No passado sábado, dia 09 de Abril, data da fundação do Correio do Ribatejo, após a ‘Gala de Homenagens’ no Teatro Sá da Bandeira, decorreu, na sede do Jornal, na Rua Serpa Pinto, em Santarém, uma conferência que abordou o “Arquivo Digital do Correio do Ribatejo: Importância da Salvaguarda desta Memória Colectiva” cujos oradores convidados foram Luís Pavão, responsável por todo o processo de digitalização deste periódico, Luís Humberto Marcos, director do Museu da Imprensa e João Palmeiro, presidente da Associação Portuguesa de Imprensa (API).

A iniciativa pretendeu enquadrar todo o processo de digitalização do Jornal, apoiado pela autarquia scalabitana, que reconheceu o papel que este título tem tido na região.
Para João Paulo Narciso, director do ‘Correio do Ribatejo’, a preservação digital da memória escrita em papel de um dos mais antigos jornais regionais existentes no nosso país é um passo fundamental para que se assuma, ainda mais, como fonte de informação privilegiada para o estudo e a compreensão da História do final do século XIX até à actualidade da cidade e do distrito de Santarém.

“Há um número elevado de investigadores e curiosos interessados na consulta destes periódicos. A intensa utilização, o tipo de suporte e o tempo de vida destas fontes históricas podem conduzir à sua degradação e possível destruição. Esta última será irreparável pois só a sede do “Correio do Ribatejo” possui a colecção completa”, lembrou.

“A componente digital, concretizada através de uma mesa interactiva e acesso digital a todas as edições do Jornal, é muito significativa. As comunidades locais serão fortemente beneficiadas no vasto e facilitado acesso a temas de especial relevância para a região, actuais e passados”, explicou o responsável.

Visão partilhada pelo presidente da Associação Portuguesa de Imprensa que, nesta comunicação revelou que o ‘Correio do Ribatejo’ é o título Centenário cujo processo de digitalização está mais “avançado em Portugal”.

Nesse sentido, desafiou a administração do Jornal a integrar um projecto pioneiro que envolve a Universidade Federal de Pernambuco (Recife, Brasil) e a Universidade de Aveiro que estão a trabalhar num motor de busca que permite, através de software de reconhecimento de caracteres, indexar toda a informação contida nas páginas digitalizadas e, assim, permitir pesquisas por termos, expressões, palavras ou imagens.
Em cima da mesa, está, também, a cedência, por parte da Google, do seu algoritmo proprietário – utilizado pela gigante tecnológica na sua digitalização de livros – através do programa ‘Google Arts and Culture’.

“O Jornal, em Portugal, que está mais avançado em termos de digitalização é o Correio do Ribatejo, e queremos propor, já neste Verão, ao Laboratório do Recife e ao Aveiro Media Competence Center (AMCC), que as primeiras experiências que temos que fazer com a utilização deste algoritmo seja com as páginas deste Centenário”, revelou o presidente da API.

Segundo explicou, a AMCC é uma plataforma de apoio e promoção ao sector dos Media da União Europeia (UE) para a implementação de projectos de transição digital e gestão da sua sustentabilidade. Esta iniciativa visa a partilha e estruturação de conhecimento do mercado tecnológico global e promover o acesso a equipas com competências multidisciplinares, através de acções de formação, apoio à regulação tecnológica e acesso a financiamentos públicos e privados.

“A parceria com a Universidade de Aveiro e o Parque de Ciência e Inovação, entidades líderes no pensamento e na inovação tecnológica digital e o apoio da Google, permite-nos não só lançar, desde já, o projecto, como prever que em futuro próximo outras entidades, públicas e privadas, portuguesas, europeias ou globais, se juntem na sustentabilidade deste instrumento de defesa da democracia, da liberdade de imprensa e da luta contra a iliteracia”, referiu João Palmeiro, Presidente da Associação Portuguesa de Imprensa.

É precisamente no campo da “defesa da democracia” que se joga o papel da Imprensa, segundo Luís Humberto Marcos, director do Museu da Imprensa, que, nesta Conferência considerou que “o jornalismo é o oxigénio da sociedade. Sem ele, a democracia esvai-se”.

“Não há democracia sem liberdade de imprensa. Esta é possivelmente o melhor barómetro da vida democrática. Interagem como vasos comunicantes. E inquinam-se mutuamente. Ou reforçam-se na interacção. Nunca se poderá considerar que a liberdade está garantida para sempre. Ela exige luta permanente e o mapa da liberdade no mundo mostra que tem havido retrocessos”, analisou.

Nesta conferência, o director do Museu da Imprensa defendeu, por isso, que a liberdade de imprensa “exige uma emergência mediática”.

“Além da necessidade de haver retornos do uso da produção jornalística, impõe-se a declaração do “estado de emergência mediática”. A saúde da cidadania impõe-na, a exemplo das emergências sanitária e ambiental”, defendeu.

