A Tertúlia Tauromáquica “Alhandra a Toureira” foi fundada no dia 1 de Novembro de 1992, nesta tão aficionada vila ribatejana, que foi berço de diversas figuras do toureio, como foram os casos do cavaleiro António Luís Lopes e dos bandarilheiros Ludovino Bacatum, Laurentino Boieiro e João Boieiro, para além de ali ter havido um Grupo de Forcados que chegou a pegar no Campo Pequeno.
As tradições taurinas são seculares e são conhecidas as manifestações tauromáquicas que alguns nobres ali desenvolviam com frequência, o que levou Almeida Garrett, na sua obra “Viagens na Minha Terra”, a referir-se a esta localidade – que foi sede de concelho até ao ano de 1855, data em que foi extinto e se integrou como freguesia no concelho de Vila Franca – como “A Toureira”.
No passado sábado, dia 1 de Novembro, celebrou-se o seu 33.º aniversário, que constou de um almoço convívio entre os associados e seus familiares, servido esmeradamente na Sociedade Euterpe Alhandrense, com acompanhamento artístico por intermédio de uma escola de sevilhanas e por um apontamento de fado, que esteve a cargo de Ana Paula Santos, Jaime Amante e do bandarilheiro João Pedro Silva, para além de uma justa homenagem ao cavaleiro tauromáquico Rui Salvador pela sua trajectória artística de cerca de meio século.
O Presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Dr. Fernando Paulo Ferreira, presidiu ao almoço e teve palavras de muito carinho pela Tertúlia aniversariante, exaltando o seu percurso e a magnífica acção na divulgação e defesa da tauromaquia no concelho vila-franquense. Do mesmo modo dirigiu palavras de muita admiração pela carreira de Rui Salvador, referindo-se ao facto, significativo, de o cavaleiro nabantino ter escolhido a Praça “Palha Blanco” para fazer a sua última actuação.
Nos termos protocolares usaram ainda a palavra o Presidente da Assembleia Geral, Dr. Vítor Silva, e o Vice-Presidente da Direcção, António Vieira, o Presidente da União de Freguesias de Alhandra, São João dos Montes e Calhandriz, Nuno Silva, que a um só tempo exaltaram a acção desenvolvida pela Tertúlia e renderam as suas homenagens ao cavaleiro Rui Salvador.
Ludgero Mendes foi o orador convidado para abordar a carreira artística de Rui Salvador, tarefa de que se desincumbiu com o agrado geral, dando nota de alguns detalhes importantes na trajectória do prestigiado marialva, que há mais de cinquenta anos se dedica a esta actividade, quarenta dos quais como profissional.
Rui Salvador, inspirado por José Mestre Batista e João Moura, respectivamente padrinho e testemunha da sua alternativa (Campo Pequeno, 9 de Agosto de 1984), mas, acolhendo influências, igualmente, de Gustavo Zenkl, José Maldonado Cortes, D. José João Zoio e Luís Miguel da Veiga, adoptou um conceito taurino, técnico e artístico, muito pessoal, no qual impregnou alguns dos aspectos que mais pautaram os estilos de toureio dos seus mestres.
Cultor de um toureio frontal, cedendo vantagens aos seus oponentes e colocando a ferragem em terrenos do maior compromisso, o que permitiu que ficasse conhecido como o “Cavaleiro dos Ferros Impossíveis”, tal o risco que envolviam, Rui Salvador atingiu o plano de figura em que se manteve até à sua última corrida. Em seguida Ludgero Mendes referiu-se às montadas que foram utilizadas pelo cavaleiro homenageado, mais de duzentas, simbolizando no “Napoleão” aquelas que melhor serviram o seu estilo de toureio, sendo um cavaleiro que nunca se recusou a tourear qualquer ganadaria nem a alternar com qualquer colega, algo que muito o distingue em relação a muitos outros toureiros, e que, por isso mesmo, merece ser destacado.
Rui Salvador actuou em praticamente todas as praças de toiros em Portugal, integrando os cartéis mais emblemáticos de cada uma, e conquistou largas dezenas de troféus que testemunham bem a importância da sua carreira. Curiosamente, Rui Salvador nunca se sentiu fascinado por tourear em Espanha, pois sempre assumiu a defesa e valorização do toureio equestre à portuguesa, sem morte do touro na arena.
No final desta intervenção, muito saudada pelos presentes, usou também a palavra o bandarilheiro João Boieiro, dirigente da Tertúlia, que teve palavras de muito apreço pela figura que é Rui Salvador, o qual em seguida agradeceu a gentileza da homenagem e as referências que lhe tinham sido feitas, concluindo que ao fim de cerca de cinquenta anos de toureio olha para trás e sente saudades de muitos momentos que viveu, dentro e fora das arenas, e de muitas pessoas com quem teve a sorte de se cruzar, vivendo actualmente muito tranquilo, mas igualmente apaixonado pela nossa tauromaquia.
Seguiu-se o corte do bolo de aniversário da Tertúlia, partilhado por todos os comensais, e a parte artística, que foi muito aplaudida. E a Festa continuou pela tarde fora, porque, afinal, era Dia de Todos os Santos. Parabéns à Tertúlia “Alhandra a Toureira” e ao distinto cavaleiro Rui Salvador.
