Santarém – Domingo, 19 de Março, às 16 horas. Corrida à Portuguesa / Festas de São José. Cavaleiros: João Moura Júnior e Francisco Palha, mano-a-mano; Forcados: Amadores de Santarém e de Évora; Ganadaria: Murteira Grave (570, 530, 520, 575, 530 e 570 kgs.; Director de Corrida: Marco Cardoso; Veterinário: Dr. José Luís Cruz; Tempo: Ameno; Entrada de Público: ¾ Fortes.

Santarém marcou mais uma vez uma posição de destaque na afirmação da festa brava em Portugal, logrando preencher as bancadas da Monumental “Celestino Graça” com mais de dez mil espectadores, o que proporcionou uma moldura impressionante, digna das Festas de S. José, que também registaram um grande sucesso a nível de afluência de visitantes.

Durante as cortesias cumpriu-se um minuto de silêncio em memória do ilustre Comendador Manuel Rui Azinhais Nabeiro, um Homem extraordinário, verdadeiro símbolo da solidariedade e da responsabilidade social, que teve projecção nacional, mas sobretudo a nível de Campo Maior.

Lembramos que o Comendador Rui Nabeiro foi um grande aficionado, sendo sogro do saudoso Joaquim Bastinhas e avô de Ivan Nabeiro, antigo forcado, e do cavaleiro Marcos Tenório Bastinhas.

O aliciante desta corrida em Santarém estava assente na competição entre dois dos mais categorizados toureiros da sua geração – João Moura Júnior e Francisco Palha – que tudo fizeram para não defraudar as expectativas dos milhares de aficionados presentes, pois ofereceram-se por inteiro à competição, elevando ainda mais alto a fasquia inerente a tão arrojado desafio.

Do ponto de vista artístico não poderemos considerar que a corrida tenha sido um êxito memorável, no entanto temos de ter em linha de conta que estes dois marialvas tiveram a dificuldade acrescida de enfrentar toiros da prestigiada ganadaria Murteira Grave. Uma palavra de apreço para o ilustre ganadeiro da Galeana que primou na corrida que trouxe a Santarém, irrepreensível de apresentação e a abrilhantarem o espectáculo, mandando a justiça que se diga que a emoção vivida na Monumental “Celestino Graça” ficou muito a dever-se ao poderio destes seis toiros, destacando-se a nível de bravura o que foi lidado em terceiro lugar por João Moura Júnior, que bem justificou a volta à arena ao ganadeiro.

Sem a mínima contestação o triunfo da tarde recaiu na actuação de João Moura Júnior, que esteve muito bem no conjunto das três lides, porém a cereja no topo do bolo foi a lide efectuada ao segundo toiro do seu lote, um toiro bravo que o cavaleiro de Monforte bem mereceu pela lide que rubricou, impondo-se ao seu oponente, mandando nos seus terrenos e primando pelo toureio frontal, com reuniões muito apertadas e remates primorosos. Para sempre restarão na nossa memória as duas mourinas com que culminou tão portentosa actuação e que, a bem dizer, consagraram a qualidade exibida. Esta lide e este toiro marcarão, sem dúvida, a temporada de Moura Júnior.

Frente aos toiros lidados em primeiro e em quinto lugares Moura Júnior voltou a andar em grande plano, desenhando as sortes com muito acerto e valor, porém apesar de todo o seu empenho não foi possível alcançar o mesmo nível técnico e artístico, valendo pelos detalhes de bela expressão que conformam a tauromaquia mourista.

Deste modo, João Moura Júnior conquistou o posto em aberto no cartel do próximo dia 3 de Junho, data em que alternará com os cavaleiros Rui Fernandes e João Ribeiro Telles, o que equivale a dizer que teremos mais uma corrida de elevado índice competitivo.

