O espetáculo “Terminal (O Estado do Mundo)”, a segunda parte de um díptico em torno da crise ambiental e climática, pela companhia de teatro Formiga Atómica, tem estreia nacional no sábado, no Teatro Municipal de Ourém.

À margem de um ensaio para a imprensa, o encenador Miguel Fragata explicou à agência Lusa que o espetáculo nasce em 2021, quando a companhia de que é fundador e dirigente, juntamente com Inês Barahona, decidiu “dar início a um ciclo dedicado à crise climática”.

Então, surgiu “O Estado do Mundo (Quando acordas)”, este “dedicado a um público mais jovem”.

“Logo nessa altura, tínhamos a ideia de fazer um segundo espetáculo, ‘Terminal’, com a mesma temática, que fosse dedicado a um público adulto, que fosse também um espetáculo de uma outra escala e que pudesse fazer uma abordagem ao tema mais subjetiva, mais ampla, mais existencialista”, afirmou.

“Terminal (O Estado do Mundo)” nasce também de um trabalho feito ao longo de 2023 no terreno, “de escutar as pessoas e de perceber qual é a forma como as mais variadas faixas da população e nos mais variados lugares olham para a crise climática”, continuou Miguel Fragata.

Formiga Atómica, que assinala o 10.º aniversário este ano, desenhou então uma programação para a qual foram convocados “outros artistas e outras áreas de pensamento”, para irem com a companhia para o terreno – 25 localidades do país e duas em França (Lyon e Avignon).

“Em cada local, nós estacionávamos durante uma semana” e eram desenvolvidas várias atividades, disse.

As atividades deram origem a uma publicação, a lançar no final do ano, e dois documentários, um denominado “Regresso ao futuro” apresentado no final da semana de trabalho em cada local, uma “espécie de visita guiada à memória das pessoas em confronto com a visita guiada possível aos lugares hoje e que dá um retrato também muito acurado das mudanças do país nas últimas décadas”, declarou.

O segundo documentário, “Improváveis de costas voltadas”, a ser exibido também no sábado em Ourém, “nasce de um conjunto de entrevistas” feitas nos locais onde a companhia esteve a pessoas que “dificilmente se sentariam para ter uma conversa”.

Inês Barahona, responsável pelo texto, reconheceu que a crise climática é “uma questão que divide, polariza, às vezes acidifica bastante as discussões”, sendo que o espetáculo “é uma tentativa de colocar, no mesmo espaço, todas essas sensibilidades e atmosferas” recolhidas pela companhia no país.

“E, nesse sentido, o texto que construímos procura, de uma forma simbólica, metafórica, às vezes um pouco indireta, acomodar todas essas sensibilidades para que possamos, ao mesmo tempo que nos vemos ao espelho, distanciar-nos, estar à escuta, reconhecer-nos nalgumas sensibilidades e podermos sair do espaço do teatro como uma espécie de experiência coletiva de imaginação do futuro”, acrescentou.

Para Inês Barahona, abordar a questão da crise climática no teatro “foi um desafio muito grande, precisamente por essa má história da discussão de esta crise estar a ser feita de uma forma muito polarizada e, às vezes, com alguma tentativa de capitalizar alguns dividendos políticos dessa cisão social”.

“O teatro não está destacado do tempo em que ele vive e, nessa medida, ele é sempre político”, assinalou, acrescentando: “O [encenador, dramaturgo e diretor do Festival d’Avignon] Tiago Rodrigues dizia numa entrevista que ‘se tivesse respostas era político, mas como só tem boas perguntas, trabalha em teatro’. E eu acho que é um bom retrato”.

O espetáculo tem música original ao vivo, com composição e interpretação de Manuela Azevedo e Hélder Gonçalves, dos Clã, cúmplices da Formiga Atómica há algum tempo.

“O primeiro projeto que partilhámos aconteceu já em 2018”, adiantou Miguel Fragata, que também integra o elenco, referindo-se ao espetáculo “Montanha Russa”, sobre a adolescência.

Desde então, Hélder Gonçalves começou a compor as músicas para os espetáculos que se seguiram.

“Temos no palco a presença dos dois. Hélder Gonçalves, que compôs a música do espetáculo, está também em palco a tocar, e Manuela Azevedo, que também toca, canta e é intérprete”, esclareceu.

“Terminal (O Estado do Mundo)” conta com seis intérpretes que “chegam a um terminal: lugar de fim, ou de partida para o futuro?”, refere a sinopse, descrevendo que, antes do desfecho, contam “histórias para adiar o fim do mundo”.

“Enquanto houver uma história para contar, talvez se consiga […] adiar o fim do mundo. Hoje, aqui e agora, também tentamos”, afirma no prólogo do espetáculo Manuela Azevedo.

Depois de Ourém, no sábado, às 21:30, o espetáculo segue para Torres Novas (04 de maio), Alcanena (24) e Torres Vedras (31).

Em junho, apresenta-se em Viseu (07), Idanha-a-Nova (22) e Aljezur (28 e 29).

No mês seguinte, vai estar uma semana no Festival d’Avignon.

Esta é a segunda vez que a companhia Formiga Atómica participa neste festival. A primeira foi em 2018, com a peça para o público infantil “Do bosque para o mundo”.

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