A secretária-geral do Sistema de Segurança Interna (SSI) revelou ontem que o Serviço de Informações de Segurança (SIS) descartou a ligação do furto de material militar ao terrorismo, poucos dias após o roubo, em 2017.

Essa pista “foi devidamente despistada” pelo SIS “e não tem qualquer ligação a Tancos”, afirmou Helena Fazenda, que foi ontem ouvida durante cerca de três horas na comissão parlamentar de inquérito ao furto de Tancos, parcialmente centrada numa reunião da Unidade de Coordenação Antiterrorista (UCAT), em 30 de Junho, dois dias após o roubo.

Questionada sobre a chamada “lista de compras”, informação partilhada por serviços de informações estrangeiros sobre material militar que grupos criminosos estariam interessados em comprar, e que coincidia, em parte, com equipamento furtado, Helena Fazenda voltou a dizer que não havia relação.

A “lista de compras, num contexto de primeira avaliação, nada tem a ver com Tancos, absolutamente nada”, sublinhou Helena Fazenda que, disse, por diversas vezes, que se baseava em informações partilhadas com a UCAT.

A coordenadora das forças de segurança afirmou ainda que “objetivamente não há nenhuma ligação, de acordo com informação transmitida até ao momento” à UCAT com a organização separatista ETA, de Espanha.

Outro indício “sem qualquer ligação ao furto”, tido em conta pelos serviços de informações na avaliação da ameaça terrorista, foi o caso de um carro “nas imediações das instalações militares de Tancos”, identificado por ter feito fotografias junto ao local.

“Não tem qualquer ligação [com o furto]. Era um pacato cidadão que reside numa cidade próxima”, descreveu Helena Fazenda, em resposta ao deputado do Bloco de Esquerda João Vasconcelos.

Helena Fazenda afirmou ainda que o facto de estar a ser investigado, pelo Ministério Público, um crime de terrorismo “permite um conjunto alargado de meios de obtenção de prova” aos investigadores.

Ao longo de quase três horas, os deputados fizeram muitas perguntas à secretária-geral do SSI sobre uma ata de uma reunião da UCAT, em 30 de junho de 2017, classificada de “secreta”, e em que é assumido pelo SIS que tinha informação sobre material pretendido por grupos criminosos nessa altura.

Uma informação que não foi partilhada com responsáveis das Forças Armadas, facto que relativizou, dado que cabe “ao dono da informação” decidir se a partilha ou não com outras entidades.

António Carlos Monteiro, deputado do CDS, afirmou que o SIS tinha elaborado, por essa altura, 27 relatórios sobre Portugal e o mercado ilícito de armas.

Foi também este deputado do CDS que questionou a coordenadora das polícias sobre se as autoridades não descuraram a relação de Tancos com outros furtos, na mesma altura, de material militar noutros países europeus.

Para a ajudar na tese de que o furto não teria ligações internacionais, Helena Fazenda afirmou que “os factos falam por si”.

E lembrou que o material “foi levado para umas dezenas de quilómetros ao lado”, duvidando de “ligações a meios internacionais”, dado que, dada a sua “experiência, baseada em factos, não se põe num sítio de recuo à espera de quem o vai adquirir”.

“O risco de ficar com o material em casa de um familiar, como foi o caso, é enorme”, ironizou.

Helena Fazenda repetiu, como já tinha afirmado em julho de 2017, na comissão parlamentar de Defesa, que soube do furto pela comunicação social e, questionada pelos deputados, recusou sempre “julgar” outras entidades sobre se deveria ter sido informada por canais diferentes, antes de o Exército ter feito um comunicado em 29 de junho de 2017.

Uma dezena de vezes questionada, a secretária-geral do SSI foi repetindo que “há sempre coisas a melhorar” na partilha de informação e só quando respondeu a António Carlos Monteiro admitiu que “pode não ter sido a melhor” a forma de tomar conhecimento deste furto.

O furto do material militar, entre granadas, explosivos e munições, dos paióis de Tancos foi noticiado em 29 de junho de 2017 e parte do equipamento foi recuperado quatro meses depois.

A comissão de inquérito para apurar as responsabilidades políticas no furto de material militar em Tancos, pedida pelo CDS-PP, vai decorrer até junho próximo, depois de o parlamento prolongar os trabalhos por mais 90 dias.

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