Na sua opinião, vive-se hoje uma crise de excesso de informação, com a ‘galáxia digital’ a impor-se sobre os média tradicionais: “No meio de crises (papel e publicidade), a passagem para o jornalismo digital está longe de satisfazer às necessidades económicas do sector. As empresas jornalísticas precisam de suportes diferentes das de outros ramos. Porquê? Porque desempenham um papel fundamental na sustentabilidade da democracia. Porque são uma necessidade básica da vida, tal como os serviços de saúde e a defesa ambiental”, sustentou.

Por isso, o responsável do Museu da Imprensa vê no processo de digitalização do Correio do Ribatejo um exemplo a seguir e uma oportunidade para que as empresas de Comunicação Social se tornem mais sustentáveis: “foi uma belíssima forma do Correio do Ribatejo honrar o seu aniversário e que mostra que o Jornal sabe viver na era da ‘Écranvivência’. E isso não é estar no passado. É, sim, estar no tempo presente e alinhado com o futuro”.

“A informação jornalística constitui uma pedra angular da democracia. Enquanto não há um modelo de negócio digital sustentado para o sector e enquanto os ‘gigantes tech’ continuam sem lei nem roque, a emergência mediática é uma questão de sobrevivência das democracias”, afirma.

Luís Pavão, responsável por todo o processo de digitalização do Correio do Ribatejo, considerou que este foi um “passo extraordinário” no sentido da “preservação da memória colectiva”.

“Pelo facto de digitalizarmos, estamos a salvaguardar”, disse, acrescentando: “até há uns anos atrás, os jornais eram consultados apenas na biblioteca. Agora, ficarão disponíveis online, podendo as pessoas aceder a partir de casa com toda a facilidade. Há um grande passo em frente no sentido da utilização e divulgação. Acresce que todos estes materiais (papel) são perecíveis e, assim, garantimos a sua salvaguarda.”

Este amplo projecto de digitalização, que decorreu em duas fases, a primeira das quais em 2010 e a última terminada há cerca de dois meses, resultou em mais de 4 TB (Terabytes) de informação.

“São cerca de 60 mil páginas de informação riquíssima que agora podem ser facilmente consultados”, disse, revelando que este foi um dos trabalhos com maior envergadura que a sua empresa, a LUPA, desenvolveu.

“Cada página do Jornal foi digitalizada individualmente, a uma resolução elevada, o que permite uma ampliação grande sem que a imagem perca qualidade. Ou seja: a digitalização mostra muito mais do que o Jornal original e isso poderá ser muito útil aos investigadores”, explicou.

Casa da Imprensa Centenária vai instalar-se em Alcáçovas

Nesta conferência, o presidente da Associação Portuguesa de Imprensa, João Palmeiro, fez ainda o ‘ponto de situação’ relativo ao projecto de candidatura à UNESCO para reconhecimento da imprensa centenária portuguesa como Património Cultural Imaterial da Humanidade, da qual o Jornal Correio do Ribatejo foi percursor e que começou a ser desenhada no primeiro encontro da Imprensa Centenária ocorrido em 2012 por iniciativa do director desta publicação, João Paulo Narciso.

“O processo tem conhecido alguns desenvolvimentos”, começou por dizer João Palmeiro, explicando que, um passo prévio para esse reconhecimento, está praticamente dado, com a candidatura ao programa Memória do Mundo da UNESCO, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura.

“O Correio do Ribatejo, que se publica semanalmente desde 1891, integra a lista de 34 jornais centenários portugueses e 18 brasileiros ainda em circulação que vão formar a candidatura”, conforme anunciou João Palmeiro, revelando que está em estudo a possibilidade de uma candidatura conjunta Portugal-Brasil, contando para isso com o apoio da Associação da Imprensa de Pernambuco.

É convicção de João Palmeiro que “dentro de muito pouco tempo, a Unesco reconheça este acervo tão valioso dos nossos jornais centenários”, sendo que esse reconhecimento como Memória do Mundo da Unesco abrirá caminho a importantes fundos de digitalização.

“O projecto assenta em três pilares: na confiança, que pretende combater as “fake news”; na digitalização dos conteúdos, que funcionam tanto para a preservação como para disponibilização do acervo ao público; e, por último, assenta ainda numa nova linha de negócio que fará renascer no futuro arquivos que até agora estavam mortos”, afirmou.

O programa da Memória do Mundo da Unesco ainda não está aberto, mas a candidatura avançará assim que o programa estiver disponível, segundo indicou.

Depois deste processo, poderá seguir-se, então, a candidatura à UNESCO para reconhecimento da imprensa centenária portuguesa como Património Cultural Imaterial da Humanidade, um projecto que está a ser maturado há uma década e que conta com o apoio da Assembleia e da Presidência da República, que deu o seu reconhecimento a esta iniciativa que integrou o Ano Português da Imprensa, nos anos 2017-2018.

Na sua intervenção, João Palmeiro revelou ainda que “em breve” será formalizado um acordo para instalar, em Alcáçovas (Alentejo), no Paço onde foi assinado o Tratado das Alcáçovas (também conhecido como Paz de Alcáçovas), a “Casa dos Jornais Centenários”.

O projecto contempla a instalação de um Centro Interpretativo, a disponibilização de uma exposição permanente e um auditório para promover conferências e encontros sobre temáticas relacionadas com os media.

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