O Santuário de Fátima inaugura no sábado uma exposição com objetos da irmã Lúcia nunca exibidos ao público e obras classificadas como Tesouro Nacional, para assinalar o centenário das aparições da Virgem à vidente, em Pontevedra, Espanha.

Um hábito, cartas, um crucifixo, canetas e uma castanhola estão entre os objetos, assim como acessórios de lavores (dedal, agulha ou novelo), e um altar, alfaias litúrgicas e vestes eclesiásticas, todos feitos em miniatura pela vidente.

A mostra, intitulada “Refúgio e Caminho”, integra as pinturas “Ecce Homo”, do Museu Nacional de Arte Antiga (Lisboa), e “Última Ceia”, do Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo (Évora), ambas Tesouro Nacional.

Na vertente das obras de arte, o santuário destaca a representação da aparição de Pontevedra por Matilde Olivera, as esculturas de Thomas McGlynn criadas a partir das descrições de Lúcia, a tapeçaria de Jenny de Beausacq, a Via-Sacra de Joaquim Correia e obras contemporâneas de artistas como Sílvia Patrício, Russell West, João Porfírio e Inês do Carmo.

Lúcia de Jesus (Fátima, 1907 – Coimbra, 2005), após a morte dos primos, os santos Francisco e Jacinta Marto, ingressou no Instituto das Irmãs de Santa Doroteia, em 1925, onde permaneceu até 1948.

O seu percurso como religiosa Doroteia, em que assumiu o nome de Maria das Dores, foi maioritariamente vivido em Espanha, onde teve as duas aparições que completam o ciclo da mensagem de Fátima, com os pedidos da devoção dos cinco primeiros sábados (1925), em Pontevedra, e da Consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria (1929), em Tui, Espanha.

A vidente entrou no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra, em março de 1948, onde permaneceu até à morte.

“Lúcia é uma figura de um poder de atração como poucas figuras na Igreja do século XX tiveram e, às vezes, nós, em Portugal, esquecemo-nos disso”, afirmou o diretor do Museu do Santuário de Fátima e coordenador geral da exposição, Marco Daniel Duarte, para sublinhar que a biografia da vidente interessa à História de Fátima, da Igreja, do país e do mundo.

A exposição integra uma programação de quatro anos, dividida em dois ciclos, sendo que o primeiro, com esta mostra, assinala o centenário das aparições de Pontevedra, e o segundo o centenário das de Tui.

Dividida por sete núcleos, inicia com o símbolo do “Coração de Maria, tal como a irmã Lúcia o define a partir das visões que teve”, e a expressão “Refúgio e Caminho”, tirada da documentação relativa aos acontecimentos de 1917, na Cova da Iria.

No início do caminho da exposição, “guiado” pela irmã Lúcia e pela sua “experiência mística”, surge uma boia de salvação grande, cheia de rosas, e em forma de coração, ladeada por imagens da procissão das velas e da procissão do adeus.

“No mundo em que estamos, ao vermos um coração nesta forma de boia, de tábua de salvação, vem à memória os lugares de difícil vivência, a questão dos refugiados e todos os lugares do mundo onde o Coração de Maria pode ser tábua e salvação”, observou.

Numa das salas, estão as 14 estações da Via-Sacra que “emolduram” um coração cravado de espinhos, para sublinhar que, “mesmo nas agruras da vida, não perde a forma de coração”, num espaço com projeção de imagens em contexto de guerra, mas onde há “sinais de esperança”, disse.

Para Marco Daniel Duarte, o documento “mais tocante” da exposição é uma “carta que Lúcia escreve” à mãe, a pedir-lhe que comece a fazer a devoção dos primeiros cinco sábados.

Entre outros aspetos, a exposição inclui um núcleo dedicado à representação do “Coração de Maria”, que depois dos acontecimentos de Fátima é apresentado com espinhos ao invés de ter flores à sua volta, e é com o Imaculado Coração de Maria que a exposição termina.

“Na linguagem de Fátima, o Coração de Maria triunfa (…), sempre com a oração do Terço pela paz no mundo e sempre a apontar para Cristo”.

O coordenador geral salientou que a exposição permite uma experiência sensorial, havendo um écran onde se eliminam pecados para a reciclagem e uma estrutura para deixar espinhos, num percurso para o qual foi criado um tema musical que “terá sempre uma batida de coração”.

“A grande chave de leitura que está aqui é esta: a vitória é sempre a do bem sobre o mal. Esse é o refrão de Fátima”.

A exposição, no piso inferior da Basílica da Santíssima Trindade, é inaugurada no sábado e vai estar patente até 15 de Outubro de 2027, com entrada livre.

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