Sandra May, 27 anos, trocou a liberdade artística dos palcos pela disciplina e valores militares da Escola de Sargentos do Exército. Apesar das mudanças bruscas no seu percurso, a paixão pela escrita manteve-se constante. Em 2020, a sua vida deu uma nova volta, mudou-se para a Chamusca e abandonou a carreira militar para se tornar escritora a tempo inteiro. Sandra May, 27 anos, trocou a liberdade artística dos palcos pela disciplina e valores militares da Escola de Sargentos do Exército. Apesar das mudanças bruscas no seu percurso, a paixão pela escrita manteve-se constante. Em 2020, a sua vida deu uma nova volta, mudou-se para a Chamusca e abandonou a carreira militar para se tornar escritora a tempo inteiro.
Lançou o livro “Ainda não é desta”. Com que objectivo decidiu editar esta obra?
Comecei a escrever esta obra quase como terapia. Provocou em mim tantas gargalhadas, diverti-me tanto em colocar as personagens em enredos humorísticos, que não consegui parar de escrever! Ia escolhendo a direção da história à medida que a ia escrevendo – usei o coração ao invés de um planeamento metódico – e acho que esse é um ingrediente especial no livro. O que me levou depois a desejar editar a obra foi um pensamento muito simples: “se eu me diverti tanto a escrever, tenho a certeza que muitos se vão divertir a ler”. O meu primeiro livro, o “Herói Boa-Ação”, foi publicado através de uma editora. Desta vez, optei por edição de autor, por sentir que poderia ser um desafio incrivelmente estimulante e fazer-me crescer como escritora. Para além disso, eu queria publicar por mim a história que mais prazer me deu escrever até hoje, controlando todos os pequenos aspectos que poderiam ser responsabilidade de uma editora, como por exemplo a possibilidade de enviar livros assinados por mim aos meus leitores, pois os exemplares estão no meu escritório e sou eu quem trata de tudo! Sinto uma bonita sensação de intimidade cada vez que envio um livro a um leitor, e sinto-me grata por isso.
O que a inspirou e o que é que retrata o livro?
A própria sociedade inspirou-me. Sou jovem, com os meus pequeninos 27 anos, e sinto que a minha geração está à deriva em muitos aspectos da vida. O ter ao invés do ser, o aparentar ao invés do conquistar, o egoísmo ao invés do altruísmo… bem, e o sufoco económico ao invés da prosperidade. O livro retrata as peripécias da vida real. Duas jovens mulheres a entrar no mundo dos adultos. A dificuldade de um jovem de hoje em dia arranjar o primeiro emprego, a luta interna de descobrir quem é e o que realmente quer, se está ou não preparado para tomar decisões que vão afectá-lo para o resto da vida ou grande parte dela. O confronto entre as expetativas e a realidade do “mundo dos adultos” não é fácil, e neste livro vemos as nossas personagens a autodescobrirem-se. É um livro que fala da vida real e que nos motiva a rir mesmo nos momentos mais dramáticos da nossa vida. Uma vez que se trata de um estilo humorístico (comédia romântica), sinto que encontrei uma forma leve e muito positiva para os mais jovens olharem a sua própria vida.
O que representa para si a escrita?
A escrita é uma das muitas formas de imortalizar quem sou e tudo aquilo que dei ao mundo em vida. A escrita é terapia. A escrita é sonhar. A escrita é tornar real aquilo que na realidade não pode ter vida. No fundo, a escrita é tudo aquilo que eu quero que ela seja: esta é a magia das palavras. Pelo menos, para mim.
Em que altura da sua vida descobriu essa vocação?
Desde os meus 12 anos que escrevo diários. A escrita sempre me fascinou, não só pelas histórias e livros que sempre fui lendo, mas também porque é das formas mais fáceis de gravar e registar as minhas memórias e que são, no fundo, a nossa própria “herança de identidade” e essa eu não queria perder: por isso escrevia. Esta vocação está em todos nós, eu apenas fui escrevendo um pouco mais e mais profundo à medida que a vida ia passando por mim, até que cheguei a uma fase em que descobri a escrita enquanto propósito. Em 2019 criei um projecto no Instagram que se chamava “meninaescrivaninha”, e foi aí que nasceu a Sandra May. Todos os dias colocava no perfil uma frase filosófica ou mais humorística. Mas senti a necessidade de algo mais pessoal, e textos mais longos ao invés de frases. Foi aqui que alterei o nome do perfil para “saandramay”, criei o meu site, lancei-me em desafios de escrita criativa, abandonei a minha vida militar, e abracei com muita certeza uma vida dedicada à escrita.
Como é o seu processo criativo?
Bem, sou uma pessoa muito emotiva e sentimental! Por um lado, creio que seja uma característica muito boa para tudo o que esteja relacionado com arte e criatividade. Por outro, imaginem que estão a escrever um livro de comédia mas acabaram de ver o filme mais triste das vossas vidas… e agora? Como podem desenvolver a história que deveria provocar o riso, ainda com o lenço para limpar as lágrimas na mão? Esta é a maior dificuldade do processo criativo: tudo nos condiciona e todos os sentimentos que temos podem acabar por passar para o papel. Por esta razão, tento estabelecer uma rotina que me permita estar no mesmo estado emocional, como acordar à mesma hora, escrever no mesmo local da casa, ouvir a mesma música. Escrever não é difícil, mas para escrever sempre no mesmo registo é preciso um ritual.
