Vila Franca de Xira – 26 de Março, às 16 horas. Festival Taurino a favor da Casa-Museu dos Forcados Amadores de Vila Franca de Xira. Cavaleiros: João Moura, Paulo Caetano, António Ribeiro Telles, Rui Salvador, Luís Rouxinol, João Salgueiro e Marcos Bastinhas; Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira (Antigos e Actuais); Ganadaria: Paulo Caetano; Delegada da IGAC – Lara Gregório de Oliveira; Médico Veterinário: Jorge Moreira da Silva; Lotação: Casa Cheia; Tempo: Ameno.
Segundo Miguel Alvarenga, que aqui citamos com a devida vénia, “Tão cedo não vamos voltar a ver nada igual ao que todos testemunhámos na Praça de Vila Franca, no festival comemorativo dos 90 anos do grande Grupo de Forcados da cidade, a favor da obra da sua Casa-Museu.”
João Moura, Paulo Caetano, António Ribeiro Telles, Rui Salvador, Luís Rouxinol e João Salgueiro, mais o novo Bastinhas, fizeram recordar o passado – de glória e com tanta história! – numa tarde cheia de emoções e de bom toureio, para cujo sucesso muito contribuiu o jogo excelente dado pelos sete toiros da ganadaria de Paulo Caetano, bravos, com teclas, a impor e a exigir, e de apresentação q.b. para um festival.
Não me vou alongar muito na descrição e apreciação das actuações dos Maestros – porque não é preciso. Cada qual no seu estilo, recordando a história e o passado que aqui escreveram e aqui deixaram, estiveram simplesmente magistrais, sem nadinha a apontar, com toiros que apertaram e que exigiram, repito, sem a comodidade dos outros que muitas figurinhas dos dias de hoje exigem.
Moura é sempre Moura e o único senão é mesmo estar demasiado gordo. Digo-o pelo seu bem. É urgente e necessário que se cuide… Continua a tratar os toiros por tu e deu mais uma lição de como se toureia e se brega. Incrível! Maestro dos Maestros, primeiro de todos há tantos anos!
Paulo Caetano teve sempre, e nunca vai deixar de ter, o dom de tudo fazer com uma arte e um temple que continuam a ser um verdadeiro compêndio de como se toureia bem e com gosto. Com o cavalo “Campo Pequeno” deliciou tudo e todos e deu, também ele, uma profunda lição de como se toureia a cavalo. Pena não tourear mais. Porque está cada vez melhor, como Vinho do Porto – e continua a fazer falta!
António Ribeiro Telles é, destes antigos e a par de Rouxinol, aquele que permanece em actividade com maior assiduidade em todas as temporadas – e os anos não passam por ele. Esteve, como sempre, em grande plano de maestria, a entrar pelo toiro dentro, cravando de alto a baixo e ao estribo com essa verdade e esse rigor, esse aprumo também, de quem escreveu e fez história nos anais da nossa Festa.
Rui Salvador e os “ferros impossíveis”. Pena que o cavaleiro de Tomar tenha toureado pela última vez nesta temporada, depois de anunciar que a suspendia para só regressar em 2024, comemorando 40 anos de alternativa e despedindo-se das arenas – em alta, como aqui o demonstrou.
Esteve brilhante a lidar e a cravar, emocionando e empolgando, como é seu timbre. Luís Rouxinol continua a não saber estar mal. Protagonizou lide triunfal, sobretudo com o cavalo “Douro”, com requintes de bom gosto e a emoção de sempre, galvanizando o público com a sua eterna maestria, terminando com um arrojado par de bandarilhas, a marca da casa, que não resultou à primeira, mas foi empolgante à segunda.
João Salgueiro trouxe a Vila Franca a magia dos seus tempos de glória com aqueles ferros temerários que páram os corações de todos nós e causam arrepiantes calafrios na bancada, parecia ele que tinha outra vez vinte anos. Lide de valor tremendo e emoção “à Salgueiro” – como sempre.
