O Grupo de Futebol Empregados no Comércio “Caixeiros” completa este ano 103 anos de existência na cidade de Santarém. Paulo Melo é presidente do clube desde Setembro de 2018 e tanto ele como a sua equipa de direcção estão a trabalhar desde Setembro de 2019 numa remodelação no clube, tanto a nível administrativo como ao nível do staff técnico das equipas. A instituição conta com 70 atletas divididos por cinco modalidades, sendo elas o Ténis de Mesa, Xadrez, Futsal, Caravanismo e Montanhismo e o Andebol. Em entrevista ao Correio do Ribatejo, Paulo Melo relata as dificuldades financeiras que o clube atravessa devido à pandemia covid-19, revela o sonho de ter uma nova sede e o grande projecto para o Andebol que quer ser referência no distrito.

Que balanço faz da presente época?
O GFEC encontra-se em fase de remodelação desde Setembro de 2019, quer quanto à sua estrutura administrativa, quer quanto ao staff técnico das equipas. Houve a reafirmação do Andebol, do Ténis de Mesa e do Xadrez como actividades principais do clube. O Hóquei em Patins foi entretanto suspenso mas deverá ser uma realidade, possivelmente já na próxima época. Até à declaração do Estado de Emergência, todas as secções estavam a iniciar os seus campeonatos, salvo a de xadrez que estava a meia da época, mas o balanço é positivo apesar da paragem

Que impacto teve esta paragem forçada nas competições?
Esta paragem coincidiu com o início das competições quer no Andebol, quer no Ténis de Mesa, nomeadamente a fase preliminar das competições e veio prejudicar o desenvolvimento dos atletas. Quanto ao Xadrez e Futsal implicou a paragem das competições e respectivos resultados.

Como é que o clube está a viver este novo tempo?
Aproveitamos o tempo de paragem para reorganizar e repensar todas as actividades no clube. A primeira coisa que pensámos foi dar início ao nosso recinto do Ringue dos Caixeiros. Aí iremos ter a prática da modalidade de Teqball ao ar livre, que será aberta a todos aqueles que aí pretendam praticar a modalidade. Nesse mesmo local, teremos também máquinas de ginásio ao ar livre e futebol de 5 logo que seja possível e de acordo com as regras impostas pela Direção Geral de Saúde. O Xadrez e o Ténis de Mesa, como modalidades individuais que são, vão ser praticados na sede do clube, aqui também de acordo com as regras e número de pessoas autorizadas em locais fechados pela DGS. Quanto às restantes modalidades, estamos a aguardar pelo desenvolvimento e decisões das diferentes Federações e Associações.

Ao nível da formação de atletas quais foram os impactos? Houve atrasos na evolução de jogadores?
Esta paragem desmotivou os atletas com a consequente suspensão dos treinos presenciais. Na secção de Andebol, por exemplo, os atletas foram treinando de forma virtual mas a falta de competição naturalmente que influencia a progressão do nível dos jogadores.

O clube tem alguma preocupação a nível financeiro?
Financeiramente existem diversos problemas. Primeiro pela falta de receita face à paragem da actividade desportiva e isso levou à diminuição de valores do apoio por parte da Câmara Municipal de Santarém à formação. Também o cancelamento do evento ‘Andebol CUP’, que estava marcado para o final de Março e que à última hora teve de se mudar para Setembro também provocou dano a esse nível. Fica a promessa que na Páscoa de 2021 vamos ter evento onde esperamos ter mais de 500 participantes. Se normalmente já existem dificuldades, mais surgirão neste tempo. Só a renda das instalações da sede leva cerca de um quarto do orçamento anual do clube. Temos tentado que a Câmara Municipal de Santarém nos ceda um local para instalarmos a sede com dignidade. Julgamos ser a única Associação a quem a Câmara, até hoje, ainda não arranjou local, mas até esta data todas as respostas foram sempre negativas. Se a curto prazo não existir solução pode estar em causa a manutenção deste clube que vai fazer 103 anos.

