Maria Potes Barbas, directora Unidade de Investigação (UI-IPSantarém)

O Instituto Politécnico de Santarém promove a sua política de investigação orientada, desenvolvimento tecnológico e desenvolvimento profissional, através da sua Unidade de Investigação (UI-IPSantarém). Criada em 2008, tem como conceito contribuir para a produção e difusão do conhecimento, criação, transmissão e difusão do saber de natureza profissional, da cultura, da ciência, da tecnologia, das artes, da investigação orientada e do desenvolvimento experimental, num quadro de referência regional, nacional e internacional. No passado dia 13, Maria Potes Barbas, professora Coordenadora Principal na Escola Superior de Educação de Santarém, tomou posse como directora da estrutura, tendo como lema ‘inovação e transferência do conhecimento’.

Quais são as competências da Unidade de Investigação do IPSantarém e quais são as suas linhas de actuação?
O Politécnico de Santarém tem, de forma muito activa, uma Unidade de Investigação (UI). Esta unidade tem três objectivos fundamentais. A grande linha de acção é integrar os docentes do IPS no domínio da investigação, e proporcionar toda a formação graduada ao longo da vida para que possam fortalecer esse domínio investigativo.
Dos 197 docentes que o IPS tem em tempo integral, 167 pertencem à UI, uma unidade que agrega quatro domínios científicos: o domínio da engenharia e das ciências exactas, domínio das ciências sociais e humanas, o domínio das ciências da saúde e toda a parte do ambiente.
Tentamos que esta unidade se interligue, cada vez mais, com aquilo que são as linhas orientadoras da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), para que, sempre que haja algum programa de financiamento, os nossos docentes se possam rever nesses domínios.
De realçar que a UI tem como grande prioridade promover tudo o que são as publicações dos docentes do ponto de vista dos “papers” e dos artigos e relembrar que a unidade, para além de tudo que faz, que é construir essa parte toda do “papers”, também tem muitos artistas e muitos produtores multimédia.
Tudo o que é a produção em “media” e tudo o que é produção artística também faz parte do que nós chamamos o friso cronológico da nossa unidade de investigação.
A unidade tem um conselho científico formado por 21 membros. Tem três membros de cada escola e, na passada segunda-feira [13 de Julho], fui eleita como directora da unidade por mais quatro anos: já estive quatro anos à frente da unidade com a minha colega Rita Santos Rocha que muito me ajudou a construir tudo aquilo que temos.
Quem me vai acompanhar agora será a professora Paula Pinto, uma professora coordenadora da Escola Superior Agrária que também tem um currículo fantástico no domínio da produção científica e na construção de projectos.
Em conjunto, traçamos o nosso programa que se centra, em eixos orientadores: O primeiro tem uma estrutura organizacional: esta unidade de investigação serve, sobretudo, para acolher jovens e seniores investigadores e trabalhar articuladamente com o Centro de Investigação em Qualidade de Vida (CIEQV), que já foi acreditado pela FCT, e também com o novo polo que foi criado no dia 5 de Fevereiro, no domínio da Literacia Digital e Inclusão Social. O outro eixo tem a ver com a investigação e desenvolvimento. Portanto, estamos muito próximos de trabalhar em conjunto, mas também de trabalhar de forma articulada com as entidades que queiram promover e que queiram perceber que podemos ser excelentes parceiros para poderem apresentar investigação.
Um terceiro eixo tem a ver com o trabalho colaborativo, um trabalho muito articulado entre o conselho científico da UI-IPSantarém: é com este “core business” dos colegas que traçamos e construímos tudo o que fazemos. Por último, temos a divulgação e disseminação da investigação e aqui realço, para além dos workshops, da conferência anual que fazemos em Fevereiro, o conjunto de webinars que temos vindo a fazer durante este tempo de confinamento sempre às segundas- feiras das 17h00 às 18h00.
Por último, um eixo fundamental que é o de relação com a comunidade e as parcerias. Dizer que o nosso lema de campanha tem a ver com uma política de continuidade: houve três anos a trabalhar na unidade de investigação em conjunto com o conselho científico e identificámos peças que correram muito bem, mas também identificámos outras que deveriam ser ainda mais trabalhadas e, por isso, o nosso lema é ‘inovação e transferência do conhecimento’.

Que projectos desenvolve?
A nível de projectos temos vários, que em conjunto todas as escolas dinamizam. Realço que temos um projecto de internacionalização onde todas as escolas estão implicadas e de onde nascerá, deste projecto transversal a todos os domínios de investigação das escolas, um projecto na área da literacia digital no domínio das ciências agrárias e um outro na área da saúde, e muito nos deixa feliz que os vários colegas irão trabalhar de forma conjunta neste processo.

