Cumpriram-se na passada quinta-feira, dia 9 de Janeiro, cento e onze anos sobre a data de nascimento de Celestino Graça – um Homem extraordinário que, como, em luminosa síntese, se lhe referiu o saudoso Amigo António Cacho, “Disse Não à mediocridade e superou os seus próprios defeitos”.
Na oportunidade da evocação de tão distinta figura, cuja memória nunca nos cansamos de exaltar, pretendemos sublinhar que no ano em que se assinala o 50.º aniversário sobre a data do seu infausto falecimento – ocorrido a 24 de Outubro de 1975 – o Grupo Académico de Danças Ribatejanas, de Santarém, fundado por Celestino Graça e por si dirigido até à hora da sua morte, leva a efeito um vasto programa de homenagem a esta figura maior da nossa região.
Hoje, sábado, dia 11 de Janeiro, terá lugar, pelas 15 horas, uma romagem de saudade à campa de Celestino Graça no Cemitério dos Capuchos, cerimónia realizada anualmente por ocasião da data do seu aniversário natalício e que vale pela afirmação do preito de memória tão sentidamente vivido.
Na passada quinta-feira, durante a missa das 19 horas, celebrada na Igreja de S. Nicolau, foi evocada a sua figura, em preito de homenagem espiritual pelo tanto que Celestino Graça se deu às causas sociais, num testemunho de solidariedade sempre evidenciada em todas as suas iniciativas, e mais concretamente na organização de espectáculos cujos lucros revertiam integralmente para a Santa Casa de Misericórdia de Santarém.
Do mesmo modo, os Grupos Infantil e Académico de Santarém sempre estiveram disponíveis para actuar em iniciativas de benemerência. Celestino Graça, sendo católico não era praticante, mas sempre cooperou com a Igreja nas suas obras de misericórdia e até nas campanhas de angariação de fundos para a construção ou manutenção de templos de culto.
Celestino Graça Presente!
Na última edição do ‘Correio do Ribatejo’, na sua habitual coluna de opinião, Ludgero Mendes lembra Celestino Graça da forma como aqui reproduzimos:
“Para muito boa gente, sobretudo para as novas gerações e para os mais recentes habitantes de Santarém, Celestino Graça foi apenas o Homem que teve maior influência na construção da Praça de Toiros, inaugurada a 7 de Junho de 1964, ou que fundou o Festival Internacional de Folclore de Santarém, cuja primeira edição teve lugar em 1959, apenas pelo facto de tanto o tauródromo escalabitano como este prestigiado evento sócio-cultural manterem o seu honroso nome nas suas denominações.
Mas não, a sua obra é muito mais vasta e diversificada! Vale a pena conhecê-la ainda que pela rama, embora ao longo do ano em curso se realizem algumas iniciativas onde a obra de Celestino Graça será devidamente exaltada.
Celestino Graça concluiu o curso de Regente Agrícola, com elevada classificação, na Escola de Regentes Agrícolas de Santarém, após o que ingressou na X Brigada Técnica Agrícola do Ribatejo e Oeste, onde viria a desempenhar relevantes funções técnicas, de entre as quais de destacou o projecto associado à introdução da cultura do cânhamo em Portugal, o que deu origem à publicação de um livro sobre esta problemática, publicado em 1945, pela Livraria Sá da Costa.
Nos últimos tempos de estudante Celestino Graça e um conjunto de bons amigos fundaram a Associação Académica de Santarém (1931), com o duplo objectivo de fomentar a prática desportiva e cultural entre a população estudantil, mas, não menos importante, de contribuir para a pacificação das hostilidades entre os alunos do Liceu e os da Escola Agrícola. Ambos os objectivos foram superados com distinção e Celestino Graça viria a ser atleta da própria Briosa e seu representante na Associação de Futebol de Santarém.
No ano de 1954 Celestino Graça viria a assumir um dos mais arrojados projectos da sua vida pública – a criação da Feira do Ribatejo. Depois de uma tentativa frustrada no ano anterior, sob responsabilidade do Vereador Caetano Marques dos Santos, Celestino Graça reuniu um conjunto de personalidades ribatejanas – entre as quais se destacaram os saudosos Dr. Luís Hilário Barreiros Nunes, José Infante da Câmara, Prof. Bernardino Ferro, Caetano Marques dos Santos, Joaquim Caetano Frazão, António Cacho, João Moreira, José Júlio Eloy, Luís Carlos da Silva, Joaquim Peralta Fernandes, Joaquim Campos e o Dr. Carlos Augusto de Castro, entre outros – e deitou mãos à obra a partir do nada, pois a Chã de S. Lázaro era ao tempo um ermo onde não havia uma única construção, e em 1974, ano da última feira organizada por Celestino Graça, o Campo Infante da Câmara era uma autêntica cidade, totalmente infraestruturada com electricidade, água e saneamento básico e com arruamentos alcatroados.
Dez anos volvidos sobre a edição inicial, a Feira do Ribatejo haveria de ver a sua importância reconhecida oficialmente com a elevação ao estatuto de Feira Nacional de Agricultura, e nos últimos anos em que Celestino Graça a dirigiu alcançou uma imensa projecção internacional com diversos países representados com pavilhão próprio, como foram os casos, entre outros, dos Estados Unidos da América, de Espanha, França, Bélgica, Itália, Holanda, Alemanha, Itália, Grã-Bretanha, Brasil e Dinamarca.
Na área do Folclore, onde pontificou como um etnógrafo de reconhecido mérito, a sua acção foi notável, muito para além da organização do Festival Internacional de Folclore, pois fica a dever-se-lhe a fundação de diversos ranchos folclóricos no Ribatejo, nomeadamente o Rancho Folclórico dos Pescadores do Tejo, nas aldeias avieiras de Faias e Cucos (Benfica do Ribatejo), o Rancho Folclórico do Bairro de Santarém (Graínho e Fontaínhas), e os Grupos Infantil de Dança Regional e Académico de Danças Ribatejanas, de Santarém, estes últimos que dirigiu até à data da sua morte.
Celestino Graça pugnou sempre por uma fiel representação dos usos e costumes dos nossos antepassados, não consentindo o seu abastardamento, pois, a estima que nutria por esta gente simples – com quem convivia diariamente na sua actividade – não lhe permitia outra atitude que não fosse a de um profundo respeito.
Quando apresentava os seus grupos folclóricos Celestino Graça preocupava-se em contextualizar a realidade social do nosso Povo, exaltando-o pelas suas virtudes e pelas aptidões de que sempre deu provas, e nestas oportunidades todos podiam ficar a conhecer melhor como era a vida pobre e difícil dos camponeses e dos pescadores ribatejanos.
Celestino Graça, pelo empenho posto em tudo o que se propôs realizar e pelo exemplo que constituiu a sua abnegada intervenção, exerceu grande influência a nível regional despertando Santarém para um período de expressivo progresso, colocando-a a par das cidades mais desenvolvidas do nosso país, pelo que é credor do máximo respeito e da mais profunda admiração. Honremos a Memória de Celestino Graça!”
Foto: Arquivo Correio do Ribatejo