A Comissão Europeia aprovou o projecto de criação de uma reserva natural no Paul da Gouxa, em Alpiarça, um dos sete Laboratórios Abertos aprovados em diversos países para promover zonas húmidas, turfeiras e planícies aluviais como sumidouros de carbono.
Em comunicado, a Universidade de Évora (UÉ) refere que o projecto aprovado, que desenvolve em parceria com várias entidades, prevê a concessão de um apoio para a criação e classificação do Paul da Gouxa como reserva natural, “dado que nesta zona se encontra uma importantíssima turfeira baixa no contexto europeu com uma extensão considerável”.
Dos 6,5 milhões de euros aprovados, financiados pelo Horizonte Europa, 305.875 euros destinam-se à equipa da Universidade de Évora que lidera o projecto, segundo a UÉ.
O Laboratório Aberto (Open Lab) a criar, envolve, ainda, o município de Alpiarça, a Quinta da Atela e “diversos actores regionais, entre eles organizações não governamentais, agricultores e decisores políticos”.
O objectivo é “estudar o papel das turfeiras como sumidouros de carbono e promover a sua conservação, restauro e gestão sustentável, de modo a que se possam desenvolver estratégias a nível europeu para promover a minimização das emissões de gases com efeitos de estufa e, simultaneamente, promover a sua captura/retenção por parte destas infra-estruturas verdes”, afirma a investigadora Ana Isabel Mendes, citada na nota.
Ana Isabel Mendes, investigadora do Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento (MED) da Universidade de Évora, coordena o projecto REWET – REstoration of WETlands to minimise emissions and maximise carbon uptake: a strategy for long term climate mitigation (restauração das zonas húmidas para minimizar emissões e maximizar a captação de carbono: uma estratégia para uma mitigação climática a longo prazo), recentemente aprovado pelo programa Horizonte Europa da Comissão Europeia.
A equipa integra ainda os investigadores do MED João Eduardo Rabaça, professor do Departamento de Biologia, e Sérgio Prats Alegre, doutorado em Ciências do Mar e do Ambiente.
Segundo Ana Isabel Mendes, a Reserva Natural de âmbito local do Paul da Gouxa albergará uma turfeira baixa de águas interiores, que, pela sua extensão e localização geográfica, “constitui uma área importante para a conservação, destacando-se não só no contexto nacional, mas também no contexto europeu”.
“A importância deste Paul ultrapassa a fronteira portuguesa, sendo mesmo considerado um exemplo único e bastante raro no contexto europeu, dado tratar-se de uma turfeira de baixa altitude onde a turfa chega a atingir uma profundidade de cerca de nove metros que se estende por uma área de cerca de 90 hectares [com diferentes Iso espessuras], o que corresponde a acumulação de carbono durante cerca de 9.000 anos”, lê-se na nota da UÉ.
A investigadora salienta também que o projeto vai contribuir para o trabalho que tem vindo a ser feito no sentido de esta categoria ser considerada no plano sectorial da rede Natura 2000 de Portugal, uma vez que “esta tipologia de ‘habitat’ não foi dada para Portugal”, por se desconhecer a existência e a real extensão desta turfeira.
“A Universidade de Évora tem dado suporte à submissão da candidatura a Reserva Natural e, no decorrer deste projecto, é expectável que se inicie o desenvolvimento do plano de ordenamento da reserva e se desenvolvam uma série de acções de restauro de habitat, capacitação e educação ambiental”, acrescenta.
A investigadora adianta que, paralelamente, vão ser estudadas alternativas ao uso do solo em talhões delimitados, para aferir das mais valias em situações de produção de arroz, produção de caniço e utilização como reserva natural, avaliando “os diversos serviços de ecossistemas em cada um destes contextos”.
O REWET, liderado pela empresa IDENER, envolve 19 parceiros europeus – de Espanha, França, Holanda, Áustria, Finlândia, Estónia, Bélgica, Itália, Dinamarca e Portugal -, destacando a UÉ o envolvimento da Wetlands International, da UNESCO e do Stichting Wageningen Research.
A UÉ realça a parceria transdisciplinar entre investigadores, empresas, entidades sem fins lucrativos, parceiros locais e regionais localizados em diversas reservas naturais de importância internacional e uma organização internacional, bem como o contributo para o reforço da investigação, do desenvolvimento tecnológico e da inovação.