O clube tem em vista novos projectos a nível de Andebol, sendo esta a modalidade mais proeminente no clube. Que projecto está pensado para a modalidade?
Qualquer projecto que se implemente terá que passar por uma aposta forte na formação mas também voltar a dar expressão ao Andebol na nossa cidade rapidamente. A melhor maneira para isso acontecer é voltar a ter uma equipa de seniores a competir e a ter boas exibições nas competições.

Que é preciso para ter equipas competitivas ao nível de Andebol?
Primeiro de tudo é preciso captar a atenção dos jovens, pais e professores para a modalidade de Andebol. Cada vez mais a distância para as outras modalidades está a aumentar pois como se sabe o Andebol já não é uma modalidade “obrigatória” nas escolas. Portanto a prática do Andebol vai depender da vontade e disponibilidade dos professores nas escolas. Também houve, nos últimos anos, uma desatenção da equipa responsável pelo Andebol no clube sobre estas situações e principalmente neste ano desportivo, pois a situação em Janeiro era bastante grave e estava no caminho de arruinar o Andebol na nossa cidade. Neste momento as modalidades que não sejam futebol ou futsal necessitam de ir atrás de atletas e quase implorar para experimentarem o Andebol. É um processo complicado pois crianças com cinco anos já sabem o que é o futebol ou futsal e acabam por não ter conhecimento das outras modalidades. Isto é uma questão cultural em Portugal pois a única coisa que se vê nas televisões é o futebol e isso já serve como captação da parte dos clubes desta modalidade. É um assunto bastante extenso que se podia desenvolver mais e até seria interessante desenvolver esse assunto pois mexe com várias questões sociais.  
Em segundo, é necessário captar várias crianças pois só com muitas crianças a praticar Andebol é que se consegue na realidade a progressão e voltar a ter equipas competitivas.   
Em terceiro, é necessário trabalhar com profissionais que consigam acrescentar, na realidade, alguma coisa na modalidade Andebol pois se tivermos vários atletas e não tivermos uma equipa técnica capaz então não se vai conseguir criar equipas competitivas.  

A formação vai ser a base deste projecto?
Sim a formação é a base deste projecto, queremos que o Andebol de Santarém seja um foco no distrito. Temos também como objectivo criar primeiro um bom ser humano e só depois criar um atleta. Estamos nesta luta para ter equipas competitivas mas é uma alegria ver os nossos atletas formarem-se como um bom ser humano. Queremos também não só formar atletas que possam no futuro integrar na equipa de seniores, mas também formar treinadores ou dirigentes do clube pois também é uma dificuldade actualmente encontrar treinadores ou dirigentes que queiram ajudar o clube.    

O Clube tem pensado algum torneio ou competição nesta modalidade?
Temos como objectivo devolver o ‘Andebol Cup’ aos sócios e escalabitanos. Era uma realidade que estávamos a trabalhar desde Janeiro, para devolver já este ano o torneio mas devido a esta situação de incerteza ainda não sabemos se é possível. Estamos a trabalhar para ainda este ano ter o torneio de volta, essa é a garantia, obviamente que queremos que o ‘Andebol Cup’ se realize nas mesmas datas que eram praticadas antigamente, na altura da Páscoa.

Qual é a perspectiva de futuro para após esta paragem?
Esta paragem veio estagnar toda a mudança que estava a ser implementada na gestão do clube e nas suas secções. Se o retorno à actividade ocorrer, dentro de breve prazo, contamos conseguir ultrapassar e retornar aos objectivos preconizados, com o apoio de todos os atletas, pais, sócios, dirigentes e amigos dos “Caixeiros”, bem como da Câmara Municipal de Santarém na solução para uma sede condigna para o clube.

Que mensagem quer deixar a todos os que compõe o clube?
2021 será o ano da mudança!

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