Jorge Cancela – Ecostatus
DIVULGAÇÃO APRODER
Nascido em Lisboa, primeiro alfacinha de gerações de minhotos ligados à construção e de ribatejanos ligados à agricultura, Jorge Cancela, talvez pela bela mistura desses dois saberes, formou-me em Arquitectura Paisagista em 1986, mas o apelo da terra falou mais alto levando-o a investir numa empresa diferenciadora que quer aliar os saberes tradicionais ao turismo e à produção biológica. A The Landscape Farm comercializa produtos locais, produzidos “com a natureza e não contra ela”, nos solos e climas locais.
Qual é o conceito que está subjacente a esta empresa?
Esta empresa tem a vocação de aproveitar a paisagem do Bairro Ribatejano. Possuo aqui raízes familiares e estou muito ligado a esta zona. Fui vendo, desde criança, as mudanças que o mundo rural tem tido. E as terras, ou ficam ao abandono, ou se redireccionam para culturas intensivas. Aqui, a lógica é preservar os valores de uma paisagem rural, mediterrânica, muito diversificada, sazonal, com muitos produtos ao longo do ano e, ao mesmo tempo, uma identidade e memória de produtos e técnicas locais.
Que produtos desenvolve?
Do ponto de vista prático, a comercialização assenta em produtos muito identitários. Para nós, a preservação da paisagem é muito importante. Tudo o que fazemos está certificado como Biológico, desde o azeite, o mel, os figos, as hortícolas, as leguminosas, o chícharo, entre outros.
Produtos que também se inserem na paisagem, o que abre outros horizontes também. Quais são, então, os projectos futuros?
Torna-se difícil que uma pequena exploração viva só dos produtos alimentares. A forma de produção tem custos elevados. Os produtos têm um preço incorporado diferente de produtos com maior escala de produção. Por isso, para a sustentabilidade económica do projecto, é necessário ter outros níveis. Um deles é criar uma “Escola de paisagem”, a partir de um conjunto de saberes práticos para gerir uma pequena exploração agrícola, nas suas várias vertentes. Há um conjunto de saberes muito diversos, alguns até com tendência a perderem-se que queremos resgatar e ensinar. Temos em vista a recuperação de uma escola centenária para esse fim, que terá de novo alunos, mas desta vez dedicados à paisagem. Há outra camada turística, com a recuperação algumas casas, salvaguardando a identidade própria desta paisagem. São projectos que estão todos interligados.
Para isto é preciso investimento, são precisos apoios, nomeadamente da APRODER?
Sem dúvida. A APRODER tem uma filosofia com a qual nos identificamos muito, que é a do desenvolvimento do mundo rural de forma sustentável. Quer economicamente quer ambientalmente. Temos, neste momento, três candidaturas aprovadas para o turismo, para pequenos investimentos na exploração agrícola e para a comercialização. É um investimento de cerca de 200 mil euros, e temos aceites financiamento para 50%.
A sua formação é arquitectura paisagística. O que o levou a enveredar por esta área?
Sempre senti muito o apelo deste campo desenhado, deste campo trabalhado, deste campo que é mais do que produzir alimentos. O campo tem história, mas também tem futuro. Essa ligação, entre uma linha do tempo entre passado, presente e futuro, cria uma coisa a que chamamos paisagem. Que, na prática, são as nossas opções sobre o território. O que comemos influencia muito o que vemos no campo. Haver ou não abandono, haver ou não pessoas no campo, tudo isto está muito ligado com as escolhas que fazemos diariamente. Sou arquitecto paisagista por esta ligação que sempre tive ao campo e à cidade. A esta ligação entre os dois mundos. Para mim, e para as actividades que desenvolvo, é muito interessante poder cruzar estes dois mundos. A cidade oferece um conjunto de coisas, mas faltam outras. O campo oferece outro leque de coisas, ao nível da liberdade, criação, ao nível do espaço, da emoção, da estética. Estando entre estes dois meios, posso aproveitar o melhor dos dois. Levar coisas do campo para a cidade e vice-versa, de forma a que se diluam. O campo e a cidade são conceitos antigos e o que haverá, no futuro, são paisagens globais altamente ligadas pelos sistemas naturais. Chego a este negócio quando compreendo que, para ser verdadeiramente sustentável, não basta ser sustentável ambientalmente também é preciso ser economicamente. E o desafio é este, conseguir conciliar sustentabilidade ambiental e sustentabilidade económica. Quero ser um eco-empreendedor no sentido da ecologia e no sentido da economia.