“Paixão desde o primeiro minuto” foi o que o Bruno sentiu quando saltou no trampolim pela primeira vez. Lembra-se também da sensação de voar, do desconforto e da adrenalina, sentimentos que fizeram apaixonar-se pela ginástica.

Tinha 14 anos. Hoje, é um treinador de elite: foi o ginasta no mundo a ter a carreira mais longa de alta competição, mantendo- se 20 anos na Selecção Portuguesa.

Na sua carreira, foram vários os momentos altos, mas temos que recuar até 1999, e viajar até à África do Sul. Era o primeiro Campeonato do Mundo do Bruno. Ele diz: “Inexperiente, estava ali a competir pelo mais puro prazer de saltar. Só. No final? Ouro!”

Actualmente, é treinador de Ginástica de Trampolins no Clube Futebol Estevense e na Associação Desportiva Carregado, é bombeiro e ainda toca trompete. Quando resta algum tempo livre, gosta de estar com os amigos e passear de mota.

Finalizamos com uma frase, dita pelo ginasta, que descreve a vida do Bruno Nobre: “felicidade é algo que se descreve melhor sem uso de palavras”.

Como se sentiu ao ser distinguido com o prémio Treinador Revelação do Ano pela Federação de Ginástica de Portugal?

É óbvio que a sensação é muito boa quando reconhecem o nosso trabalho, até porque não é um trabalho recente tem sido um trabalho que tem vindo a ser demonstrado com alguma frequência em competições “Major”, falo campeonatos do mundo por idades, falo de campeonatos da Europa.

Encaro reconhecimento com muita naturalidade, pois no ano de 2022, Santo Estêvão o Clube Futebol Estevense, trouxe para Portugal dois campeões do mundo por idades no escalões de juniores ( Francisco José ) e no escalão 13 /14 anos no caso da Inês Correia, resultados de relevo que se repetiram em 2023… logo foi reconhecido com resultados muito evidentes para tal reconhecimento.

Quais foram os principais desafios que tem enfrentado ao longo da sua carreira?

Desafios, para não falar da técnica diretamente na sua especificidade, as dificuldades encontradas para adquirir elementos ou de ensinar elementos com grau elevado dificuldade o que acarreta preparações muito mais exigentes, pensadas e calculadas.

Penso que ainda hoje apesar de ser mais fácil acesso ainda se peca muito, nas áreas de acompanhamento psicológico, assim como na área de nutrição até na área de Fisioterapia, são as áreas que precisam ser cada vez mais usadas, em qualquer desporto principalmente na Ginástica de Trampolins. Para se obter resultados de excelência precisamos de tudo um pouco não só talento faz milagres.

Pode-nos falar um pouco sobre o treino de Francisco José e Inês Correia, que obtiveram resultados de destaque no campeonato do mundo?

Os treinos não especificamente da Inês e do Francisco são um grupo de uma dúzia jovens que praticam na Classe de Alta competição, são treinos diários regulares na média de três horas, altamente exigentes pois tem mais de um aparelho para especializar e para se colocarem o mais alto nível para competições de grande exigência como os campeonatos do mundo e da Europa.

Francisco José, ginasta com muito talentoso e igualmente muito trabalhador o que facilita muito a procura do sucesso, características dele, é insatisfeito por natureza, temerário, gosta de desafios e muito competitivo.

Inês Correia é poderosa, super talentosa e guerreira.

Quais são as principais qualidades que procura desenvolver nos seus atletas para que possam competir ao mais alto nível?

Qualquer ginasta para obter resultados de excelência, além de talento muito trabalho, muito treino, tem sempre de ser temerário pois terá que passar por lá do habitual visto em competição muitas vezes teremos de nos comparar os nossos amigos chineses que por norma ando sempre um passo à frente. Desenvolver autoconfiança através de imagética de visualização etc., para que no cenário de nervos e ansiedade a suas prestações possam ser as mais naturais possíveis como se de um treino se tratasse.

Organizados, pois para se fazer alta competição tem de se abdicar de muita coisa da vida pessoal, do convívio com os amigos, sair à noite, de comer coisas menos saudáveis. Organizados para conseguirem fazer tudo e nada ficar para traz (escola/ hobbies …), saber gerir o seu tempo.

