Ao fim de 18 anos como treinador da Académica de Santarém, Rui Canavarro decidiu, nesta época, afastar-se do clube, por opção própria. “Saí do clube, por opção, mas o clube nunca irá sair de mim!”, garante ao Correio do Ribatejo nesta entrevista, confessando que, na hora desta espécie de ‘até já’, não é a saudade o sentimento que o acompanha, mas sim um misto de “sentimentos bem mais difíceis de gerir”. Ao longo do seu percurso à frente da formação da Briosa, Rui Canavarro ajudou a formar centenas de atletas e, sobretudo, “indivíduos com valores éticos e desportivos suportados nos princípios defendidos pelo clube”.

Como é que um gestor bancário chega a treinador de futebol?

Bem, muito antes da banca ser uma realidade na óptica profissional já o futebol preenchia uma parte importante da minha vida. No final do meu percurso como atleta, foi-me proposto por um ex-treinador e amigo a possibilidade de integrar a equipa técnica do SL Cartaxo no escalão de seniores. Foi o Prof. Nuno Presume o grande responsável por essa opção tomada em 1999 quase que me obrigando a ir tirar o Curso de Treinadores.

Como começou a sua ligação com a modalidade?

O futebol fez parte da minha vida desde sempre. O meu pai chegou a ser jogador profissional e desde muito pequeno que me habituei a acompanhá-lo. O balneário, as bolas, os “pelados” o convívio com os seus colegas de equipa foram fazendo parte do meu crescimento como indivíduo.

No topo das minhas memórias tenho bem vivas ainda hoje as inúmeras palestras a que assisti, sentado num canto do imenso balneário do antigo Estádio Municipal de Tomar, da boca de autênticas lendas do futebol nacional como os “Misteres” Vieirinha, Medeiros, Fernando Cabrita ou Francisco Andrade, deixando-me completamente deslumbrado. Mais tarde, e porque antigamente só a partir dos 12 anos nos podíamos inscrever nas competições oficiais, iniciei o meu percurso no União de Santarém (Iniciado) mas por pouco tempo. Seguindo o percurso dos meus amigos do bairro de Vale de Estacas, fui para a Académica de Santarém onde estive até aos 18 anos tendo sido capitão de equipa em todos os escalões, dos Iniciados aos Juniores.

Orientou ao longo de vários anos formações da Académica de Santarém. A sua saída vai deixar-lhe saudades do clube?

18 anos. Foram “apenas”…18 anos. Período no qual tive o enorme prazer de “ajudar” a formar não apenas atletas, mas sobretudo indivíduos com valores éticos e desportivos suportados nos princípios defendidos pelo Clube. Tudo na vida tem o seu tempo. Eu saí do Clube, por opção, mas o Clube nunca irá sair de mim! Não é saudade o sentimento que me acompanha, mas sim sentimentos bem mais difíceis de gerir.

Que qualidades deve ter um treinador?

Um treinador deve ser acima de tudo um exemplo! Exemplo de saber estar,  exemplo de transmissão de valores, exemplo de amigo em quem se pode depositar a máxima confiança. Transmissor de conhecimento e de princípios desportivos, éticos, sociais.

Tem algum projecto desportivo para o futuro?

Não. O meu projecto desportivo estará sempre condicionado aos valores que defendo e aquilo que entendo ser, no meu caso particular, a ” formação”. No entanto sou Treinador de Futebol no seu conceito genérico e não apenas “de formação”- recordo que no meu 1º ano de Treinador vencemos uma Taça do Ribatejo pelo S.L.Cartaxo em seniores (1999/2000) ao lado do Prof. Nuno Presume – pelo que não é fácil ter um projecto com o qual me integre facilmente no imediato.

Os jovens de Santarém têm todas as condições para a prática de futebol? Ou o concelho precisa de mais infra-estruturas desportivas?

Claro que não. Infelizmente este é um tema que deveria ser prioritário por parte de quem detêm o poder, a responsabilidade, a capacidade de tomar decisões no nosso Concelho e que de forma, diria, quase obscena vai sendo tratada de forma indiferente ou secundária. Toda a actividade desportiva na nossa cidade está condicionada aos espaços / infra-estruturas ou … à falta delas! Acredito que as dificuldades estejam identificadas, “pensadas”, mas… há que agir! E esta cidade (os seus responsáveis) não age. Quando solicitada, às vezes… reage.

O desporto é essencial na formação integral dos jovens?

Sem qualquer dúvida! Numa época em que a nossa juventude tem tantas solicitações a maior parte delas desviantes, continuo a acreditar que é pela via do desporto que poderemos combater muitas situações perversas socialmente, mas não só. A obesidade infantil / juvenil é uma realidade, jovens sem coordenação motora e/ou com dificuldades de sociabilização são um problema que poderemos combater com dinâmicas de grupo que emergem da actividade desportiva por exemplo.

Lema de Vida?

“O que não nos mata, deixa-nos mais fortes”!

Viagem de sonho?

Nova Iorque.

Prato favorito?

Lasanha, entre muitos outros.

Música preferida?

Tudo o que seja Coldplay mas nada, nada, que chegue ao “Getting Away” dos James!

Quais são os seus hobbies?

Musica e Fotografia (além de desporto em geral, obviamente).

O que mais aprecia nas pessoas?

Amizade e Lealdade.

O que mais detesta nelas?

Deslealdade e Hipocrisia.

Leia também...

“No Reino Unido consegui em três anos o que não consegui em Portugal em 20”

João Hipólito é enfermeiro há quase três décadas, duas delas foram passadas…

O amargo Verão dos nossos amigos de quatro patas

Com a chegada do Verão, os corações humanos aquecem com a promessa…

O Homem antes do Herói: “uma pessoa alegre, bem-disposta, franca e com um enorme sentido de humor”

Natércia recorda Fernando Salgueiro Maia.

“É suposto querermos voltar para Portugal para vivermos assim?”

Nídia Pereira, 27 anos, natural de Alpiarça, é designer gráfica há seis…