O Governo vai colocar em discussão em Setembro três propostas para colmatar a falta de água no Médio Tejo, uma delas contemplando uma ligação entre os rios Zêzere e Tejo na zona de Cabril, disse o ministro do Ambiente.
O ministro do Ambiente e da Acção Climática, Duarte Cordeiro, explicou que a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) está a concluir um estudo de “reforço da resiliência” nas zonas do Médio Tejo, onde há habitualmente problemas de falta de água, o qual deve ser colocado em consulta pública no mês de Setembro.
O governante afirmou que a APA vai colocar uma avaliação ambiental estratégica, esperada em Setembro, para discutir uma de três opções: uma ligação entre o Zêzere e o Tejo na zona da barragem de Cabril, “aproveitando o final da concessão da barragem”, fazer no rio Ocreza uma nova barragem, ou uma “solução mista”.
No ano passado o anterior ministro da pasta, João Pedro Matos Fernandes, já tinha admitido à Lusa a possibilidade da construção de um túnel de 50 quilómetros entre a barragem de Cabril e Belver, sem transvases, para colocar mais água no rio Tejo. E que a outra solução seria o reforço de capacidade armazenada, em barragem, no rio Ocreza.
Em Abril deste ano o PSD já tinha questionado Duarte Cordeiro sobre o estudo da APA, lamentando que nunca tivesse sido apresentado.
Duarte Cordeiro anunciou agora que as propostas devem ser apresentadas em breve, todas “salvaguardando sempre a hierarquia dos usos, que é a salvaguarda da água para consumo humano”, e todas no sentido de libertar água para o rio Tejo, sempre que haja necessidade.
O ministro considera importante ouvir autarcas, associações e “todos os actores”. “Queremos ser rápidos”, disse, acrescentando: “Diria que este ano é o ano em que se inicia a avaliação ambiental estratégica e o próximo ano já será de concretização de soluções e de início de procedimentos associados as opções que são tomadas”.
Numa entrevista focada na água, e a propósito da Conferência dos Oceanos da ONU, Duarte Cordeiro salientou por diversas vezes que os portugueses têm de aprender a viver com menos água, e deu como bom exemplo o aproveitamento das águas residuais, que no Algarve já representa um hectómetro de água, usada para regar campos de golfe e algumas culturas, havendo “a possibilidade de durante este ano” se duplicar o aproveitamento, para chegar a 2025 com oito hectómetros cúbicos de água residual.
“O nosso objectivo é procurar chegar a 20%, até 2030, de utilização de água reutilizada para diferentes usos, que implica a agricultura, que é um grande consumidor de água”, a indústria e a utilização urbana, para lavagem de ruas por exemplo. “Há um espaço de crescimento muito grande para as águas de reutilização”, afiançou.
O aproveitamento das águas no Algarve faz parte do Plano de Eficiência Hídrica, que tem associado no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) 200 milhões de euros. Além da reutilização de águas prevê, no essencial, a ligação do Pomarão a Odeleite e a construção de uma central de dessalinização, um projecto “com avisos a serem lançados”.
Duarte Cordeiro explicou que em fase final (este mês ou início de Julho) está também o Plano de Eficiência Hídrica do Alentejo, o que, com o Algarve e o Médio Tejo, completa as três regiões onde o Governo quer, neste mandato, “projectos de natureza estrutural”.
Nas águas para reutilização, disse Duarte Cordeiro, o objectivo é estender o mais possível o aproveitamento, agilizando se possível o licenciamento, para “maior rapidez e generalização de usos”.
No reaproveitamento das águas residuais, disse Duarte Cordeiro, há “muitos municípios interessados”. “Há muitos territórios com necessidades de consumo de água para efeitos agrícolas perto de territórios urbanos, talvez os mais fáceis de aproveitar. Mas no futuro temos de pensar em ligações, para levar esta água onde ela é consumida. Para a agricultura é uma oportunidade muito grande. Temos de nos habituar a viver com menos água e perceber que para podermos ter água temos de ir buscá-la onde ela está disponível”, disse.
As estações de tratamento, lembrou, são agora “fábricas de água”. E “é mesmo disso que se trata”.
E se nos rios, depois dos fogos florestais de 2017 e 2018, já foram reabilitados 1.230 quilómetros, abrangendo 140 municípios, Duarte Cordeiro disse estar a analisar agora a questão das barreiras obsoletas que existem. “Temos de as remover. A renaturalização dos rios também é importante para a revitalização dos habitats”, afirmou.