E quando a obtenção do sucesso não deixar de ser humilde.

Como foi a sua transição de ginasta de elite para treinador de trampolins?

Como é de conhecimento público, eu comecei tarde a praticar ginástica de trampolins, no entanto fui o ginasta no mundo a ter a carreira mais longa de alta competição, tive 20 anos na Selecção Portuguesa.

Em 2017 quando não consegui mais lugar na nossa selecção resolvi parar, e ser treinador a 100%, pois eu já era treinador desde o ano de 2000, mas como era ginasta ao mesmo tempo, passava mais despercebido, nessa área.

Foi um ano muito difícil eu adorava competir eu adorava treinar, mas a partir do momento em que treinar árduo e não conseguir entrar na nossa selecção após 20 anos não fazia sentido pra mim, e quer queiramos quer não, já tinha passado do limite de idade normal de um ginasta de alta competição. Foi muito triste, mas rapidamente foi substituída adrenalina da minha competição para com os meus ginastas a seguir as minhas pegadas.

Quais são os seus objectivos futuros como treinador, tanto a curto como a longo prazo?

Objetivos tenho vários mas estamos focados o Francisco tem o desejo de ser ginasta olímpico logo este é o seu primeiro ano Sénior e temos intenção de poder lutar pelo apuramento dos jogos Olímpicos 2028 quiçá também 2032, focados numa participação no próximo Verão na China nos ” World games ” que é uma prova muito importante, equiparado aos Jogos olímpicos, mas este pensados exclusivamente para os desportos não olímpicos, ambicionamos resultados no Mundial Sénior 2025 , assim como a Inês Correia no mundial de Idades 2025, com inclusão de mais 1 ou 2 ginastas na alta roda mundial.

A longo prazo, quem sabe possa fazer só o que eu sou feliz a fazer que é o Treino.

De que forma a sua experiência enquanto campeão do mundo em 1999 influenciou a sua abordagem ao treino?

A experiência dos resultados Desportivos, são reais e enchem a nossa bagagem do conhecimento, tanto nas percepções da necessidade, no método a adoptar, de que caminho deve se seguir para cada elemento técnico, para cada dificuldade que se encontra no caminho… pois as experiências que passamos enquanto ginastas e aprendizagens que desenvolvemos e vamos vendo aos nossos colegas de treino ou até adversários de competição, fazer por caminhos paralelos. O juntar desses conhecimentos são uma mais valia; que junto com formação técnica adequada, pode fazer nascer um excelente treinador.

Como avalia o desenvolvimento da ginástica de trampolins em Portugal nos últimos anos?

Portugal na ginástica Trampolins nos últimos 10 anos teve uma evolução gigantesca, com talentosos ginastas a fazer frente e marcar posição contra as maiores forças na prática da ginástica ( China / Rússia / Bielorrússia), apesar de ser um desporto considerado amador em Portugal e que em outros países já são considerados profissionais há muitos anos, temos verdadeiros profissionais em Portugal a levar a nossa bandeira mais além e a demonstração disso é que temos tido participações olímpicas em todas as edições e diversos medalhados em Mundiais e Europeus.

Que conselhos daria a jovens que querem iniciar-se na modalidade de trampolim?

Um desporto muito divertido em que se aprende a voar, que aprendemos a controlar o nosso corpo no meio das ditas cambalhotas e piruetas, o companheirismo na nossa modalidade é muito grande e o ambiente competitivo é muito salutar, tentem, desfrutem e venham aprender connosco.

Como se mantém actualizado sobre novas técnicas e metodologias de treino na ginástica de trampolins?

Penso que no alto nível o segredo está na prática muita prática experiências dentro do ginásio e os caminhos a percorrer para chegar determinados fins. No entanto tento manter-me actualizado com formações on-line e presenciais, como estágios na China, na Rússia, Canadá. Fazendo assim intercâmbios de conhecimentos. Observar, horas e horas campeonatos dos nossos adversários competitivos, para anteciparmos os níveis de exigência, pontuações a atingir e a tendência a seguir no ensinamento.

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