Ana Correia, 22 anos, criou o projecto “Vizinho Amigo” para ajudar a população idosa do Entroncamento.
Um projecto de estágio em Educação Social que surgiu devido à pandemia da covid-19. A jovem estudante defende que trabalha diariamente “para alcançar” os seus objectivos e para se realizar “enquanto pessoa e enquanto profissional”. Para Ana Correia a palavra desistir não faz parte do seu vocabulário.

O que a levou a licenciar-se em Educação Social?
Foram vários os motivos que me levaram a tirar a licenciatura em Educação Social, principalmente, o interesse em ajudar o próximo. A minha sensibilidade para as causas humanas e a constante procura de ajudar quem mais precisa. O sentido cívico de melhorar a vida das pessoas e das famílias em situação de vulnerabilidade.
A Educação Social é uma área através da qual podemos intervir com diversos públicos, sendo, por isso, fascinante, os contextos em que vamos trabalhar, promovendo sempre o bem-estar e a qualidade de vida dos utentes.

Qual é o aspecto mais gratificante nesta área?
Transformar algumas vidas. Ver a evolução e autonomização do público-alvo com quem trabalhamos. Perceber as suas fragilidades, ouvir as suas histórias de vida, mas principalmente ajudá-los. Como tantas vezes ouvimos, mais do que dar o peixe precisamos de ensinar a pescar. Nesta profissão devemos seguir esta ideia. Muito mais que dar, temos que ensinar a conquistar e a lutar para ter.

Que características deve ter um Educador Social?
O Educador Social deve ter um conjunto de características humanas, de modo a desempenhar bem as funções que lhe são confiadas e exigidas. Além da importante formação académica, deve ainda possuir uma enorme humildade, espírito crítico, deixando um pouco de lado, as opiniões ou ideias de senso comum. Deve ser organizado, sensível às causas humanas, atento e determinado nas suas decisões. Deve ainda ser dinâmico, criativo e responsável.

Criou o projecto “Vizinho Amigo”. Como surgiu?
Sim é verdade, criei o projecto “Vizinho Amigo” na cidade do Entroncamento, na sequência da presente pandemia. No plano curricular da licenciatura é reservado ao último semestre um estágio de implementação e avaliação de um projecto. Deste modo, e na impossibilidade de implementar o projecto desenhado antes da covid-19, foi necessário redireccionar o mesmo para as actuais necessidades da instituição onde estou a estagiar, na Cáritas Diocesana de Santarém, face à emergência. Como tal, decidi pegar neste projecto já existente em algumas cidades do nosso país e implementei-o perto da minha área de residência.

Com que objectivos?
O projecto “Vizinho Amigo” tem como público-alvo os utentes da Cáritas Paroquial do Entroncamento, mas foi também de modo a abranger um maior número de participantes, aberto aos residentes da cidade com mais de 60 anos e/ou de risco. O projecto tem como principal objectivo ajudar o público-alvo, na aquisição de bens essenciais ou medicação, promovendo a permanência em casa, de modo a conter a propagação da pandemia. Tratando-se da população de risco face à covid-19, o mesmo foi desenhado com o intuito de levar aos utentes os bens essenciais, podendo ainda sinalizar alguns casos, onde seja necessária alguma intervenção. O mesmo tem ainda como objectivo manter um contacto com a população mais idosa nesta fase de isolamento social.

Sente que o papel dos Educadores Sociais, nesta altura, faz mais sentido do que nunca?
Sim, sem dúvida. Vivemos uma fase bastante complicada, com consequências evidentes, onde o Educador Social é mais uma vez chamado a intervir. É fundamental perceber e identificar os grupos de risco, sinalizar quem precisa de ajuda e proporcioná-la. O Educador Social tem um papel fulcral nesta fase de pandemia, com os diversos públicos com quem desenvolve a sua actividade.

Como tem tentado contrariar os receios naturais dos mais idosos?
Nem sempre é fácil. São, infelizmente, muitos os receios, dúvidas e preocupações dos mais idosos. Para contrariar estes receios é necessário estar bem informada de modo a tranquilizá-los. Transmitir aos mais idosos uma mensagem positiva, de esperança, mas ao mesmo tempo consciencializá-los dos cuidados que devem tomar.

Para além deste tem outro projecto ou actividade que gostaria de concretizar no futuro?
Muitos. Num futuro próximo gostaria de fazer uma missão. Abrir o meu horizonte, conhecer novas realidades e contribuir com a minha ajuda, no combate à pobreza, no Brasil ou em África. A intervenção com crianças de risco é outro dos projectos que desejo concretizar no futuro. Além da solidariedade, estou directamente ligada com a área da Comunicação Social, que espero e desejo manter na minha vida. Quero, acima de tudo, deixar um marco positivo na vida de alguém, e se assim for, terei cumprido bem o meu papel de cidadã e profissional da Educação Social.

Leia também...

“No Reino Unido consegui em três anos o que não consegui em Portugal em 20”

João Hipólito é enfermeiro há quase três décadas, duas delas foram passadas…

O amargo Verão dos nossos amigos de quatro patas

Com a chegada do Verão, os corações humanos aquecem com a promessa…

O Homem antes do Herói: “uma pessoa alegre, bem-disposta, franca e com um enorme sentido de humor”

Natércia recorda Fernando Salgueiro Maia.

“É suposto querermos voltar para Portugal para vivermos assim?”

Nídia Pereira, 27 anos, natural de Alpiarça, é designer gráfica há seis…