João Rosa Luz é um humorista alentejano que escolheu Almeirim para viver. Diz ser “um tipo porreiro”, engraçado, que diz umas ‘chalaças’ e consta que também é vaidoso. Nesta entrevista o Correio do Ribatejo foi conhecer um pouco mais da vida deste humorista que em 2018 sofreu um grande revés que tem vindo a superar, fazendo rir os outros e a ele próprio.

Como é que o João Rosa Luz se torna humorista?
Como sempre disse chalaças, como sempre foi o engraçadinho (e gordinho) das turmas, usou o humor como arma. Como nos filmes de rir. Entretanto, abre uma segunda edição de um curso de escrita de humor pelo Rui Sinel de Cordes (uma referência superlativa) e decide que um dia, o humor ainda o ia fazer beber à borla em certos sítios…

Onde é que começa a sua carreira nesta área?
Começa precisamente no espectáculo de fim de curso, na Sociedade Guilherme Cossoul, em Santos. Muitos nervos e cinco minutinhos de texto.

Em que se inspira para fazer os outros rir?
No quotidiano. Pode parecer um grande cliché, mas é muito por aí. A realidade tem muito mais piada do que a ficção. Inspiro-me em mim, na relação com a minha mulher, nos miúdos, nas cadelas e a ser coscuvilheiro nos cafés.

Os seus espectáculos são de improviso ou está tudo escrito antes de subir ao palco?
É impossível estar tudo escrito, seria um recital. É impossível ser tudo de improviso, seria um tipo a contar anedotas no café.

Que espectáculos recorda com mais entusiasmo?
Recordo uns 10 minutinhos no NOS Alive, pela pintarola que foi. E recordo algumas aventuras em colectivos dos quais fiz parte, como os Comioterapia e os Humor de Mãe: Porto, Odemira, Camacha, etc. O primeiro de todos e a última porção de minutos, aqui em Almeirim.

Há um tempo atrás sofreu uma doença grave. Até que ponto o prejudicou na sua vida pessoal e profissional?
Clinicamente, ainda sofro. Há pouco mais de um ano, decidi começar a fazer stand up comedy na minha nova cidade, Almeirim. Num bar bastante porreiro, sofri uma convulsão. Como era um espectáculo de stand up comedy, apenas a minha namorada e o meu pai perceberam que algo não estava bem. Fiquei sem falar um par de minutos. Perdi a memória a curto prazo, mas consegui terminar a actuação. Por sorte, dentro do azar, o meu colapso arrancou gargalhadas. Menos mal. A partir daí, foi uma viagem ao Hospital de Santarém. Depois, de Santarém para o Hospital de S. José, sem passar pela casa de partida. Nem para apanhar um pijaminha.

Sendo humorista, como é que se enfrenta um revés como este?
Enfrenta-se a rir. E a tentar fazer rir. Com as pessoas certas que nos mantêm no rumo certo e nos obrigam a uma disciplina. E nos amam. Isto tudo encontrei na minha namorada.

O João para além de humorista faz trabalhos noutras áreas. O que o leva a sair da sua zona de conforto?
A minha área de formação académica é a Sociologia. Até viver só da minha criação, trabalhei em Recursos Humanos nos CTT (10 anos) e depois no IKEA, aqui já operando na gestão das redes sociais.

Na sua opinião é preciso fazer formação nesta área para fazer rir o público?
É. Como tudo na vida, trabalhar no humor não é só ser engraçado. Há regras, método, técnica.

Os portugueses são um povo que gosta de comédia, ou mais de drama?
Os portugueses são um povo do cacete, onde 50km fazem a diferença na ignição da gargalhada. Ou até menos.

Onde é que podemos ver um espectáculo seu no futuro?
Volvido um ano depois do colapso, é chegada a hora de marcar actuações com outro critério e com mais substância. Irei começar por aceitar uns convites de colegas e estou a pensar em reatar um par de projectos que tinha. Um em que convidava um humorista por mês (num bar onde gostaria muito de voltar) e outro com outro parceiro que esteve quase para deixar de existir.

Que conselhos daria a quem quer seguir o caminho do humor? Rir é mesmo o melhor remédio?
O conselho que daria é descomplicar, não deixando de ter disciplina de trabalho. No fundo, é o caminho que serve para qualquer actividade. Rir não é o melhor remédio. É o único. A mim, curou-me. Cura-me. E o Amor… O Amor também cura.

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