Tem algum tema predominante que queria transmitir na sua escrita?
O lado cru do ser humano. A capacidade que todos nós temos em ser verdadeiros com a nossa própria natureza. Não é mostrar aos outros a nossa verdade mas conseguir mostrar a nossa verdade a nós mesmos. Aquela verdade que ninguém está preparado para lidar, aquela verdade que cada um tem dentro de si. Algo desconfortável de se ler, numa escrita sem tabus, sobre o lado mais sombrio do ser humano. É um estilo antagónico ao “Ainda não é Desta”, é verdade, mas talvez seja por isso que o deseje fazer. Só assim conseguirei explorar-me enquanto escritora: saindo fora da zona de conforto ao experimentar outros estilos.
Que livros é que a influenciaram como escritora?
Para responder a esta pergunta com o devido detalhe teria de escrever um LIVRO! Mas posso dizer que a escrita de Tiago Rebelo me fascinou desde a adolescência. O primeiro romance que li foi “O Romance em Amesterdão”, deste autor, e sinto que a minha vida nunca mais foi a mesma desde que o li. Naturalmente que existem outros, mas este marcou-me de uma forma especial.
Tem outros projectos em carteira que gostaria de dar à estampa?
Bem, projectos não me faltam! Na escrita, já comecei a escrever o segundo livro da trilogia “Ainda não é Desta” (sim, é uma trilogia!) mas paralelamente iniciei um thriller que já tem quase dez capítulos e que me tem tirado o sono, o que é uma ótima sensação. Tenho também o podcast “BOM LIVRO”, disponível no Spotify, e é um projecto que quero levar mais longe, pois o objectivo é a divulgação de livros e autores portugueses, que gostava de começar a trazer ao podcast por forma a falarem, na primeira pessoa, das suas obras. Sendo também Presidente da Associação Cultural Chamusc’Arte, tenho como objectivo levar o mais longe possível esta associação. Seja a escola de música, as aulas de dança, yoga e o teatro. Mas tenho outros projetos em mente, centrados especialmente na comunidade chamusquense e nos mais jovens, relacionados com a escrita e a arte, e quero começar a introduzir alguns ainda este ano.
Um título para o livro da sua vida? Fácil! “A Constante Mudança de May”
Viagem? A viagem dos meus sonhos é agarrar numa mochila e descobrir tudo sobre a américa latina. Seja pela dança, pela gastronomia, pela história, pelos mitos e lendas, pelas energias, pelo povo! Sinto uma curiosidade enorme de visitar aquele pedacinho do mundo.
Música? Os primeiros três nomes que me surgem: Hans Zimmer, Max Ritcher e Ólafur Arnalds. Consumo diariamente estes gigantes músicos e compositores para escrever, e não me canso! Mas… há uma artista que acompanho praticamente desde que comecei a falar: Britney Spears! Eu ouço Britney Spears desde que me lembro. Anima-me e traz-me confiança. E claro, o meu marido que toca lindamente piano, muitas vezes enquanto escrevo.
Quais os seus hobbies preferidos? Eu não tenho hobbies preferidos porque os meus hobbies acabaram por se tornar projetos a longo prazo, o que é de facto um sonho. Mas diria que também que me sinto muito bem a pintar, que faço ocasionalmente e no final gosto muito de os ver expostos em casa. Também gosto de correr logo pela manhã, a ouvir boa música, apesar de por vezes a preguiça vencer! E por fim, claro, os passeios com a minha família: marido, uma cadela beagle maluca (Piani) e uma gata careca (Phoebe).
Se pudesse alterar um facto da história, qual escolheria? Sinceramente, acho que não mudava nada. Porquê? Nunca iriamos saber o que provocaríamos no presente, ao mudar o passado. O ser humano é imperfeito, faz parte da sua natureza errar. Mas essa é também a melhor forma de aprender. Nós, enquanto sociedade, devíamos, sim, olhar aquilo que mais nos envergonha no nosso passado como se fosse o nosso maior mestre, ao invés de um condenável criminoso que fazemos por evitar. Nós não podemos alterar o passado, mas podemos alterar a forma como olhamos para ele.
Se um dia tivesse de entrar num filme, que género preferiria? Esta é fácil. TERROR! Adoro um bom filme de terror e suspense. Provavelmente seria a vilã, ou um espírito revoltado com quem cá fica ou … um demónio capaz de torturar as almas vivas. Para filme de comédia já basta a minha vida, não é verdade?
O que mais aprecia nas pessoas? A capacidade de partilhar. Sinto muita empatia por pessoas que partilham sem medo tudo aquilo que são, o que sentem, o que desejam e a luta que fazem diariamente. Gosto de pessoas genuínas, mesmo que com estas tenha alguma incompatibilidade.
O que mais detesta nelas? A falta de transparência, a obsessão pelo politicamente correto, o egoísmo, a falta de sensibilidade e humanismo, e, no fundo, tudo aquilo que torna o Homem pesado.
Acordo ortográfico. Sim ou não? Sim. Mas desculpem-me, vou demorar a fazer a transição!