As universidades destinadas à terceira idade quase triplicaram e o número de alunos aumentou 113% numa década. Agora, esta tendência de crescimento foi travada pela pandemia de Covid-19.

Por receio de contágio entre alunos de risco, somado a dificuldades financeiras, 92 instituições não abriram este ano. As que tiveram condições para iniciar, perderam aulas e metade dos estudantes.

Nesta luta para sobreviver ao SARS-CoV-2, a Universidade da Terceira Idade de Santarém migrou para as plataformas digitais e tenta meter-se viva e activa.

No início, os professores gravavam e transmitiam as aulas no Facebook. Agora, é através do popular Zoom que os 134 alunos acedem às 32 disciplinas que fazem parte do plano curricular da UTIS. “Nunca me passaria pela cabeça que pessoas com 70 ou 80 anos assistissem às aulas a partir de casa, neste formato”, declara Vítor Barreto, coordenador do Conselho Científico-Pedagógico da instituição que, em tempos de pandemia adaptou toda a sua oferta curricular para o ensino à distância.

Neste momento, 134 alunos têm acesso a 32 disciplinas, que incluem, até, dança e percussão. A ideia é apostar neste formato, com o lançamento de e-books, exposições virtuais e outras actividades.

Quando todas as escolas do país encerraram, a 16 de Março último, das creches ao ensino superior, não foram só os mais novos que ficaram impedidos de ir às aulas.

Mais de 300 universidades da terceira idade também tiveram de fechar portas, deixando mais de 55 mil inscritos privados daquele que era, para muitos, o único local de convívio e companhia que tinham ao longo do dia.

Na UTIS – Universidade da Terceira Idade de Santarém, a realidade vivida foi semelhante: “foi complicado”, começa por dizer Vítor Barreto, coordenador do Conselho Científico-Pedagógico da instituição.

“As pessoas, na altura, perceberam que era necessário fechar, até porque estão na designada ‘população de risco’, para a doença Covid-19. Temos uma média de idades acima dos 70 anos… não foi fácil dizer às pessoas que íamos fechar tudo”, recordou.

Apesar disso, o objectivo foi sempre “manter algum contacto” entre alunos e professores e, nesse sentido, a forma encontrada foi a utilização da internet para esse fim.

“Com o ano terminado, tentamos fazer vídeos de formação, inicialmente para professores e, depois, tentámos contactar com os alunos para ver da sua disponibilidade para mantemos as aulas exclusivamente neste regime, à distância”, continuou.

O interesse manifestado, quer por docentes, quer por alunos, deu força à UTIS para seguir este modelo: “não iniciámos o regime de aulas presenciais neste ano por temer a possibilidade de um surto aqui na UTIS e contactámos todos os alunos de forma a perceber as possibilidades de avançar este ano exclusivamente on-line. Elaborámos, então, um projecto, designado UTIS.20, que foi apresentado aos parceiros. Eles aceitaram e avançámos”, acrescenta Vítor Barreto.

O projecto consiste exclusivamente em aulas online: são 32 disciplinas, ministradas por outros tantos docentes, em 35 tempos semanais.
“Adquirimos a licença da plataforma Zoom, criámos um novo site, abrimos inscrições, e as pessoas aderiram”, revela o responsável, dizendo que se trata de um “grande desafio” migrar todo o conteúdo lectivo, adaptado a uma população com parcas competências digitais, para um ambiente “totalmente novo”.

O sucesso deste modelo vai permitir, em breve, a realização de outras actividades, como o lançamento de um livro – que estava quase totalmente preparado no ano passado para ser publicado em papel, e que agora será lançado e disponibilizado on-line, em formato de e-book.

Segundo revela Vítor Barreto, trata-se de uma obra construída exclusivamente com textos dos alunos da UTIS e que será a estreia literária de muitos deles. Para além disso, a turma de Jornalismo vai continuar a editar o jornal – que já existia antes em formato de papel – e que, agora, também terá uma edição online. Outro dos projectos na calha será a realização de exposições com trabalhos dos alunos.

“Claro que falta aqui a componente da proximidade. Mas temos que pensar nos pontos positivos: alguns alunos já nos tinham dito que este ano não poderiam vir à UTIS, mesmo que fosse presencial, e até agradeceram nos termos lançado on-line porque, assim, podem assistir às aulas”, diz o responsável, acrescentando que, em termos de matrículas, os alunos, em regime presencial, podiam frequentar cinco disciplinas e, agora, podem frequentar todas.

Na opinião do responsável da UTIS, quando esta crise pandémica passar, novos hábitos estarão consolidados: “há coisas que não vão voltar atrás”, vaticina, acrescentando: “claro que pretendemos ter aulas presenciais, mas o on-line vai persistir. Vai facilitar a ligação entre as pessoas”.

“Este movimento, das Universidades Seniores, a nível nacional, é muito importante e espero que as entidades publicas não se esqueçam deste de nós porque já é uma percentagem elevada da população que está a aderir. A UTIS, para crescer, não precisa de mais salas, mas precisa de melhores condições e, provavelmente, de investimentos ao nível informático atendendo a estas novas dinâmicas”, conclui.

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