Se é verdade que o triunfo de Moura Júnior foi indiscutível, não é menos certo que as actuações de Francisco Palha muito o valorizaram, pois, o marialva ribatejano, que não foi bafejado pelo sorteio, nunca desistiu de sacar o triunfo da tarde. Tocaram- lhe pela frente os toiros menos fáceis, mas por uma ou por outra razão Palha não conseguiu estar ao seu melhor nível.

Obviamente, nunca podemos ficar insensíveis à maneira como Francisco Palha constrói as suas lides, citando de largo e em sortes frontais, reunindo em terrenos do máximo compromisso e alegrando os remates com adornos vistosos e de grande valia técnica. A atitude séria e a verguenza torera que o caracteriza, o aprumo em cada sorte e o risco que está associado a tudo quanto expende na arena saíram incólumes deste confronto. Desta feita saiu em plano de triunfo João Moura Júnior, mas na próxima competição – já marcada para dia 2 de abril, em Almeirim – haverá, decerto, um certo sabor a desforra.

A infelicidade de haver colocado muito descaído o primeiro ferro comprido ao último toiro da tarde já noite, que recebeu em sorte de gaiola – como todos os toiros foram recebidos por ambos os marialvas! – pesou nesta derradeira função, em que Francisco Palha apostava todas as forças, mas mesmo assim rubricou detalhes muito importantes, que o conclave soube apreciar e aplaudir.

Se a corrida não foi fácil para os cavaleiros, outro tanto se pode dizer a propósito dos forcados que suaram as topinhas para honrar as respectivas jaquetas de ramagens.

Os Grupos de Forcados Amadores de Santarém e os de Évora, cujos Cabos – respectivamente, João Grave e João Pedro Oliveira – se despedem na corrente temporada, acumulam ao prestígio do seu historial as boas actuações que geralmente concretizam, mas nesta tarde tiveram um imenso desafio pela frente. Que, malgré tout, superaram.

Pelos Amadores de Santarém foram solistas Francisco Graciosa – o próximo Cabo – que foi desfeiteado em oito tentativas, tal era a dureza do toiro, sendo transportado ao hospital de Santarém, e depois ao S. José, onde ficou internado alguns dias. Caetano Gallego rendeu o valoroso Graciosa e à sua segunda tentativa logrou consumar rija pega, com a ponderada condescendência do Director de Corrida, que teve uma atitude notável; Salvador Ribeiro de Almeida consumou rija e emotiva pega ao segundo intento; e a fechar esta difícil actuação evidenciou-se o jovem forcado Francisco Cabaço que rubricou excelente pega à primeira tentativa.

Pelos Amadores de Évora foram solistas José Maria Passanha, que ao terceiro intento consumou rija pega; o futuro Cabo José Maria Caeiro rubricou uma pega tecnicamente irrepreensível e com o forcado a aguentar uma viagem muito turbulenta; e a fechar a corrida com chave de ouro destacou-se o forcado Ricardo Sousa, que consumou com brilhantismo a sua sorte numa única tentativa.

Enfim, uma tarde muito dura para a forcadagem, pois são estes toiros que põem à prova a qualidade e o valor de quem ousa bater as palmas a um toiro numa praça como a Monumental Celestino Graça, que tem os seus quês. Não querendo ensinar a missa ao padre, como sói dizer-se, afigura-se-nos que as segundas ajudas deveriam estar mais próximas do primeiro ajuda, pois quando o forcado da cara tem de citar o toiro nos seus terrenos a distância que este percorre sozinho na cara do toiro, a aguentar os respectivos derrotes, é demasiada, pelo que os ajudas tardam, comprometendo, assim, o sucesso da sorte. Dar vantagens aos toiros é uma coisa, mas atrasar as ajudas é outra. Penso eu.

Direcção correcta de Marco Cardoso, entendendo-se a sua tolerância na condescendência com o Grupo de Santarém, na primeira pega, e acerto das “cuadrilhas” dos dois marialvas, por quem pouco se deu, o que, normalmente, é muito bom sinal. Enfim, uma corrida com muito interesse e de que muito se falará também pela excelência dos toiros de Murteira Grave.

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