionais se os traduzirmos é tal e qual algumas canções que temos por cá e que lhes chamam de pimba. Por causa disso muitas pessoas deixaram de ouvir as rádios regionais porque só passam pimba e isso não é verdade, no caso da Rca Ribatejo a nossa playlist têm muita música em português e de qualidade. Por causa de todas essas ideias muitas pessoas deixaram de ouvir as rádios regionais, mas fora dos grandes centros existem muitos milhares de ouvintes dessas rádios, só que pelos vistos não contam. O grande problema das rádios regionais é a falta de apoios, patrocínios, publicidades, o comercio local e regional vai sobrevivendo, grandes empresas a nível regional não apostam nas rádios que estão perto das pessoas, preferem gastar milhares de euros a nível nacional do que gastar algumas centenas a nível local. Aquando da legalização das rádios existia pelos menos uma por concelho, basta olharmos para o distrito de Santarém e contamos umas 12 ou 13, nem sei ao certo, o mercado não consegue suportar mais e muitas se não fosse o apoio institucional já não existiam. Portanto as dificuldades não são a falta de ouvintes, mas sim a falta de apoios.

Como é que se viveu os últimos confinamentos derivados da pandemia covid-19?
Eu nunca confinei, os órgãos de comunicação social não confinaram, mas vejo muita gente que adorou porque passam o tempo a pedir para voltar ao confinamento, talvez seja bom, não sei.

Quais são os seus desejos para o futuro?
Ter saúde, trabalho e dinheiro, porque tal como referi antes, neste ramo da comunicação social, não sabemos o dia de amanhã.

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