Oito candidatos disputam as eleições à Câmara de Santarém nas autárquicas deste ano. PSD, PS, CDU, BE, CDS-PP, PAN, CHEGA e IL apresentaram candidaturas ao acto eleitoral marcado para o próximo dia 26 de Setembro e, nesta edição do Correio do Ribatejo, apresentam os seus argumentos aos eleitores.

Na corrida à Câmara de Santarém nas autárquicas deste ano, o social-democrata Ricardo Gonçalves chama a si os louros do saneamento financeiro de um município que os adversários dizem ter parado no tempo e estar a desperdiçar recursos.

Liderado durante 28 anos pelo PS e nos últimos 16 pelo PSD, o concelho de Santarém vai escolher no próximo dia 26 o novo executivo num escrutínio a que se apresentam oito candidatos.

O actual presidente do município, Ricardo Gonçalves (PSD), 45 anos, economista de formação, candidata-se a um terceiro mandato, numa corrida disputada igualmente pelos actuais deputados na Assembleia da República Manuel Afonso (PS), 70 anos, e Fabíola Cardoso (BE), 48 anos, pelo médico André Gomes (CDU), 30 anos, pelo dirigente nacional do Chega Pedro Frazão, 46 anos, pelo técnico de recursos humanos Alexandre Paulo (CDS-PP), 28 anos, pela docente de informática e robótica Rita Lopes (PAN), 38 anos, e pelo gestor de produto Marcos Gomes (IL), 24 anos.

Até à chegada em 2005 de Francisco Moita Flores, de quem Ricardo Gonçalves cumpriu o último ano do segundo mandato e a quem sucedeu nos dois mandatos seguintes, Santarém teve executivos de gestão socialista, liderados por Ladislau Botas (1976 a 1993), José Miguel Noras (1993 a 2001) e Rui Pedro Barreiro (2001 a 2005).

Ricardo Gonçalves tem declarado que o seu primeiro mandato se destinou à consolidação económica num município que, em 2013, apresentava um passivo da ordem dos 85 milhões de euros (sem as empresas municipais, segundo o Anuário Financeiro dos Municípios) e que teve de gerir sob o espartilho do Plano de Saneamento Financeiro, imposto pela adesão ao Plano de Apoio à Economia Local, até 2019, ano em que a dívida se situava nos 46,3 milhões de euros (44,6 milhões em 2020).
Esse trabalho, afirma, serviu para “lançar os alicerces” para o desenvolvimento socioeconómico, abrindo caminho a um vasto conjunto de obras, aproveitando os fundos comunitários.

Com parte das obras ainda por começar e outras a arrancar, o que explica pela morosidade dos procedimentos e pela dificuldade em encontrar empresas disponíveis, os seus rivais unem-se na afirmação de que “Santarém estagnou”.

O candidato socialista tem por lema da sua campanha “Fazer o que ainda não foi feito”, declarando que quer “afirmar Santarém no mapa das capitais de distrito, como capital do Ribatejo, capital da agricultura portuguesa, capital da gastronomia, capital do gótico”. Manuel Afonso assegura que a sua equipa saberá aproveitar a identidade ribatejana e a proximidade a Lisboa.

Para o jovem médico comunista André Gomes, é preciso começar a construir o futuro do concelho, a partir de “quatro pilares”: a valorização do “património incrível” que está “por explorar”, a bandeira da ecologia e do urbanismo verde, a reabilitação e revitalização dos centros históricos, para inverter a perda de população, e a gestão pública e democrática do município.

Já a bloquista Fabíola Cardoso quer romper com o conservadorismo e aponta as “muitas fragilidades” da acção que tem marcado os executivos escalabitanos, nomeadamente por prejudicar “partes vulneráveis da população” e não ser sustentável nem a nível ambiental nem a nível social.

A revitalização do centro histórico, com a criação de um gabinete de apoio a privados e empresas que queiram recuperar o edificado, e medidas que atraiam residentes ao concelho, nomeadamente jovens, com apoios ao arrendamento e um “cheque natalidade” para reembolso de despesas feitas no concelho, contribuindo para a economia local, são, por seu turno, algumas das apostas do candidato centrista Alexandre Paulo.

A candidata do PAN, Rita Lopes, quer trazer para o concelho causas ambientais, que promovam uma melhor qualidade de vida, inovação, aposta na cultura, educação para um futuro melhor e mais sustentável e que respeite os animais, enquanto Marcos Gomes, da IL, quer contrariar a “estagnação” numa cidade que “tem todas as condições para fixar pessoas e empresas”, e inverter o elevado envelhecimento do concelho.

Também o candidato do Chega, Pedro Frazão, que se assume “conservador nos costumes e liberal na economia”, pretende “pôr Santarém no panorama da política nacional” e “defender o mundo rural, a capital do Ribatejo, a capital do gótico”, colocando as prioridades na cultura, na ruralidade, na defesa das famílias.

A encabeçar a candidatura do IL, Marcos Gomes, de 24 anos, considera que, nas últimas décadas, a gestão municipal feita pelos dois maiores partidos portugueses, levaram à estagnação económica e social do concelho. Com este diagnóstico, o objectivo principal desta candidatura “é atrair e fixar empresas e pessoas para o concelho, através da redução da carga fiscal, da desburocratização da gestão municipal e garantir uma maior transparência da actividade da câmara”.

O concelho de Santarém, que integra a Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo, ocupa uma área de 552,5 quilómetros quadrados, tem 18 freguesias e uma população residente de 58.770 habitantes, segundo os dados provisórios dos Censos 2021, os quais revelam uma redução de 2.982 residentes face aos 61.752 registados em 2011 (1950, com 64.002 registos, foi o ano de maior pico populacional no concelho).

Na comparação entre 2010 e 2019, constata-se um agravamento do índice de envelhecimento, com o número de idosos por cada 100 jovens a crescer de 154 para 194 (a média nacional era em 2019 de 161), e a população idosa (com 65 e mais anos) a subir, em 2020, para 25,5%, segundo a plataforma EyeData.

Santarém tinha em 2019, antes da pandemia da covid-19, 1.195 desempregados registados (3% da população em idade ativa, a qual rondava as 35.537 pessoas), percentagem que subiu em 2020 para os 4%.

De acordo com a EyeData, em 2020, havia 6,23 médicos por 1.000 habitantes (contra 5,56 no país).

Segundo a Pordata, o ganho médio mensal dos trabalhadores por conta de outrem subiu de 954 euros em 2010 para os 1.065 euros em 2019, ainda assim abaixo da média nacional (1.206 euros), sendo que a disparidade entre sexos se situava, em 2018, nos 6,1% (abaixo dos 9,5% a nível nacional).

Em 2017, o PSD obteve 43,2% dos votos (cinco dos nove mandatos) e o PS 34,1% (restantes eleitos). A CDU (PCP/PEV) teve 7,6%, o CDS-PP 5,4% e o BE 4,1%, numa eleição em que votaram 27.776 eleitores dos 51.718 que se encontravam registados. O Chega, o PAN e a IL concorrem pela primeira vez. Para as eleições deste ano estão registados 50.828 eleitores no concelho.

Leia ao longo desta semana as entrevistas aos oito candidatos à câmara de Santarém.

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