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Seguir a vida em Portugal até que a paz regresse à Ucrânia é o objetivo de Carlos Malonda, um angolano de 30 anos que vivia há oito anos na Ucrânia e que na terça-feira chegou à Chamusca.

Licenciado em engenharia de minas e com um mestrado em gestão de cadastro, Carlos é um dos 48 refugiados acolhidos no Edifício S. Francisco, na Chamusca, onde chegou de autocarro na terça-feira, num grupo que inclui 28 mulheres, uma delas (também angolana) grávida, 10 homens, um bebé com dois meses e nove crianças (cinco delas com menos de 10 anos).

Além de Carlos Malonda, o grupo inclui quatro famílias com elementos de nacionalidade angolana (três angolanos casados com cidadãs ucranianas e um casal angolano), além da jovem grávida de dois meses, havendo ainda dois homens de origem asiática.

Natural de Cabinda, Carlos Barroso Malonda contou à Lusa que chegou à Ucrânia em novembro de 2013 para se formar em Dnipro, cidade a seis horas da capital, Kiev, onde fez o preparatório de língua russa e se formou em engenharia de minas, seguindo-se um mestrado em gestão de cadastro.

Ainda antes de terminar a licenciatura, Carlos começou a trabalhar na área informática e estava a viver em Kiev há dois anos quando, na madrugada de 24 de fevereiro (dia em que se iniciou a invasão pelas tropas russas), o som de uma bomba o acordou.

A noite desse dia foi passada com amigos num ‘bunker’, onde ouviram que havia transporte de comboio grátis para Lviv, contou.

Carlos pegou no seu diploma e em alguns valores e, depois de enfrentar uma multidão que lutava para entrar nos comboios, seguiu numa viagem que deveria durar seis horas, mas demorou “15 ou 16”, em carruagens lotadas, reencontrando os amigos na estação, à chegada a Lviv.

Num táxi tentaram chegar à fronteira, mas ao fim de 30 quilómetros, perceberam que os carros não avançavam.

Percorreram então a pé os 79 quilómetros que faltavam até chegarem a um posto fronteiriço, onde estava “praticamente um estádio de futebol” de pessoas à espera de passar para a Polónia.

Com a fronteira encerrada a partir das 23:00 e o frio intenso, Carlos contou que dormiu numa igreja por “três, quatro dias”, enquanto tentava passar a fronteira.

Até que, depois de uma noite a ouvir bombardeamentos, decidiu regressar a Lviv, onde um amigo o levou até outro posto fronteiriço com menos gente.

Da Polónia, viajou, sempre de comboio – com a facilidade de, ao dizer que vinha da Ucrânia, não pagar – até à Alemanha, depois França e a seguir Espanha, encontrando sempre apoio de voluntários, até chegar a Portugal, onde vinha com a indicação para se dirigir à Cruz Vermelha.

“Agora, o plano é esperar, estamos à espera de uma resposta e tratar da documentação para ver se podemos estar legais no país e podermos seguirmos as nossas vidas”, disse à Lusa.

Carlos quer encontrar trabalho em gestão ou cadastramento de terras, por exemplo numa empresa de construção civil, ou numa empresa de mineração, salientando também a experiência de trabalho “com computadores, com programadores, gestão de sites”.

A vontade é “ficar aqui mesmo”, na esperança que “as coisas mudem” na Ucrânia, embora tema que a guerra se prolongue.

“Gostaria de voltar um dia, se houver paz”, disse.

Fala frequentemente com colegas que ficaram e com o dono da casa que tinha alugado em Kiev e informa-se também nos grupos nas redes sociais.

Hoje mesmo viu que, na região onde vivia, um edifício foi bombardeado.

Portugal concedeu 10.068 pedidos de proteção temporária a pessoas vindas da Ucrânia desde que a Rússia invadiu o país, em 24 de fevereiro, segundo o balanço atualizado na terça-feira pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).

Segundo a Organização Internacional para as Migrações, o número de pessoas que fugiram da Ucrânia devido à invasão russa atingiu os três milhões, incluindo mais de 1,4 milhões de crianças.

A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, um ataque que foi condenado pela generalidade da comunidade internacional.

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