A companhia Seller Danza estreia hoje à noite, no Centro Cultural do Cartaxo, o espectáculo de dança contemporânea “Transeuntes”, baseado em três histórias reais, de três mulheres, portuguesas e espanholas, escritas por Fernanda Botelho.

Criada em 1991 pelo coreógrafo espanhol Juan Maria Seller, a companhia, com residência, há um ano, no Ateneu Artístico Cartaxense, tem como produtora a actriz Joana Botelho, neta e curadora do espólio da escritora Fernanda Botelho.

É a partir deste espólio, em particular do livro “Gritos da minha dança”, o último da escritora (2003), que surge “Transeuntes”, peça “inspirada em factos reais, na história de três mulheres, em que existe também uma relação particular entre determinada altura da história de Espanha e em Portugal”, disse Joana Botelho à Lusa.

“Houve um encontro muito feliz entre Fernanda Botelho e Juan Seller, em que, de facto, todas as preocupações estéticas, filosóficas, culturais e sociais coincidem”, nomeadamente no livro que serviu de inspiração para o espectáculo, declarou.

“Transeuntes” resulta da “junção de muitos fragmentos em que depois a relação entre as partes dá uma unidade muito emotiva, indescritível, e os ‘Gritos da minha dança’ foram dessa forma que foram escritos e pensados”, acrescentou.

“’Transeuntes’ acaba por ser a nossa vida. Nascemos, temos um percurso e morremos. Somos transeuntes desta vida. Os personagens, que são mulheres, são interpretados em alguns momentos por homens”, porque “não há diferença, somos almas, somos corpos, somos seres”, disse Juan Seller.

O espectáculo teve uma antestreia no Cadaval, onde se encontra o espólio de Fernanda Botelho, salientando Joana Botelho as “muitas relações no processo criativo” de Juan Seller “com uma escritora que tem uma personalidade muito marcada” e como, “gerações tão diferentes, se podem cruzar e ser tão felizes no resultado, que cruza literatura e dança e preocupações sociais, estéticas, filosóficas e culturais”.

Criada em Espanha, a Seller Danza tornou-se uma “companhia de projectos” que andou por diversos países, com uma passagem pelos Estados Unidos, até, por “algo mais pessoal do que profissional”, acabar por se fixar no Cartaxo, próximo de Santarém, onde Juan Seller fez a sua primeira performance aos 14 anos, no Círculo Cultural Scalabitano.

Por não gostar de grandes cidades, estes pareceram-lhe “sítios perfeitos”, disse à Lusa.

Além da companhia, Juan dá aulas no Ateneu Artístico Cartaxense e no Conservatório de Música de Santarém, aliando o trabalho artístico e pedagógico.

Frisando que o projecto de dança contemporânea da Seller Danza não é experimental, o coreógrafo afirmou que a companhia faz um trabalho “muito pensado”, muito “trabalhado” para chegar ao público também “de forma emotiva, não só visual”.

No palco do Centro Cultural do Cartaxo vão estar Juan Maria Seller, Roberto Seller, bailarino, Joana Botelho, Natacha de Noronha, atriz, assistente de encenação, produtora e figurinista, Ana Ventura, atriz e cantora, e Ana Patrícia Tomé, violinista, sendo a música composta por Pedro Finisterra.

Para 2020, estão já previstos espectáculos em locais como Bombarral (com uma adaptação para escolas), Caldas da Rainha e Lisboa, estando em perspectiva uma digressão em Porto Rico, onde Juan Seller trabalhou durante dois anos, com a peça “O Labirinto de Nijinsky”, estreada em Junho na Biblioteca Municipal do Cartaxo.

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