Aos 19 anos, Matilde Almeida, estudante de Som e Imagem na ESAD.CR, e natural de Alhandra, vai ver exibida a sua primeira curta-metragem num festival de cinema. Intitulada “Setentrional”, a ‘curta’ será exibida pela primeira vez na Curt’Arruda e ilustra o poema “Setentrional” de Cesário Verde. Narrado pelo autor e escritor José Luís Peixoto, “Setentrional” acompanha a essência do amor de um casal que se alterou com a mudança de vida do campo para a cidade. Um romance emocionante onde as palavras de Cesário Verde ganham vida na tela.

Como descobriu a sua paixão pelo cinema e o que a inspirou a seguir essa carreira?

Recordo-me de quando era mais nova e o meu pai costumava levar-me, juntamente com a minha irmã, ao cinema todos os fins de semana. Acabei por me apaixonar por aquela sala escura com um ecrã enorme, que me permitia mergulhar para dentro de outra realidade. A partir de certa altura, o meu sonho era ver filmes com a frase “Realizado por Matilde Almeida” a serem exibidos naquelas salas.

Quais são os principais desafios que enfrentou ao começar a sua jornada como cineasta?

O principal desafio foi perceber que nunca conseguiria fazer um filme bom, de duas horas, sem ter a experiência prática necessária. Quando entramos neste ramo, temos sempre as espectativas muito altas e tornamo-nos ambiciosos. É importante compreender que temos de trabalhar muito até conseguirmos realizar uma boa longa-metragem. Outros desafios são a procura de financiamento, a pressão emocional de tentarmos sempre ser os melhores e a falta de experiência prática, que é essencial e demora anos a conquistar.

Quais os realizadores ou filmes que tiveram o maior impacto na sua abordagem ao cinema?

Gosto imenso da estética dos filmes do Wes Anderson, adoro os planos e a paleta de cores. Outros realizadores que me marcaram bastante foram o David Fincher, o Jordan Peele e a Greta Gerwig. Sinto que o filme que me fez apaixonar pelo mundo do cinema foi o “10 Things I Hate About You” do Gil Junger, o qual eu nunca me canso de rever.

Pode partilhar um pouco acerca do projecto cinematográfico, “Setentrional”? Como foi a experiência de o produzir?

“Setentrional” foi a minha primeira curta-metragem e realizei-a com o meu namorado e colega, Renato Silva. Foi um projecto criado para participar especificamente no Festival Curt’Arruda e nasceu de um poema que lemos de Cesário Verde, intitulado “Setentrional”.

Foi muito gratificante poder fazer uma curta-metragem fora do contexto escolar, sem pensar em avaliação, e focar-nos apenas em fazer um bom trabalho. Nada disto seria possível sem os nossos queridos actores: Mariana Dionísio, Diogo Leite, Paula Pinto e José Pinto; e o escritor José Luís Peixoto, que se mostrou disponível para dar voz a este poema maravilhoso.

Recordo-me que quando vimos o filme pela primeira vez, depois de montado, ficamos muito emocionados… Tinhamos conseguido produzir uma curta-metragem, sozinhos, finalmente!

Quais são as suas maiores fontes de inspiração ao criar os seus filmes?

As minhas maiores fontes de inspiração são livros que leio, filmes que vejo e conversas que tenho. Tento sempre partir de ideias minhas, mas claro que tenho as minhas referências, como todos os bons cineastas. E ainda tenho muita pesquisa a fazer, estou só agora a começar…

Como descreveria o estilo ou a temática predominante nos seus trabalhos cinematográficos até agora?

Até agora tenho feito trabalhos mais simples, pegando num texto ou apenas numa ideia e partir daí. Penso que para o futuro, irei fazer trabalhos que deixem o espectador a pensar… Gosto de pegar em temas pouco falados, controversos ou que façam pensar. É uma boa maneira de captar a atenção do público, fazer com que eles não esqueçam o nosso trabalho e criticar, indirectamente, o que quiser criticar.

Que recursos e ferramentas têm sido mais úteis para si na realização dos seus filmes?

Tive a sorte de ter tido professores muito bons no 1º ano da minha licenciatura em Som e Imagem na ESAD.CR, que me deram as melhores bases para nunca perder a vontade de seguir este sonho. Foi com eles que aprendi a fazer bons storyboards, repérages, mapas de rodagem, argumentos e guiões, que são as ferramentas mais úteis para a realização de um bom filme. É muito importante ter uma óptima pré-produção e segui-la, sempre que possível.

Qual é a importância do storytelling no cinema, na sua opinião?

O storytelling no cinema desempenha um papel crucial ao criar uma ligação emocional entre os filmes e o público, pois permite contar histórias de forma envolvente e não só cativa a audiência, como também proporciona uma compreensão mais profunda das personagens e das situações apresentadas. Além disso, um storytelling bem executado tem o poder de influenciar a opinião pública, promover a empatia e estimular o pensamento crítico, transformando simples filmes em obras de arte impactantes.

Como planeia evoluir na sua carreira de cineasta e quais são os seus projectos futuros?

Quero continuar a estudar e a descobrir cada vez mais sobre este Universo mágico que é o cinema, e espero continuar a fazê-lo com o Renato, com quem mantenho uma parceria bastante produtiva. A meta é todos os anos produzir, pelo menos, uma curta-metragem fora do contexto escolar, desenvolvendo as minhas capacidades narrativas, cinematográficas e de realização.

E quem sabe, um dia, ter uma longa-metragem a passar numa sala escura com um ecrã enorme!

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