A Câmara de Santarém vai lançar, no final do mês, a Carta Arqueológica do concelho, que identifica 461 sítios arqueológicos, que o município quer dar a conhecer e valorizar.
A vice-presidente da Câmara de Santarém, Inês Barroso, que detém o pelouro da Cultura, disse hoje à Lusa que a Carta Arqueológica, elaborada pela equipa liderada pelo arqueólogo António Matias, contou com a colaboração de investigadores nacionais e internacionais, tendo sido reconhecida pela Direcção-Geral do Património Cultural “como documento de referência nacional”.
A Carta, que será apresentada formalmente no próximo dia 29, é acompanhada por um suporte digital que contém as fichas de cada um dos 461 sítios arqueológicos identificados em todo o concelho.
Realçando a “elevada riqueza arqueológica” patente no documento, Inês Barroso destacou o trabalho elaborado pela equipa municipal, que, dos 34 sítios identificados em 2002, fez o levantamento que permitiu o registo das centenas de locais com vestígios arqueológicos, nalguns casos com dezenas ou mesmo centenas de milhares de anos.
“Se na zona urbana estão identificados sítios com vestígios de há 4.000, 5.000 anos, nas zonas rurais foram encontrados vestígios muito mais antigos, como por exemplo, um bloco de ossos de cervídeos, de há 12.000 a.C., dentro de um algar”, ou o biface característico do Paleolítico Médio, com centenas de milhar de anos, realçou António Matias.
O arqueólogo referiu a falha sísmica na zona de Alcanede/Abrã que deixou surgir um bloco de sílex, apontando este como um importante local de aprovisionamento desta matéria-prima do Paleolítico, período de que praticamente não existe investigação em Santarém.
António Matias citou ainda a jazida com mais de mil pegadas de dinossauros de Vale de Meios e de Algar dos Potes, “conhecida mundialmente e às vezes tão pouco conhecida” até pelas escolas do concelho, ou o acampamento militar romano de Chões de Alpompé, em Vale de Figueira, de onde foram retirados, só à superfície, mais de 23.000 fragmentos de peças.
Os locais identificados “vieram lançar novas pistas” e abrir possibilidades de trabalho a investigadores “que queiram trabalhar no concelho”, declarou, sublinhando “a importância de Santarém no mapa arqueológico nacional e internacional”, com muitos dos achados escalabitanos e serem referidos em estudos internacionais.
António Matias frisou que, ao disponibilizar a carta e informação digitalizada, o município está a contribuir para um melhor conhecimento e compreensão da história e do território e a disponibilizar uma ferramenta de apoio sempre que há necessidade de fazer uma obra, facilitando o processo que antecede qualquer intervenção, não apenas nas áreas classificadas, mas em todo o concelho.
O documento será apresentado em cada uma das freguesias, uma forma de “desmistificar” a arqueologia, mostrar a “riqueza” existente em cada lugar e “contar com a ajuda das populações na identificação de outros locais e na preservação e salvaguarda” dos já identificados, salientaram.