Qual é a importância, na actualidade, da investigação para o ensino politécnico?
Sem investigação, não há ensino superior. Se não comunicarmos com os outros, não frequentarmos outros espaços de aprendizagem, não transferirmos o nosso conhecimento com outros não pode haver ensino superior, já que ele é assente em conhecimento e esse conhecimento não passa só pelos domínios científicos de cada um de nós, mas também pela transversalidade do conhecimento e pelo networking que fazemos com os colegas que investigam no mesmo domínio que o nosso.

Muitas vezes ouvimos dizer que os académicos não sabem fazer, apenas ensinam a fazer. Com esta pandemia temos assistido exactamente ao contrário: alunos, professores, investigadores estão activamente a produzir viseiras, máscaras, e muitos outros materiais que ajudam a salvar vidas. Como vê estes projectos?
Tenho de realçar o trabalho produzido na FabLab da ESES, um “laboratório de fabricação” com equipamentos, materiais e ferramentas que permitem a criação de protótipos a partir de um determinado desenho realizado em computador, colocando à disposição do utilizador um vasto conjunto de equipamentos de última geração: corte a laser, corte de vinil, fresa grande, fresa de precisão e impressora 3D.
Tenho o gosto de ter sido eu a trazer o projecto para cá há muitos anos atrás, e agora, de forma muito bem articulada, o Eng. Maurício e o jovem João Domingos têm vindo a dinamizar de forma muito prática esses materiais beneficiando muito, não só o politécnico, como a região e daí a identidade politécnica, que serve para engrandecer tudo o que construímos para os “nossos”, a comunidade académica, o conceito do regional, do nacional e também o internacional. Se não trabalharmos também com o que se passa lá fora não conseguimos enriquecer da mesma forma. Creio que é fundamental esse trabalho que foi feito.
Realçaria, por outro lado, e do ponto de vista da investigação, no domínio das ciências sociais e humanas, que já saiu, no passado dia 15, na revista da unidade de investigação, um tópico sobre a experimentação dos professores nas várias unidades curriculares durante o período de confinamento.
Creio que temos materiais e boas práticas que podem ser transferidas para outras realidades daquilo que foi o nosso tempo de pandemia.
As novas tecnologias e o ensino à distância provaram que há margem para outras formas de ensino que não o tradicional. Acredita que haverá uma mudança de paradigma na forma como ensino é leccionado?
O termo ‘novas tecnologias’ é sempre perigoso porque o novo, a cada segundo, vai mudando. Sobre o EAD (Ensino à Distância), não tenho dúvidas que nenhuma instituição de ensino superior, quer seja universidade ou politécnico, irá regredir nessa matéria. O que irá de facto é progredir.
Contudo, gostaria de chamar à atenção que o ensino à distância tem imensas vantagens, uma delas o ‘poder’ de podermos entrar na nossa unidade curricular à hora que quisermos. Do ponto de vista do professor, é muito mais exigente porque todos os dias tem que ter em mente que tem estudantes que estão a aprender com ele e não podem ficar com dúvidas. Um estudante que tem dúvidas é um estudante que vai desanimar. Uma das grandes dificuldades do EAD é fazer com que os estudantes não desistam. E, para isso, o docente tem que entrar todos os dias na sua unidade curricular e tirar todas as dúvidas que o estudante tenha.
Creio, por outro lado, que há factores que são menos benéficos no EAD, nomeadamente a parte da socialização. É extremamente importante que os jovens que frequentam uma licenciatura possam estar presentes uns com os outros e viverem a academia no seu todo. O mesmo já não digo para o mestrado nem para o doutoramento. Nesse caso, o EAD enquadra-se perfeitamente.
De notar, também, que é muito importante no EAD que os conteúdos que são colocados online não sejam uma mera réplica daquilo que usamos numa sala de aula. O conceito de aprendizagem e ensino à distância ou presencial são dois momentos distintos e daí a necessidade de haver formação de docentes para perceberem quais os conceitos que têm que mudar, qual a estrutura que tem que se mudar para um formato EAD.
Em cada capítulo que o professor vai apresentar deve haver um vídeo enquadrador daquilo que será a aprendizagem desse tópico. Um outro factor importante é a abertura dos vários tópicos para que se respeite a forma como cada um dos estudantes quer aprender.
O EAD veio para ficar, mas tem que ser cuidado de forma a que tenha uma excelente qualidade. Para isso – reforço – é preciso formação, perceber o que se passa lá fora. Dou como exemplo a Universidade Aberta, com a qual temos muitos contactos e vamos agora criar um mestrado novo em Digital Inovation for Society, creio que esse trabalho articulado pode trazer qualidade ao EAD.

