Homem de fé inabalável e de um profundo sentimento humanista, o nome de Manuel Francisco Borges está marcado, de forma indelével, na cidade de Santarém, onde exerceu o sacerdócio ao longo de quatro décadas e foi impulsionador de grandes obras, unidades de solidariedade e valor acrescentado à comunidade.
O padre Manuel Francisco Borges assumiu a paróquia de Marvila em 1975, depois de ter passado por Alfeizerão, Caldas da Rainha e Vila Nova de Famalicão. Quatro anos mais tarde, constituiu o primeiro Centro de Dia para apoio a idosos do concelho, dando forma àquela que é hoje uma das Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) mais importantes do distrito e do país.
Apoia diariamente centenas de utentes, estendendo a sua acção para lá dos limites urbanos da cidade, com pólos implementados nas freguesias de Azóia e Ribeira de Santarém, sendo que este último herdou o nome do fundador do Correio do Ribatejo: Dr. João Arruda.
Actualmente “Pároco Emérito de Marvila e Reitor do Santuário do Santíssimo Milagre”, Manuel Francisco Borges vive numa ERPI em Torres Novas e os seus olhos iluminam-se de uma forma diferente quando lhe falam de Santarém.
No livro do historiador Martinho Vicente Rodrigues, intitulado “O primeiro reitor do Santuário do Santíssimo Milagre de Santarém, Padre Manuel Francisco Borges, na História de Santarém”, o autor considera que a sua obra “não pode ser esquecida”.
Devem referir-se as palavras do autor: “Com efeito, quantas figuras verdadeiramente excepcionais, dedicadas a erguer esta Santarém, ficaram pelo silêncio dos tempos e quantos, sem nada fazer, tiveram a honra de ficar na história. Mais recordamos aqueles, que num halo, se mistura admiração, mistério e referência.
Para tal, contribuíram as circunstâncias das quais recortamos a sua personalidade, a impor a diferença do seu grupo cultural e ainda, a distinguir-se com o seu carácter próprio, graças às experiências vividas. O simples seminarista novato Manuel Francisco Borges fica perante a riqueza dos saberes no Seminário de Santarém, em 1943, à luz de um intenso fervor religioso para a vida.
Assim o seu amor a Santarém completa-se, ao longo de 40 anos, como Prior de Marvila e Reitor do Santuário do Santíssimo Milagre. O presente livro demonstra, em simultâneo, que também as interpretações sobre a obra do 1º Reitor do Santuário do Santíssimo Milagre, Pe. Manuel Francisco Borges, não são obrigatoriamente únicas. Estamos perante uma vida sacerdotal emocionante de um Homem incansável, audacioso, destemido, generoso e até implacável”.
Com efeito, o Pe. Borges foi e será sempre uma referência pela excelência e relevância do trabalho que desenvolveu, quer na área Sacerdotal, quer docente, quer ainda em cargos sociais e culturais que assumiu em prol da comunidade.
Ficará para sempre lembrado, não só pela sua obra, mas também pela pessoa que é, um homem nobre na maneira de ser, honesto, rigoroso, leal, humanista, solidário e simples.
Manuel Francisco Borges nasceu no dia 8 de Maio de 1931, em Carvalhal da Aroeira, freguesia de S. Pedro, concelho de Torres Novas. Seus Pais, Bernardino Francisco e Maria de Jesus Borges tiveram mais três filhos: Elvira de Jesus Borges, Maria Arminda Borges e Augusto Francisco Borges.
A fé esclarecida de seus Pais, a prática da Missa dominical, a devoção a Nossa Senhora, em Maio, ao Sagrado Coração de Jesus, em Junho, a oração do Terço em família, representaram uma verdadeira semente da vocação sacerdotal do Padre Borges.
Entrou como seminarista no Seminário de Santarém em 1943. Era então Reitor efectivo do Seminário, Monsenhor Francisco Maria Félix, mestre de sucessivas gerações de sacerdotes (exerceu essas funções de 1921 a 1963) sendo Vice-Reitor o Cónego Fernando Duarte ao qual se encontra ligado por forte amizade.
Decorria a segunda Guerra Mundial com graves consequências para todos nomeadamente no que respeita às grandes restrições e dificuldades no dia a dia.
Em 1 de Outubro de 1947 ingressou no Seminário de Almada, onde se verificou o seu crescimento físico, espiritual e intelectual. Foi um aluno cumpridor dos seus deveres, mantendo boa relação com os superiores e colegas, num ambiente de disciplina, rigor e camaradagem. Nessa fase da sua vida revelaram-se grandes qualidades de desportista, sobretudo no voleibol.
Em 1950, entrou no Seminário dos Olivais, na altura a “Universidade de Teologia”, completando assim a sua formação e os estudos eclesiásticos.
A certeza da sua vocação sacerdotal deu-lhe paz e serenidade e simultaneamente a capacidade de ultrapassar as dificuldades e os problemas próprios de quem faz a sua escolha e se vai entregando a Cristo, cada dia com maior entusiasmo.
Em 29 de Junho de 1956 – foi o dia da sua Ordenação Sacerdotal na Sé Patriarcal de Lisboa, em cerimónia presidida pelo Sr. Cardeal Patriarca, D. Manuel Gonçalves Cerejeira.
No dia 19 de Janeiro de 1975 o Manuel Francisco Borges tomou posse, como Pároco, na Paróquia de Nossa Senhora de Marvila, na cidade de Santarém.
Para além do que lhe fora transmitido sobre a Paróquia sobretudo pelo seu antecessor, o Padre Manuel Joaquim Pedro Branco e dando continuidade à sua acção, não deixou de aprofundar o conhecimento sobre Marvila, tendo em vista as alterações processadas a partir da revolução de 1974, que geraram novos comportamentos, dinâmicas e desafios.
A nível local, a implementação de uma rede mais ampla de respostas sociais na área da Infância, Creches e Jardins de Infância, tinha atingido importância relevante já que o alargamento do mercado do trabalho no tocante à população feminina suscitava novos problemas para as mães, nomeadamente os relacionados com a permanência das crianças em locais apropriados durante as horas de actividade.
Manuel Francisco Borges viveu, ao longo de sessenta anos de vida sacerdotal, uma espiritualidade inserida no quotidiano, “com gestos de amor e solidariedade, seguro da força de igreja que não tem equivalente. Sempre a surpreender num culto elevado, abrangente de atrair desde os eruditos aos menos privilegiados”, segundo escreve Martinho Vicente Rodrigues.
Uma ideia corroborada pela autora da biografia “A vida e a obra do senhor Padre Manuel Francisco Borges” da autoria de Maria Ivone Duarte Carrolo: “O Padre Manuel Francisco Borges prolonga no Tempo o compromisso assumido quando da sua Ordenação. Trabalho duro, situações desconfortáveis e quantas vezes a sua saúde é afectada pela complexidade das acções do quotidiano…
Tem enfrentado com dinamismo, coragem e determinação os desafios que lhe são colocados não só pela imperiosa necessidade de evangelização, mas pelos reais problemas das pessoas e da sociedade.
Apesar deste documento testemunhar a eficácia das suas virtudes, dons e talentos assim como a dignidade de que se revestem, não consegue transmitir a grandeza da Vida e da Obra do Padre Manuel Francisco Borges.
A sua missão de Homem/Sacerdote ficará na História da sua terra natal, das comunidades onde esteve e na Cidade de Santarém.
Daí a humildade e a responsabilidade de agradecer e de seguir o seu exemplo, com a certeza de que vale a pena dar aos outros, o testemunho da vivência da fé, do amor e da esperança”.