Oxalá volte a tourear mais esta temporada – porque esta emoção e esta verdade são também, como o toureio de arte de Caetano, coisas que fazem falta à Festa! E que, infelizmente, estão cada vez mais em desuso…
Fechou praça, representando seu saudoso pai (sempre presente nas suas vibrantes actuações) neste naipe de antigos Maestros, o irrequieto e sempre inesperado Marcos Bastinhas, que foi esperar o toiro à porta dos sustos e desenhou a seguir uma lide empolgante, rematada e onde tudo foi perfeito, desde os dois ferros compridos em terrenos apertados e a deixar vir o toiro, aos emotivos curtos cravados também em terrenos de grande compromisso, no sítio que assusta, o sítio de verdade. Brega excelente e em permanente contágio com o público, alegre e comunicativo, terminando “à pai” com o par de bandarilhas e o emblemático salto do cavalo e a praça toda de pé!
(…) Mas esta foi também a tarde do Regresso dos Heróis do Grupo de Vila Franca à “Palha Blanco”, marcada pelas sete pegas, uma única por intermédio de um forcado actual, a primeira, consumada pelo valoroso Cabo Vasco Pereira, com antigos nas ajudas, a que se seguiram seis – indescritíveis! – pela Velha Guarda, com as glórias de outros tempos – de sempre! – na cara, nas ajudas e a rabejar. Tão cedo, não me vou cansar de repetir, não vamos ver nada igual.
Vê-los a todos de novo fardados foi, logo à partida, um viver de emoções e recordações passadas com algum cheirinho a nostalgia pela lembrança de tempos gloriosos, por aquilo que todos eles representaram na História da Tauromaquia e, sobretudo, na História da Forcadagem. Uma tarde de glória à maneira antiga!
Depois da pega inicial do Cabo Vasco Pereira (à primeira tentativa, com a arte e o poderio de sempre, ajudado pelos antigos, com “Caló” a rabejar), mostraram que quem sabe jamais esquece os antigos Cabos Vasco Dotti (à segunda, com a raça e o querer de todos os tempos, depois de um violento derrote na primeira tentativa), Jorge Faria (com a raça, o valor e aquele sorriso de sempre, à primeira, com os antigos todos a ajudar na perfeição e o grande Carlos Silva de novo a rabejar), o também antigo Cabo Ricardo Castelo (à primeira, imponente a receber o toiro, templando a investida com arte, fechando-se com decisão, depois o toiro fez o pino sobre ele e Ricardo jamais saiu da cara – único!), o carismático Carlos Teles “Caló” (numa grande pega à segunda, depois também de um forte derrote na primeira intervenção, confirmando- se na fortíssima ovação que depois lhe tributaram que continua a ser, ainda e sempre, um dos mais queridos e emblemáticos forcados da nossa História!), o grande e sempre lembrado Ricardo Patusco (à primeira, com a técnica e o poder com que sempre cá andou) e o enorme Mário Rui (à primeira também, trazendo-nos recordações das suas muitas históricas pegas).
Nas seis pegas da Velha Guarda, foram ajudas e rabejadores muitos antigos forcados do Grupo de Vila Franca – alguns já com idade para terem juízo, como se costuma dizer…, mas todos eles mantendo a alma e o sangue da valentia que os celebrizou no passado, ajudando com raça, com alma e com um tremendo valor à consumação das pegas.
Ao início do festival, foi guardado um respeitoso minuto de silêncio em memória do antigo forcado vila-franquense António Tomás Pereira e do Comendador Rui Nabeiro, recentemente falecidos.
Nota alta para as intervenções de todos os bandarilheiros membros das quadrilhas dos sete cavaleiros, sem excessos de capotazos, com arte e maestria de todos eles. Melhor que isto era mesmo impossível e tão cedo não vamos ver uma corrida assim (foi um festival, mas teve o esplendor de uma corrida). A tarde de domingo, marcada ainda pelas sete apoteóticas pegas dos antigos Forcados de Vila Franca, foi, não restam dúvidas, a tarde da temporada.
Muitas mais hão-de vir – mas sem Maestros como estes! E sem uma história, uma emoção e um glamour como aquele que recordou o passado e encheu as medidas a todos os aficionados que estiveram na “Palha Blanco” quase cheia.
Lara Gregório de Oliveira foi a competente directora de turno, assessorada pelo conceituado médico veterinário Jorge Moreira da Silva e o festejo esteve presidido, no camarote que outrora foi Real, pelo presidente da autarquia Fernando Paulo, pelos autarcas da Junta de Freguesia e pela embaixadora de Espanha, que honrou a Tauromaquia lusa associando-se a esta grande festa.
(MA)