A Escola Superior de Educação de Santarém (ESES) é uma referência em termos do e-learning. Que papel poderá ter em termos de ajuda à implementação deste tipo de ensino nas escolas da região e País?
Naturalmente que a ESES, com o seu histórico ao nível do EAD, tem aqui uma palavra a dizer. A aposta em modalidades de formação à distância tem sido grande. Tive o gosto de criar uma plataforma, o e-Raizes-Redes, muito baseada em toda a minha aprendizagem na Universidade Aberta onde continuo a leccionar e isso dá-me sempre um “update” muito grande de como as coisas devem ser feitas.
Creio que a escola de educação tem, de momento, o gabinete do E-learning que é chefiado por colegas que se centram sobretudo entre as ciências sociais e a matemática. O que ajudou muito as várias escolas do politécnico a criar as suas plataformas e os seus conteúdos. Naturalmente, poderá dar também resposta a todas as necessidades que existem na região. Recordo que temos o Centro de Competência TIC (CCTIC) sediado na ESE de Santarém. Trata-se de uma estrutura organizava que tem por fim último apoiar e induzir boas práticas na utilização educacional destas tecnologias. Para tal, participa em projectos de investigação e desenvolvimento, apoia as escolas da região na concepção e realização dos seus projectos e actividades, promove iniciativas de formação e divulgação das TIC, apoia a implementação regional de projectos nacionais e internacionais nesta área. Actualmente, a sua directora é Cristina Novo, também “expert” na matéria, e esta articulação entre escolas secundárias, aquilo que é o CCTIC e a presença do politécnico na região temos aqui uma sinergia fantástica para que essa ajuda possa ser dada com toda a qualidade.

A ESES foi pioneira no lançamento do curso de Literacia Digital para Mercado de Trabalho. Que avaliação faz até ao momento?
O curso de Literacia Digital para Mercado de Trabalho está, neste momento a preparar a fase de estágios, que estão previstos entre os dias 15 de Setembro e 15 de Novembro. E, depois, teremos a apresentação pública dos relatórios, encerrando a primeira edição deste curso pioneiro. Trata-se da primeira formação de educação inclusiva em contexto de ensino superior a ser implementada em Portugal e baseia-se no modelo que funciona há 12 anos, na Universidade Autónoma de Madrid, devidamente adaptado à realidade portuguesa. O balanço é extremamente positivo: os professores deram tudo o que tinham para que a aprendizagem destes estudantes tivesse a máxima das qualidades.
Acresce que empresas da região e a própria Câmara de Santarém têm vindo a colaborar connosco e, de uma forma articulada, nos apoiam em conhecimento e, também, na parte do financiamento, nomeadamente com o pagamento de uma das propinas aos nossos estudantes. Neste momento, já estamos a preparar a segunda edição do curso, que irá começar no segundo semestre. Neste momento, já temos 16 estudantes que já manifestaram interesse em poder participar.
Esta ‘literacia digital’ ainda vai viver dois momentos altos: um deles será a inauguração do ‘Escape Room’, uma modalidade de jogo de desafio, misturando aventura e raciocínio. É um espaço de enigmas que os estudantes e a comunidade vai poder frequentar. Vai passar por três salas, com vários jogos, e, no final, o utilizador vai poder fazer uma entrevista virtual para emprego. O tema da sala vai ser, precisamente, ‘A Entrevista’, um projecto financiado pelo BPI La Caixa. Um outro projecto inovador é que vamos ter um final de ano com a primeira edição do curso em Madrid. A TAP ofereceu os bilhetes, e com o José Cid fizemos um concerto onde conseguimos angariar verba, sendo que os nossos estudantes vão poder usufruir de uma interacção com os estudantes de Madrid.

1 comment
  1. “Sem investigação, não há ensino superior”. Concordo plenamente. O que é lamentável é que a Presidência do IPSantarém não crie soluções para manter e/ou dar estabilidade laboral aos seus melhores investigadores e os deixe fugir para outras instituições. A título de exemplo m, veja-se o caso do colega que venceu o prémio da UIIPS, de melhor investigador do IPSantarém, nos últimos 3 anos. É de facto incompreensível que uma situação destas possa acontecer e que revela que algo vai muito mal.

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