Em 1978, o meu irmão Fernando João Nogueira Carvalho era o mais jovem de todos os deputados da Assembleia da República na I legislatura. Eleito por Santarém na lista do PS às legislativas, havia sido um dos fundadores da respetiva federação distrital no pós-25 de abril.

No ano anterior, tinha visitado a Suécia, integrado numa delegação de dirigentes distritais e presidentes de câmara, onde conheceu a também dirigente distrital e autárquica do partido homólogo sueco – social democrata – Ulla Petterson.

A partir daí, a cumplicidade entre os dois extravasou o campo político-ideológico e, em finais de 1978, já a então futura presidente da Câmara Municipal de Norrkoping adotava o apelido Carvalho e o meu irmão fixava, em definitivo, residência na Suécia.
Desta união, nasceram duas meninas luso-suecas chamadas Paula e Teresa.

Ainda eram elas crianças pequenas, nos anos 80, e já as questões do “inato ou adquirido” – em que grau uma característica é inata (por exemplo, herdada geneticamente) ou adquirida através da interação com o ambiente físico e sociocultural – me atormentavam.

Qual seria, então, a probabilidade de as minhas jovens sobrinhas virem mais tarde a abraçar as causas, a ideologia ou a área de atuação profissional dos pais, com o mesmo apelo de cidadania e sentido de interesse público (que a meu ver, é o que caracteriza, no essencial, os bons políticos)?

Diria que essa probabilidade era enorme. Mas, mais em função das vivências que previsivelmente viriam a ter num contexto sócio cultural propício (adquirido), ou sobretudo via transmissão genética (inato)?

Nessa altura – anos 80 – devemos assinalar que a ideia prevalecente, ou até dominante, era a de que o espírito humano é uma espécie de “tábua rasa” e que toda a sua estrutura provém da socialização, da cultura, da educação dos filhos e da experiência.
Pelo contrário, hoje, a genética e as neurociências estão a mostrar cada vez mais que o cérebro é intrinsecamente estruturado e nascemos com certos temperamentos e talentos.

A Paula Kristina Petterson Carvalho, atualmente, é membro do Governo da Suécia (liderado pelo Partido Social-Democrata, correspondente ao Partido Socialista português), como Secretária de Estado da Cooperação Europeia.

A Teresa Kristina Petterson Carvalho é hoje deputada no Parlamento sueco e uma influente dirigente do partido social-democrata sueco.

Ambas têm licenciatura em Relações Internacionais, área a que o pai dedicou boa parte da sua vida profissional.

Inato ou Adquirido?
Tenho uma tendência inata para acreditar sobretudo no primeiro: os talentos dificilmente se “adquirem.”

Mas tenho a certeza que a paixão que as minhas sobrinhas nutrem pelo Benfica e pelos eternos Beatles foi adquirida! Correto, Fernando?

Inato ou Adquirido – Pedro Carvalho

Leia também...

‘Folclore e Política’, por Pedro Carvalho

Se há algo que me irrita solenemente é o uso por parte de políticos e comentadores da palavra “folclore” num sentido pejorativo, como sinónimo…

Opinião: Traços comuns…

Por entre memórias de tempos, visitamos o passado. Por entre fotografias antigas e conversas, percebemos que existem tantos temas que se perderam mas ainda…

Com calma ganharemos a liberdade…

Foi uma Páscoa diferente para todos. Sem encontros de família, sem beijos, sem abraços. Mas, com amor, com as famílias reduzidas ao seu núcleo…

A importância do Teletrabalho… Ou como uma Pandemia obrigou muitos a criar condições para permitir a conciliação entre o trabalho e a vida familiar

Há quase duas décadas que o teletrabalho existia e era praticado no nosso país. Ainda que amiúde, este regime de prestação de trabalho já…