As três unidades hospitalares do Centro Hospitalar do Médio Tejo (CHMT) estão hoje mais capacitadas para responder a uma calamidade que venha a envolver um grande número de vítimas que necessitem de cuidados hospitalares. Um grupo de trinta profissionais de saúde do CHMT recebeu esta semana três dias de formação intensiva em “Gestão de Incidentes Multivítimas”, pela Academia da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Seja um fenómeno natural extremo, uma catástrofe ambiental, um desastre industrial, um acidente de viação de grande escala, um acto de terrorismo, entre tantas outras possibilidades, estes incidentes têm sempre em comum o facto de serem imprevisíveis e gerarem um grande afluxo de vítimas aos hospitais.
Os Hospitais do CHMT são dos primeiros a nível nacional a adotar esta metodologia, que permite gerir um cenário de catástrofe, aumentando a capacidade de resposta da instituição muito rapidamente, permitindo assim salvar mais vidas num cenário de grande pressão.
Durante os três dias de formação intensiva, o grupo de profissionais do CHMT alterou os circuitos de resposta das três unidades que constituem o CHMT, para reagir a um desastre com múltiplas vítimas, e foram alinhados genericamente novos planos de contingência para situação de catástrofe. Foram também realizados simulacros, com casos práticos, para avaliar a capacidade de resposta dos profissionais de saúde e a boa aplicação da metodologia de prestação de cuidados em contexto de crise de grande escala.
A cuidada preparação e treino das instituições, implícita na formação ministrada pela Academia da OMS, pretende minimizar o risco de colapso, ou a interrupção temporária do atendimento dos serviços. O objectivo desta metodologia é, aliás, permitir um aumento do atendimento de emergência em resposta ao desastre.
“As situações multivítimas são muito frequentes, mais frequentes do que possamos imaginar: incêndios florestais, acidentes em cadeia nas autoestradas, acidentes industriais”, exemplifica Nelson Olim, cirurgião especialista em medicina de catástrofe, responsável por ministrar esta formação da Academia da OMS aos profissionais do CHMT. “Numa situação multivítimas, sabemos que há um grupo de pessoas que, apesar de feridas, vai sobreviver, e que corresponde a cerca de 80% dos envolvidos. Depois, há um grupo de 20% de pessoas que requer cuidados imediatos. Os hospitais precisam de ter sistemas que lhes permitam rapidamente perceber quem são esses 20% e dar-lhes tratamento adequado. Para isso tem de haver um sistema treinado e testado. Senão, o que acontece é que as instituições enfrentam uma primeira vaga de doentes ligeiros, porque são aqueles que geralmente conseguem chegar pelos seus próprios meios ao hospital, e esta primeira onda de doentes faz colapsar o serviço de urgência da instituição. Depois, quando chegam os doentes verdadeiramente graves já não têm espaço e disponibilidade de recursos”, enquadra o médico, explicando a necessidade de preparação e planeamento para este tipo de situações.
“Não basta fazer o que se faz todos os dias, mas mais depressa”, afirma, Nelson Olim. O serviço de urgência numa situação de calamidade é integralmente reconfigurado, e passa a ser um ponto de reanimação e de distribuição de doentes para outras alas do hospital. “Os doentes são reanimados, são estabilizados na urgência, mas o tratamento final acontece noutro local. Estas são as estratégias que permitem a uma urgência, mesmo que relativamente pequena, consiga receber dezenas de doentes, porque eles estão apenas de passagem”, declara Nelson Olim.
A equipa de formandos do CHMT envolveu médicos, enfermeiros, farmacêuticos, administrativos, pessoal do armazém, da gestão hoteleira e seguranças. Nelson Olim explica: “Gerir uma situação destas não passa apenas pela componente clínica. Por exemplo, a componente da segurança é fundamental. Há novos circuitos a serem estabelecidos, de entrada e saída, há kits que têm de ser preparados, para serem mobilizados assim que o plano é ativado, e estão a cargo ou da farmácia ou do aprovisionamento. O pessoal administrativo tem um papel muito importante porque tem de ser colocado em pontos estratégicos para que consigamos saber quantos doentes estão no serviço, para onde foram, onde estão.”
“Esta formação foi muito enriquecedora. Estamos habituados ao contexto da sala da urgência, mas fomos transportados para uma zona de desconforto da catástrofe”, afirma Piedade Pinto, Enfermeira Diretora do CHMT, que integrou a equipa que recebeu a formação. “Percebemos que a qualquer momento podemos ter de enfrentar um ou mais incidentes com múltiplas vítimas associadas e temos que estar preparados para mudar integralmente a nossa forma de reagir. Isso exige muito treino e planeamento, mas a nossa missão é salvar vidas e vamos seguramente integrar esta metodologia da OMS nos novos planos de contingência que os Hospitais do CHMT estão a reformular”, afirma a responsável que integra o Conselho de Administração do CHMT.