O presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) criticou hoje o “discurso redutor” do ministro do Ambiente relativamente ao uso da água na agricultura e pediu ao ministro da Agricultura uma “política agrícola para a água”.
Eduardo Oliveira e Sousa falava durante o Dia de Campo InovMilho, na Estação Experimental António Teixeira, em Coruche, durante o qual foi inaugurado um Centro de Formação para produtores e técnicos e apresentada a Agenda de Inovação para as Culturas do Milho e Sorgo na presença do ministro da Agricultura, Capoulas Santos.
Realçando o facto de esta estação se encontrar no Vale do Sorraia, “no cerne do regadio”, com elevado contributo para a economia do país e a fixação de populações, o presidente da CAP afirmou ter ouvido “com espanto” o ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, afirmar que “se pretende diminuir os títulos de utilização, diminuir as suas autorizações, dando a entender que se está a usar água a mais”.
“E sobre mais barragens? Nem pensar, governem-se com o que há. Foram as palavras que ouvi. Querem mais regadio? Reguem com menos água. Senhor ministro, este discurso redutor tem de ser contrariado, a começar pelo seu. O regadio, como aqui se vê, é a única forma de enfrentarmos as alterações climáticas e permanecermos nos campos”, afirmou, dirigindo-se a Capoulas Santos.
O presidente da CAP referiu ainda que “já começaram os rumores, através do Ministério do Ambiente ou da APA (Agência Portuguesa do Ambiente), de que o custo de utilização” de águas recicladas “será cobrado aos agricultores e que será até obrigatório o seu uso, caso ela seja uma alternativa mesmo que outra origem esteja disponível e a preço mais reduzido”.
“Espero não ter ouvido bem. Mais não digo porque mais não sei”, declarou.
Oliveira e Sousa pediu “acção” e que o Estado dê a conhecer a visão que tem para a água e a agricultura, quais as estratégias, por regiões e por culturas e para criação de mais reservas, considerando o plano nacional do regadio “curto”.
“Precisamos de uma política agrícola interna, de uma política agrícola para a água, políticas que têm de vir de si”, afirmou, dirigindo-se ao ministro da Agricultura.
Na resposta, Capoulas Santos comprometeu-se a “transmitir o recado” a Matos Fernandes e pediu que, a par da ambição de “desejar muito e mais”, haja também o reconhecimento sobre o que tem sido feito.
Em concreto, apontou o financiamento adicional conseguido para o plano nacional de regadio, de 540 milhões de euros para projectos a concretizar até 2022, dos quais estão já aprovados 300 milhões de euros, em 95 mil hectares de regadio, “entre beneficiações e novos”, com a criação de 10 mil postos de trabalho.
“Portanto, senhor presidente da CAP, estamos a fazer alguma coisa, certamente menos do que desejaríamos, mas não vislumbro qualquer outro momento da nossa história recente em que, em quatro anos, se tenham feito quase 100 mil hectares de regadio”, afirmou.
“Nunca se executou tanta beneficiação de regadio e queremos ir mais longe”, frisou, referindo as negociações em curso para o próximo quadro comunitário de apoio.
O InovMilho – Centro Nacional de Competências das Culturas do Milho e Sorgo, foi criado em 2015, envolvendo 34 entidades parceiras comprometidas em implementar uma estratégia de desenvolvimento e inovação destas culturas, depois de em 2013 ter sido assinado o protocolo de revitalização da Estação Experimental António Teixeira, pela Anpromis (Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo) e o INIAV (Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária).
O diretor do INIAV, Nuno Canada, afirmou que um dos objectivos da estratégia para o sector é aumentar o grau de autoaprovisonamento de cereais dos actuais 23 para 38 por cento em cinco anos, sendo que, no milho, o objectivo é passar dos 35 para os 50por cento, reduzindo a dependência externa, criando valor na fileira e viabilizando a actividade agrícola em todo o território nacional.