O Museu Diocesano de Santarém assinala o seu 10.º aniversário, num ano que se cruza com as comemorações do Jubileu pelos 50 anos da Diocese de Santarém. O padre Joaquim Ganhão, director do museu, reflete sobre o impacto do espaço na promoção da arte sacra e no diálogo entre fé e cultura, enquanto antecipa os desafios e ambições para 2025, num percurso orientado pela missão de servir a comunidade.

O Museu Diocesano de Santarém celebrou recentemente o seu 10.º aniversário, destacando-se como uma referência cultural e religiosa da região. Olhando para esta década, que balanço faz do impacto do museu na comunidade e na promoção dos bens culturais da Igreja?

O Museu Diocesano de Santarém surge no contexto da concretização do Projecto Nacional Rota das Catedrais. A Diocese viu, desde o princípio, neste projecto, um desafio de renovação do cuidado pelo seu património e de o colocar no lugar certo, isto é, ao serviço da missão a que é chamada. O balanço destes 10 anos é francamente positivo em termos de concretização daquilo que é um dos desígnios principais do Museu: anunciar o Evangelho através dos bens culturais da Igreja, colocando o seu património à fruição de todos aqueles que o quiserem visitar. O impacto e a resposta dos variadíssimos públicos, desde turistas a comunidades cristãs, lares de idosos, até às escolas e universidades, não apenas ao nível dos visitantes, mas também de alguns trabalhos académicos, confirma-nos como um lugar de acolhimento e de diálogo com a sociedade em que estamos inseridos.

Em 2025, a Diocese de Santarém celebra os 50 anos da sua criação. Qual é o significado desta data para a comunidade diocesana e de que forma o Museu Diocesano se vai associar às celebrações do Jubileu?

Estamos a viver o 50º aniversário da criação da Diocese e esta data é assinalada com um Jubileu concedido pelo Papa Francisco para a Diocese, ao qual agora e junta o Jubileu de 2025 para a Igreja universal. Esta data é ocasião para agradecer o caminho percorrido e celebrar a nossa identidade como Igreja local, projectando o futuro. Cinquenta anos, no contexto da Igreja é muito pouco, mas não deixa de ser uma data significativa a celebrar. Preparámos um vasto programa, já apresentado, em diversas vertentes que procuram envolver a todos, com actividades culturais e lúdicas, mas também como momentos de formação, reflexão e celebração. A Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima está a percorrer todas as comunidades da Diocese, procurando levar este convite a participar na Festa de todos. O Dia 16 de Julho de 2025 será o dia aniversário e congregará em Santarém o Episcopado português e as autoridades que aceitarem o convite para participar, juntamente com todas as pessoas que se quiserem associar. O Museu une-se a esta celebração com uma exposição Itinerante que percorrerá as diversas zonas da Diocese e que neste momento pode ser visitada no refeitório Jesuíta, do Museu. Esta exposição convida o visitante a percorrer a História da Diocese, desde os primórdios do Cristianismo, no espaço diocesano, até ao presente.

A transmissão da fé através da arte e do património cultural é um desafio crescente na sociedade actual. De que forma o Museu Diocesano pode responder a este desafio e contribuir para o diálogo entre fé e cultura?

Um dos principais desafios do museu Diocesano, desde a sua criação, assumido nos seus estatutos e concretizado na programação de cada ano, é ser fiel a esta missão de contribuir para a transmissão dos valores cristãos e do património espiritual que herdámos e que somos desafiados a continuar a construir para transmitir. Este é um exercício diário para quem conduz a actividade do Museu. A conhecida programação de cada ano, desde as exposições temporárias às publicações, visitas guiadas e outros certames que promovemos, têm como meta esta finalidade.

O Papa Francisco tem insistido na necessidade de encontrar “novas gramáticas para a transmissão da fé”. Como interpreta esta visão no contexto do trabalho desenvolvido pelo museu e pela Diocese de Santarém?

Por vezes visitamos alguns museus, mesmo da Igreja, e vemos que são um repositório de peças, com indicações técnicas interessantes e fundamentais, mas aquém de uma narrativa que anuncie e mostre a finalidade para que foram criadas. As novas gramáticas a que se refere o Papa, parece-me deverem ser entendidas em duas vertentes fundamentais. Em primeiro lugar, ter em conta que as novas gerações, muitas vezes já não foram iniciadas à linguagem cristã e aos sinais da fé. Para esses, tudo isto são novidades que precisam de ser apresentadas e explicadas no seu contexto e com a sua gramática própria. Em segundo lugar, muitas pessoas iniciadas à fé cristã não têm instrumentos suficientes para saberem ler a arte cristã e a sua finalidade. Porque na Igreja, a arte não é um mero exercício estético, mas um instrumento que está ao serviço de uma missão: a celebração da fé e o anúncio da Boa Nova do Evangelho. Penso que a exposição temporária que promovemos acerca dos 50 anos do 25 de abril, é bem o concretizar destas novas gramáticas para a transmissão da fé. Curiosamente, percebemos que algumas pessoas (pouquíssimas) têm dificuldade em entender isso, talvez porque continuem a imaginar uma Igreja apenas revestida de talha barroca com algum cheiro a bafio. É preciso arriscar nas novas gramáticas, nos novos modos de dizer e transmitir a fé, na fidelidade ao Evangelho e ao sopro do Espírito para o nosso tempo.

Com o fim de 2024 à porta, que projectos e ambições gostaria de destacar para o Museu Diocesano e para a Diocese no próximo ano de 2025, especialmente no âmbito do Jubileu Diocesano?

Os projectos e ambições vão sendo definidos pelo caminho que vamos percorrendo como comunidade. O Museu continua a sua missão, perscrutando os desafios do nosso tempo e da vida da Igreja. O Ano de 2025 continuará a ser marcado com a celebração do Jubileu e com a exposição itinerante que regressará a Santarém depois de percorrer toda a Diocese. Nessa Altura, contamos poder promover um último momento desta iniciativa, enriquecida com algum património das nossas paróquias que não consta na exposição habitual do Museu. 

Relativamente à nossa Diocese, mais do que apontar projectos, partilho algumas preocupações que a celebração do Jubileu intensifica: temos diante de nós o desafio de concretizar as propostas do último Sínodo dos Bispos que desafiam a Igreja, uma vez mais a reconstruir-se como comunidade que acolhe a todos e todas e onde todos têm voz e lugar. Esta é a herança que recebemos desde os primeiros dias da Igreja e que muitas vezes esquecemos. Uma Igreja para todos, aberta a todos, sem nunca perder a fidelidade a Cristo e ao Evangelho. Nesta Igreja temos também o grande desafio de uma cultura vocacional onde os jovens possam descobrir um caminho possível de entrega e serviço. Começam a faltar-nos pastores para todas as comunidades. Este é também um desafio do presbitério Diocesano que precisa de se renovar e entusiasmar na missão, superando dificuldades, curando feridas e recuperando o amor da primeira hora para a missão.

São muitos mais os desafios, cabe-nos a ousadia de os acolher, enfrentar e concretizar. Mas a Igreja é de Cristo e habitada pelo Espírito Santo e estou certo de que não nos faltarão os auxílios para continuar a missão. É bom pensar que Igreja queremos ter/ser daqui a 50 anos.

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