“Dos nossos para os nossos” é o lema do IN.STR 2021, que este ano apresenta uma programação cultural assente sobretudo em espectáculos e projectos artísticos desenvolvidos pelos agentes e associações culturais do concelho de Santarém. Até 25 de Setembro, há dezenas de concertos musicais de vários estilos, dança e ballet, exposições, projecções de cinema e documentários, entre outras propostas culturais da autoria da “prata da casa”. Trata-se do regresso à cidade dos grandes eventos culturais, após um interregno provocado pela Covid-19. A esse propósito, o Correio do Ribatejo esteve à conversa com Tiago Fernandes, coordenador do programa na edição 2021 do IN.STR.

Que balanço se pode fazer, até ao momento, da edição deste ano do IN.STR e como tem sido o acolhimento do público?
Num momento de recomeço como o que atravessamos, o balanço que posso fazer até agora, é positivo. A adesão de públicos aos espectáculos tem demonstrado a importância da retoma das actividades para recuperar e conquistar hábitos culturais dos espectadores que durante este tempo viram a oferta diminuída face aos constrangimentos existentes.

“Dos Nossos para os Nossos” é a frase que dá o mote ao IN.STR. De que forma é que se consubstancia este mote?
À excepção do concertos de Bia Maria, que encantou os espectadores, e Filipe Sambado (adiado para Novembro), a programação do In.Str 2021 foi construída exclusivamente com os agentes culturais locais.

É importante a interligação que existe este ano entre o IN.STR e a Programação em Rede da Lezíria do Tejo?
Os projectos da Programação em Rede da CIMLT, construídos também eles com a comunidade local, vêm reforçar a vontade de integrar a cidade e os cidadãos na construção cultural da mesma. A possibilidade de tomar contacto e estar envolvido na construção de objectos artísticos, é importantíssima para o desenvolvimento da percepção que temos das propostas que nos são apresentadas em agenda cultural.
Como é que se programa um evento desta dimensão em tempos de pandemia?
Com todos os cuidados e seguindo todas as normas que nos permitem trabalhar e apresentar espectáculos em segurança, mas acima de tudo com a vontade, confiança e certeza que temos de retomar a normalidade o mais rapidamente possível.

Os palcos de Portugal e do Mundo viveram o último ano em confinamento. A Internet foi um meio alternativo para a apresentação e divulgação de projectos. Os espectáculos on-line, na sua opinião, vieram para ficar?
A solução encontrada para manter o contacto com os espectadores, através da apresentação de registos de espectáculos online, terá vindo para ficar. Contudo, não podemos sequer equacionar que este modelo é ou possa vir a ser uma substituição dos modelos anteriores. Ir a um espectáculo envolve toda uma componente de encontro que digitalmente não se consegue alcançar.

Este novo paradigma pode levar novos públicos aos espectáculos físicos quando tudo isto passar?
A oportunidade que os cidadãos tiveram, no conforto de suas casas, de ter contacto com diferentes artistas e expressões artísticas, pode contribuir para a vontade de, no futuro, quererem assistir presencialmente a projectos que desconheciam até então.
As salas podem não esgotar sempre, mas há público. Como desafiar mais gente para assistir a espectáculos culturais?
Neste momento, consciencializando os espectadores de que a cultura é segura, fazendo com que retomem os hábitos culturais adquiridos e conquistando novos hábitos e públicos com projectos que proporcionem o encontro dos cidadãos com a cultura.

O que é que deseja para a área da Cultura nacional e do concelho?
Que todos os dias continuemos a levar a cabo projectos que desenvolvam o tecido artístico e cultural que, como sabemos, pode contribuir com grande expressão para alavancar a retoma das comunidades. Uma simples ida ao teatro, pode ter grande relevância para uma cidade. Estimulado, cada espectador pode contribuir para o desenvolvimento de outros sectores essenciais como o comércio local, a restauração, a hotelaria e o turismo.

O movimento associativo cultural tem futuro? Que papel podem os jovens desempenhar nesse futuro?
Certamente. Os jovens de hoje, que se tornarão em alguns casos referências artísticas no futuro, têm no associativismo cultural espaço para se descobrirem, revelarem e começarem a experimentar e pôr em prática projectos artísticos. Contudo, o movimento associativo tem que conseguir seduzir os jovens para a participação cultural, fazendo com que se afastem, por momentos, das rotinas que têm vindo a tornar-se habituais, nomeadamente o estar com os outros maioritariamente por via digital, incentivando-os ao encontro físico em actividades e projectos culturais.

Neste momento, quais são os grandes desafios que se colocam pela frente?
Apaixonar espectadores, dia a dia, conquistando a sua confiança nas propostas artísticas apresentadas, fazendo com que o espaço e tempo que a cultura tem na nossa comunidade, saia cada vez mais fortalecido e ampliado.

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