O núcleo “Rasgo”, do Centro Cultural Regional de Santarém (CCRS), propõe-se promover a interdisciplinaridade artística, realizando, mensalmente, oficinas abertas à população que “misturam tudo” e convidam à experimentação.
Iniciativa de um grupo de jovens que integram a associação Waves of Youth, criada em 2020 por antigos alunos do curso de cinema documental da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes, do Instituto Politécnico de Tomar, o “Rasgo” é uma das facetas da nova fase do CCRS.
A nova direcção desta colectividade, eleita em Março, passou a integrar jovens, como Miguel Canaverde e Pedro Mourinha, que estão na génese, com Tomás Barão da Cunha e Janine Gonçalves, da Waves of Youth (2017), “espaço de partilha entre amigos recém-formados em cinema documental”, que, em 2020, se tornou associação.
Foi um projecto desenvolvido no âmbito da Waves of Youth para a Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo (CIMLT), o “Vale”, no qual desenvolveram, em 2021, 11 residências artísticas com jovens, em cada um dos concelhos da região, que esteve na origem do convite, no final de 2022, para se instalarem no edifício que o CCRS ocupa no centro histórico de Santarém, depois de uma passagem pela Incubadora d’Artes criada pela Câmara de Santarém numa antiga escola primária, contaram à Lusa.
Do contacto com a actriz Diana Narciso, com quem trabalharam, perceberam que poderiam ir para além do cinema, depois de um percurso iniciado, ainda estudantes, com a cobertura de festivais, a começar pelo Materiais Diversos, que acabou por lhes abrir portas para muito do trabalho
que se seguiu e no qual se contam vários documentários, como “Egeu” (2019), sobre a crise dos refugiados na Europa, realizado na Grécia por Tomás Barão da Cunha.
Um percurso que levou ao convite para a montagem de “Um punk chamado Ribas”, de Paulo Miguel Antunes, a primeira longa-metragem da Waves of Youth, que se estreou no Indie Lisboa em 2019, a que se seguiu, do mesmo realizador, “Já estou farto!”, sobre a vida de João Pedro Almendra,
também exibido no Indie, em 2021, e, este ano, na competição nacional do festival, “Às vezes os dias, às vezes a vida”, de Janine Gonçalves.
“São pequenas oportunidades e reconhecimentos que ajudam”, permitindo que, hoje, o grupo consiga candidatar-se a apoios e manter uma actividade profissional, disse Pedro Mourinha.
Neste momento, a Waves of Youth está a produzir um filme sobre uma empresa de ‘skaters’, modalidade que praticaram e de que sentem próximos, percebendo “como se exprime o que uma comunidade sente dentro de um nicho”.
No regresso do Festival Internacional de Cinema de Santarém (FICS), que vai decorrer de 24 a 28 deste mês, a associação vai mostrar três filmes, os documentários realizados no âmbito do programa “Caminhos”, da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo, em Constância, Sardoal e Pego (Abrantes).
Em Junho, nos dias 17 e 18, os 11 documentários realizados na Lezíria vão ser mostrados no Teatro Sá da Bandeira, em Santarém, oportunidade para uma “reflexão” sobre o trabalho desenvolvido com os jovens no território.
Para Miguel Canaverde, o cinema “é mais uma ferramenta de reflexão” do que “preocupações técnicas e estéticas”, salientando Pedro Mourinha que, no trabalho com os jovens, que têm vindo a prosseguir nas escolas secundárias da cidade, procuram mais “desconstruir os temas e deixar ferramentas para eles filmarem” e aprenderem a “não fazer o que lhes inculcam”, pensando pelas suas próprias cabeças.
No “Rasgo”, a associação quer mostrar que não faz só cinema e está susceptível “a outro tipo de linguagem”, acrescentaram. No núcleo, dinamizado por cinco elementos, cruzam-se o vídeo e o cinema (Miguel Canaverde), o som e a música (Pedro Mourinha), o design gráfico (Afonso Calixto), a fotografia e a escrita criativa (Luís Calixto), a ilustração (Afonso Prata, “Tendão de Aquiles”).
A próxima oficina, que vai integrar cinema e ilustração, vai realizar-se no dia 27 de Maio (último sábado de cada mês), aberta a quem quiser aparecer, seguindo-se, a 09 de Junho, como sempre, na segunda sexta-feira do mês, a sessão “A Mostra Rasgo”, onde é mostrado o resultado dessa acção, no Fórum Mário Viegas, espaço expositivo e de pequenos concertos do CCRS.